Covid-19: Hidroxicloroquina em doentes pode causar morte súbita, diz estudo
Resumo da notícia
- Estudo indica que pacientes com covid-19 tratados com hidroxicloroquina e azitromicina apresentaram "anormalidades no eletrocardiograma"
- A principal anormalidade foi o "prolongamento do intervalo QTc"
- "Um intervalo QTc prolongado coloca o paciente em risco de arritmia e morte cardíaca súbita", diz cardiologista da Universidade de Nova York
- Os autores concluem pedindo aos médicos que "monitorem constantemente" quem for tratado com hidroxicloroquina e azitromicina
Um estudo publicado ontem na revista especializada Nature Medicine indica que pacientes com covid-19 tratados com hidroxicloroquina e azitromicina apresentaram "anormalidades no eletrocardiograma" que indicam risco de "morte cardíaca súbita".
Embora ainda sem evidência científica comprovada em pacientes com novo coronavírus, a hidroxicloroquina e a cloroquina (uma versão mais concentrada) são defendidas pelos presidentes Jair Bolsonaro (sem partido) e Donald Trump (EUA) como tratamento eficaz contra a doença.
O novo estudo americano, no entanto, indica o contrário. O cardiologista Lior Jankelson, da Escola de Medicina da Universidade de Nova York, e outros 12 pesquisadores avaliaram o uso desses medicamentos em 84 pacientes de um centro médico de Nova York.
De acordo com os pesquisadores, o estudo tentou confirmar ou descartar as conclusões de "relatórios recentes" que sugerem que a combinação de hidroxicloroquina (usado contra a malária) e azitromicina (um antibiótico) pode ajudar pacientes infectados com o novo coronavírus.
"No entanto, ambos os medicamentos demonstraram aumentar de forma independente o risco de vários tipos de anormalidades do ritmo cardíaco", aponta o estudo.
A principal anormalidade foi o "prolongamento do intervalo QTc". Medido por um eletrocardiograma, o intervalo QTc representa o tempo que leva para o coração recarregar entre os batimentos.
Um intervalo QTc prolongado coloca o paciente em risco de arritmia e morte cardíaca súbita
Lior Jankelson e colegas da Universidade de Nova York
"Alto risco de morte cardíaca súbita"
Os 84 pacientes tinham, em média, 63 anos de idade e 74% eram do sexo masculino. Jankelson acompanhou o eletrocardiograma desses doentes, que por cinco dias receberam hidroxicloroquina e azitromicina por via oral.
Após a administração dos fármacos, os autores observaram um QTc prolongado na maioria dos pacientes, "o que os colocou em alto risco de arritmia e morte cardíaca súbita", afirma o estudo.
Os cientistas ponderam que o efeito pode ter sido exacerbado por outras condições preexistentes e pela gravidade da infecção por Sars-CoV-2, o nome oficial do novo coronavírus.
Os autores concluem pedindo aos médicos que "monitorem constantemente" quem for tratado com hidroxicloroquina e azitromicina, principalmente se os pacientes cuidarem de doenças adicionais.
Terceiro estudo na mesma semana
Na quinta-feira (23), um estudo bancado pelo governo de Nova York concluiu que o uso de hidroxicloroquina em pacientes de 22 hospitais não funcionou em casos graves.
Aqueles que tomaram hidroxicloroquina, com ou sem o antibiótico azitromicina, não tiveram mais chances de sobreviver às infecções do que aqueles que não usaram a hidroxicloroquina, segundo David Holtgrave, reitor da Universidade da Escola de Saúde Pública de Albany, responsável pela pesquisa.
"Não vemos diferença significativa entre os pacientes que tomaram os medicamentos e os que não tomaram", acrescentou o governador do estado, Andrew Cuomo.
Outra pesquisa divulgada nessa semana revelou que militares americanos que tomaram hidroxicloroquina contra covid-19 tiveram alta taxa de letalidade. Os índices no grupo que tomou apenas a hidroxicloroquina foram de 28%, em comparação aos 22% tratados com a droga combinada com o antibiótico azitromicina.
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