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Superlotado, hospital do RJ tem acúmulo de corpos sem refrigeração, diz MPT

15.abr.2020 - Profissionais de saúde carregam maca em frente ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Rio de Janeiro - Marcos Vidal/Futura Press/Estadão Conteúdo
15.abr.2020 - Profissionais de saúde carregam maca em frente ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Rio de Janeiro Imagem: Marcos Vidal/Futura Press/Estadão Conteúdo

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

16/05/2020 04h00

Resumo da notícia

  • MPT-RJ denuncia taxa de letalidade de 30% em pacientes com covid
  • Justiça obriga prefeitura a adquirir contêineres para necrotério
  • Segundo denúncia, maqueiros fazem refeições perto dos cadáveres
  • Cremerj contabilizou 87 pacientes em ala destinada para 14 pessoas
  • Prefeitura do Rio disse que irá seguir as determinações da Justiça

Uma ação civil pública movida pelo MPT-RJ (Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro) afirma que o Hospital Municipal Salgado Filho, na zona norte carioca, tem acúmulo de corpos em contêineres sem refrigeração adequada. Os profissionais de saúde da unidade ainda lidam com a superlotação, ar condicionado sem filtro e taxa de letalidade de 30% entre os 224 pacientes levados para a ala destinada ao tratamento de covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.

A Justiça do Rio determinou ontem uma série de medidas que deverão ser adotadas pela prefeitura da capital fluminense nos próximos dias, para minimizar a proliferação do vírus. O poder público já foi notificado para fazer adequações nos hospitais Souza Aguiar e Lourenço Jorge, onde foram constatadas a morte de um paciente em um plantão sem médico e uma fila de corpos em um corredor.

Relatório feito na semana passada pelo Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro), que faz parte da denúncia apresentada pelo MPT-RJ, contabilizou a presença de 87 pacientes na área destinada ao tratamento da covid-19 projetada para receber até 14 pessoas infectadas.

Ainda de acordo com a fiscalização do Cremerj, estão disponíveis apenas oito das 12 gavetas disponíveis para armazenamento individual e refrigerado de corpos no necrotério do hospital. O Conselho também constatou a presença de 11 cadáveres em uma sala fora da unidade de refrigeração — o mais antigo deles ficou por dois dias no local, de forma inadequada.

"Despreparo da unidade", diz procuradora

Em uma vistoria feita em março, ainda no começo da pandemia, os fiscais do Cremerj constataram a presença de um paciente com sintomas compatíveis aos da covid-19, com ventilação mecânica em uma área com 12 leitos, separados apenas por uma cortina.

Há um absoluto despreparo da unidade, que está sendo obrigada a improvisar para receber pacientes com covid-19. Faltam profissionais de saúde, que não receberam a capacitação adequada. E há um acúmulo de corpos na unidade, guardados sem a devida refrigeração. Como consequência, o hospital se torna um grande vetor de contaminação da doença, contaminando pacientes que entram ali por outros motivos."
Samira Torres Shaat, procuradora do MPT-RJ

De acordo com a liminar assinada ontem pela juíza Daniela Valle da Rocha Muller, a prefeitura do Rio de Janeiro é obrigada a comprovar a instalação de novos contêineres no Hospital Salgado Filho em até cinco dias. A Justiça do Trabalho também determina que o poder público adquira o filtro bacteriológico para o ar condicionado na ala destinada a pacientes com covid-19, minimizando os riscos de proliferação do novo coronavírus na unidade.

Maqueiros fazem refeição perto de necrotério

A Justiça obriga o município a providenciar um local adequado para a refeição dos maqueiros e trabalhadores do setor administrativo. Eles costumam se alimentar em um refeitório perto do local onde estão acomodados os cadáveres sem a refrigeração adequada.

A prefeitura do Rio também será obrigada a providenciar testagem para covid-19 para todos os trabalhadores em atividade no hospital e a oferecer máscara cirúrgica descartável em número adequado para o contato com pacientes infectados pelo vírus e EPIs (equipamentos de proteção individual).

Desfalque por plantões em hospital de campanha

A determinação judicial dá um prazo de até dez dias para outras medidas, como oferecer treinamento para os profissionais de saúde na linha de frente do combate à covid-19, isolar os leitos dedicados aos infectados e atualizar as escalas de plantões.

De acordo com a denúncia, a resolução nº 4.389 da Secretaria Municipal de Saúde, publicada na quarta-feira (13) no Diário Oficial, determina que os profissionais de saúde do Salgado Filho cumpram plantão de 12 horas no Hospital de Campanha do Riocentro, na zona oeste do Rio, sem reposição do quadro.

O MPT-RJ ainda colheu o depoimento de três profissionais de enfermagem. Uma delas disse que não havia médico em um plantão na ala destinada a pacientes com covid-19. As profissionais ainda denunciaram o fornecimento, em alas para doentes com covid-19, de máscaras comuns, insuficientes para minimizar os riscos de contágio, e de face shield para uso coletivo, o que não é permitido.

O que diz a Prefeitura do Rio

Procurada pelo UOL, a Secretaria Municipal de Saúde disse que a direção do Hospital Salgado Filho atenderá as recomendações feitas pela Justiça.

"A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) prioriza a segurança dos seus profissionais e tem feito regular aquisição e distribuição de EPIs para seus profissionais de saúde", disse a pasta, em nota.

Segundo a Prefeitura do Rio, foram distribuídas 30 mil máscaras cirúrgicas no hospital na quinta-feira (14).