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Covid-19: Hidroxicloroquina em doentes pode causar morte súbita, diz estudo

A hidroxicloroquina e a cloroquina (uma versão mais concentrada) são defendidas pelos presidentes Jair Bolsonaro - John Phillips/Getty Images
A hidroxicloroquina e a cloroquina (uma versão mais concentrada) são defendidas pelos presidentes Jair Bolsonaro Imagem: John Phillips/Getty Images

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

25/04/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Estudo indica que pacientes com covid-19 tratados com hidroxicloroquina e azitromicina apresentaram "anormalidades no eletrocardiograma"
  • A principal anormalidade foi o "prolongamento do intervalo QTc"
  • "Um intervalo QTc prolongado coloca o paciente em risco de arritmia e morte cardíaca súbita", diz cardiologista da Universidade de Nova York
  • Os autores concluem pedindo aos médicos que "monitorem constantemente" quem for tratado com hidroxicloroquina e azitromicina

Um estudo publicado ontem na revista especializada Nature Medicine indica que pacientes com covid-19 tratados com hidroxicloroquina e azitromicina apresentaram "anormalidades no eletrocardiograma" que indicam risco de "morte cardíaca súbita".

Embora ainda sem evidência científica comprovada em pacientes com novo coronavírus, a hidroxicloroquina e a cloroquina (uma versão mais concentrada) são defendidas pelos presidentes Jair Bolsonaro (sem partido) e Donald Trump (EUA) como tratamento eficaz contra a doença.

O novo estudo americano, no entanto, indica o contrário. O cardiologista Lior Jankelson, da Escola de Medicina da Universidade de Nova York, e outros 12 pesquisadores avaliaram o uso desses medicamentos em 84 pacientes de um centro médico de Nova York.

De acordo com os pesquisadores, o estudo tentou confirmar ou descartar as conclusões de "relatórios recentes" que sugerem que a combinação de hidroxicloroquina (usado contra a malária) e azitromicina (um antibiótico) pode ajudar pacientes infectados com o novo coronavírus.

"No entanto, ambos os medicamentos demonstraram aumentar de forma independente o risco de vários tipos de anormalidades do ritmo cardíaco", aponta o estudo.

A principal anormalidade foi o "prolongamento do intervalo QTc". Medido por um eletrocardiograma, o intervalo QTc representa o tempo que leva para o coração recarregar entre os batimentos.

Um intervalo QTc prolongado coloca o paciente em risco de arritmia e morte cardíaca súbita
Lior Jankelson e colegas da Universidade de Nova York

"Alto risco de morte cardíaca súbita"

Os 84 pacientes tinham, em média, 63 anos de idade e 74% eram do sexo masculino. Jankelson acompanhou o eletrocardiograma desses doentes, que por cinco dias receberam hidroxicloroquina e azitromicina por via oral.

Após a administração dos fármacos, os autores observaram um QTc prolongado na maioria dos pacientes, "o que os colocou em alto risco de arritmia e morte cardíaca súbita", afirma o estudo.

Os cientistas ponderam que o efeito pode ter sido exacerbado por outras condições preexistentes e pela gravidade da infecção por Sars-CoV-2, o nome oficial do novo coronavírus.

Os autores concluem pedindo aos médicos que "monitorem constantemente" quem for tratado com hidroxicloroquina e azitromicina, principalmente se os pacientes cuidarem de doenças adicionais.

Terceiro estudo na mesma semana

Na quinta-feira (23), um estudo bancado pelo governo de Nova York concluiu que o uso de hidroxicloroquina em pacientes de 22 hospitais não funcionou em casos graves.

Aqueles que tomaram hidroxicloroquina, com ou sem o antibiótico azitromicina, não tiveram mais chances de sobreviver às infecções do que aqueles que não usaram a hidroxicloroquina, segundo David Holtgrave, reitor da Universidade da Escola de Saúde Pública de Albany, responsável pela pesquisa.

"Não vemos diferença significativa entre os pacientes que tomaram os medicamentos e os que não tomaram", acrescentou o governador do estado, Andrew Cuomo.

Outra pesquisa divulgada nessa semana revelou que militares americanos que tomaram hidroxicloroquina contra covid-19 tiveram alta taxa de letalidade. Os índices no grupo que tomou apenas a hidroxicloroquina foram de 28%, em comparação aos 22% tratados com a droga combinada com o antibiótico azitromicina.

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AFP