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Bolsonaro vai discutir ampliação do uso da cloroquina com Teich

Do UOL, em São Paulo

13/05/2020 09h04

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse hoje que vai discutir a ampliação do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina em pacientes com covid-19 com o ministro da Saúde, Nelson Teich. Mesmo dizendo que a eficácia ainda não foi comprovada, ele afirmou que o uso do medicamento contra o novo coronavírus tem que ser pensado de forma emergencial.

Alegando que existem médicos com o entendimento de que o uso da cloroquina é adequado, Bolsonaro citou que ela deveria ser usada desde o início do tratamento, especificamente em grupos de risco.

"Não é minha opinião porque não sou médico, mas muitos médicos do Brasil e de outros países entendem que a cloroquina pode e deve ser usada desde o início mesmo sabendo que não há uma comprovação científica de sua eficácia. Mas como estamos em uma emergência, sempre foi usada desde 1955, e agora (combinada) com a azitromicina pode ser um alento para essa quantidade de óbitos que estamos tendo no Brasil", disse.

"Vai ser discutido hoje com o ministro. O meu entendimento, ouvindo médicos, é que ela deve ser usada desde o início para quem está no grupo de risco, pessoas com comorbidades, com idade...", completou.

Cloroquina na família

Bolsonaro ainda disse que, se fosse preciso, pediria para médicos receitarem cloroquina caso a mãe contraísse covid-19. "Se fosse minha mãe, com 93 anos, eu vou atrás dela, pego o médico... claro que não vou forçar, mas tem muitos que concordam com esse tipo de medicamento e ela usaria. Enquanto não tiver medicamento comprovado no mundo, temos esse no Brasil que pode dar certo ou não, mas como não pode esperar quatro ou cinco dias, é melhor usar ", disse.

O presidente ainda disse que, se fosse acometido, também gostaria de fazer uso do medicamento. "Se eu for acometido eu tomo a cloroquina e ponto final. Eu que decido minha vida. Tenho certeza que não vai faltar médico que vai receitar para mim a cloroquina", disse.

Alinhamento no governo

Bolsonaro ainda voltou a falar que gosta que seus ministros estejam alinhados e que é preciso agir no caso da cloroquina para não haver arrependimento posterior.

"Todos têm que estar afinados. Quando eu converso com os ministros, eu quero eficácia na ponta da linha. Nesse caso, não é gostar ou não do ministro Teich, tá? É o que está acontecendo. Nós estamos tendo aí centenas de mortes por dia. Se existe uma possibilidade de diminuir esse número com a cloroquina, por que não usá-la?. A gente não pode é daqui a dois anos falar 'ah, se tivesse usado a cloroquina lá atrás, teríamos salvo milhares de pessoas'. Só isso", disse.

As palavras de Bolsonaro vêm um dia depois de Teich pedir cautela com o uso da cloroquina. Em uma série de tuítes, o ministro alertou que a cloroquina é um medicamento com efeitos colaterais e que qualquer prescrição deve ser feita com base em avaliação médica.

Teich afirmou que o Ministério da Saúde acompanha pesquisas nacionais e internacionais sobre o tratamento do coronavírus. Além da cloroquina, há estudos que avaliam a eficácia de mais de dez medicamentos em pacientes com covid-19, disse o ministro.

"Queremos também nos preparar para a possível descoberta de uma vacina contra a doença. Estamos em constante conversa com pesquisadores e laboratórios para garantir a oferta desta proteção para os brasileiros", escreveu no Twitter.

Eficácia não foi comprovada

Pesquisadores brasileiros trabalham hoje em várias frentes de estudo sobre a cloroquina e a hidroxicloroquina, moléculas que podem ter eficácia no combate ao coronavírus, segundo informações preliminares. Ainda não há, no entanto, nenhum resultado conclusivo. O uso ou não de medicamentos com essas substâncias depende de prescrição médica e do consentimento do paciente, conforme orientações do Conselho Federal de Medicina.

De acordo com o levantamento mais recente, o Brasil tem 12.461 mortes provocadas pelo novo coronavírus, registradas em mais de mil cidades no país. São 178,2 mil infectados ao todo.

Ataque a David Uip

Bolsonaro ainda voltou a atacar o infectologista David Uip, que comandou o centro de contingência do coronavírus em São Paulo. O médico se curou da covid-19, mas alegou questões éticas para não divulgar se fez uso de cloroquina. O presidente questionou o caráter do infectologista.

"Até alguns que adotavam isso, como o senhor David Uip, mesmo com todos os cuidados, pegou o vírus. Olha o caráter dele...não diz o que ele usou para se curar. Esse é o caráter do cara que está do lado do Doria (governador de São Paulo). Um cara que fez o juramento de salvar a vida dos outros se nega a mostrar o que ele tomou para não morrer. Já o doutor Kalil, um homem honrado, falou que usou a cloroquina", disse, citando outro médico renomado que teve a doença e confirmou o uso do medicamento, o cardiologista Roberto Kalil Filho.

David Uip se afastou, alegando problemas médicos, do centro de contingência paulista na última semana. Em declaração à CNN Brasil, ele disse que não iria se manifestar sobre o ataque de Bolsonaro. Em abril, quando enfrentou a mesma crítica, ele explicou a sua postura.

"Fiquei no limite entre ser internado ou não. Daí, vem a polêmica: como você foi tratado? Em hipótese alguma, eticamente, eu posso falar. Seja lá qual for a minha resposta, causa um grande dano para a sociedade. É que, qualquer coisa que eu fale neste momento, cria uma ida ou não ida que ninguém controla. Esse sigilo que eu me impus e impus que as pessoas respeitassem é para proteção da sociedade. Se eu falo que tomei um determinado medicamento, seja lá qual for, vai haver uma corrida às farmácias porque eu estou vivo. Se eu falo que não tomei, eu desacredito as pessoas que acreditam. Sigilo não foi falta de transparência, foi preservação da sociedade", disse.

Enem pode atrasar

Bolsonaro ainda disse hoje que a aplicação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) pode ser atrasada caso haja necessidade, mas deve ser feita ainda este ano. As provas estão marcadas para novembro deste ano, mas há questionamentos de partidos de oposição e de pessoas ligadas à educação quanto aos prejuízos aos estudantes por causa da pandemia.

"Se for o caso atrasa um pouco, mas tem que ser aplicado esse ano", disse Bolsonaro em entrevista coletiva na portaria do Palácio Alvorada nesta manhã.

"Vão cair do cavalo"

O presidente ainda se manifestou hoje de manhã mais uma vez sobre o vídeo da reunião ministerial, ocasião na qual teria tentado interferir na Polícia Federal, segundo acusação do ex-ministro Sergio Moro.

"Vão cair do cavalo sobre o vídeo. Eu não falo polícia federal, não existe a palavra federal em todo o vídeo", alegou o presidente. "Não existe a palavra superintendência. Não existe a palavra investigação sobre filhos", continuou.

"O povo tem que voltar a trabalhar"

Jair Bolsonaro ainda voltou a criticar o isolamento social como forma de controle à disseminação do vírus. Ele afirmou que devem ficar em casa no período as pessoas que não quiserem trabalhar. "O povo tem que voltar a trabalhar. E quem não quiser trabalhar, que fique em casa. Ponto final", disse.

"No meu entender, desde o começo, deveria ser o (isolamento) vertical, cuidar das pessoas do grupo de risco e botar o povo pra trabalhar (...). No Brasil, no meu entender, o movimento errado é se preocupar apenas com a questão do vírus, tem o desemprego do lado. A esquerda tá quietinha. O povo precisa trabalhar", completou o presidente."Ficar em casa pra quem pode, legal, mas quem não tem condições, isso é desumano. O cara tem que trabalhar".