Saúde privada teme colapso em São Luís e pede ao governo 'ações enérgicas'
Resumo da notícia
- Entidade que representa hospitais privados diz que rede se aproxima do colapso
- Ela responsabiliza o caos à baixa adesão da população à quarentena
- Em São Luís, os leitos públicos também estão praticamente lotados
Após o colapso da saúde pública em São Luís, a rede privada da capital do Maranhão também afirma que está próximo de esgotar sua capacidade de atender doentes infectados pelo novo coronavírus. Em ofício a que o UOL teve acesso, entidade que representa os hospitais particulares pede ao governo do estado "medidas preventivas mais enérgicas".
Após 3.190 casos confirmados e 184 mortos por covid-19 em todo estado, 80% dos 149 leitos públicos de UTI e 58% dos 337 de enfermaria da capital estão ocupados.
Agora é a vez de a iniciativa privada pedir ajuda ao governo estadual. Um ofício encaminhado ao governador Flávio Dino (PCdoB) pela Sindhosp (Sindicato dos Estabelecimentos Prestadores de Serviços de Saúde de São Luís) afirma "que os números atuais ultrapassam a capacidade de atendimento da rede de saúde privada".
O ofício, assinado pelo presidente da entidade, Pedro Wanderley de Aragão, elogia as medidas de controle adotadas pelo governo estadual, mas afirma que a situação não está controlada.
"Verificamos ainda uma baixa adesão da população em geral às medidas preventivas de orientação à permanência em casa, o que vem contribuindo sobremaneira para o atual número de pessoas que tem adoecido e buscado a rede de saúde".
"Por isso, nos encontramos na iminência de colapso de atendimento nas redes de saúde."
O ofício conclui pedindo "medidas preventivas mais enérgicas" para "desafogar" o atendimento da população "em respeito à vida humana".
"Lockdown"
Quase sem vagas, o governo do estado vai publicar um decreto na próxima semana para endurecer as regras de isolamento social, "próximo ao lockdown" — que é o fechamento total e a proibição de circulação de pessoas.
"Estamos analisando a forma e a graduação de atuação para publicar. A previsão é que na terça-feira eu edite esse novo decreto para a capital; para o resto do estado não é necessário", afirmou o governador Flávio Dino (PCdoB).
Lockdow para Manaus, Fortaleza e Rio
Para Mario Scheffer, professor de Saúde Pública da USP, o lockdown deve ser cogitado não apenas por São Luís, mas também por Manaus, Fortaleza e Rio de Janeiro, cidades em que os leitos de UTI estão praticamente lotados.
"É o caminho oposto do relaxamento proposto pelo governo federal. Essa é uma estratégia extrema e só deve ser adotada em situação de colapso de hospitais públicos e privados e aceleração de casos e óbitos", diz.
Ele explica que o lockdown busca paralisar o máximo de atividades de um município, como aconteceu em algumas cidades na Índia, Itália, Argentina e Espanha. "Até as entradas dos municípios são bloqueados."
Onde o lockdown foi decretado, a curva de infecções reduziu e deu tempo para o sistema de saúde se reorganizar.
Mario Scheffer, professor de Saúde Pública da USP
O tempo para a quarentena extrema dependeria do decreto de cada prefeito ou governador.
Ajuda financeira
O professor pondera que "o mais importante" em caso de lockdown é a necessidade de "medidas de proteção social". "Ou a paralisação vai penalizar ainda mais os pobres, trabalhadores informais, as periferias, com dificuldade extrema de aderir à quarentena."
O dinheiro precisaria ser desembolsado também pelo governo federal "ou mesmo por ajuda externa".
O especialista em saúde pública recomenda ainda a estatização temporária dos leitos privados porque "uma fila única de leitos" pode reorganizar o sistema de saúde das capitais.
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