Teich diz que teme 'guerra de números' e critica liderança 'fraca' da pasta
O ex-ministro da Saúde Nelson Teich disse hoje, à CNN, que teme que uma "guerra de números" depois que o governo Bolsonaro decidiu reduzir a divulgação de dados sobre a pandemia de coronavírus.
Ele criticou também o que chamou de "enfraquecimento da posição de liderança" da pasta, que desde de sua demissão, há quase um mês, não tem um novo chefe e é administrada por um interino, o general Eduardo Pazuello.
"Minha preocupação é que, numa situação onde se vê conflito, comece a ter uma guerra de números, mais uma situação polêmica, mais uma situação polarizada. E isso é muito ruim", disse.
Ele continuou: "Vejo que o ministério pode ter enfraquecido sua posição de liderança. Quando comecei no governo, uma das coisas que coloquei é que a gente tem que criar um grande programa de informação. Uma das grandes dificuldades de se adaptar numa pandemia dessas é a informação".
O ex-ministro esclareceu não acreditar que o Ministério perdeu a liderança, mas que a pasta enfraqueceu sua posição por não ter um ministro nomeado pelo presidente.
Ter um interino para mim é uma coisa ruim porque, de certa forma, enfraquece a posição do ministro. Ter uma posição oficial de Ministro me parece que seria melhor", falou. "Quanto mais tempo fica sem ministro, pior."
Teich acredita que a decisão do governo em dificultar informações sobre a covid-19 terá que ser revista e que, "se o governo não consolidar [os dados], alguém vai consolidar". "A informação vai chegar", afirmou.
O ex-ministro defendeu que a transparência dos números é essencial para que o governo defina seus próximos passos em relação à pandemia do coronavírus. Ele afirmou, ainda, que nunca sofreu pressão do Planalto a respeito da divulgação dos dados: "Minha única preocupação é que os números fossem corretos".
Saída do Ministério
Nelson Teich voltou a dizer que o excesso de polarização política foi o principal fator que o tirou do Ministério da Saúde, em maio, um mês depois de sua nomeação.
"Naquele momento a cloroquina poderia estar em discussão, mas foi uma forma diferente de condução. O presidente é o eleito, se existia uma forma diferente de conduzir, quem tinha que sair era eu", lembra. Uma trégua é o que eu enxergo que deveria acontecer. Os interesses individuais não se colocarem acima da saúde."
Teich disse que "jamais" sairia frustrado do Ministério e que não é mais a mesma pessoa depois de assumir e deixar o cargo: "Jamais me arrependerei, só agradeço a oportunidade de poder ter vivido esse momento".
O ex-ministro destaca a importância de conduzir a Saúde olhando também para a economia e para questões sociais.
"O que acontece em situação assim? A covid-19 realça as fragilidades do sistema, e uma delas é a informação. É com essa visão do todo que se lidera um Ministério, um país", afirmou.
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