Com mais de 645 mil casos e 35 mil mortes, Brasil reduz divulgação de dados
Os dados atualizados do Ministério da Saúde apontam hoje que o país alcançou a marca de 35.026 mortes em decorrência do coronavírus, com 1.005 óbitos confirmados nas últimas 24 horas.
O registro mais recente do governo federal indica uma queda nas confirmações diárias de mortes. Ontem, o país teve 1.473, alta recorde no período pelo terceiro dia consecutivo. Com a inclusão de 30.830 novos diagnósticos, o país ainda contabiliza no total 645.771 casos em todo o seu território.
Bolsonaro antecipou mudança
O Ministério da Saúde introduziu hoje nova mudança no método de divulgação do balanço da pandemia no país: não só eles são apresentados mais tarde, como deixaram de trazer a soma total de casos e mortes por estado e nacional.
O novo formato de divulgação dos dados parece atender a ordem do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). No início da noite, disse a jornalistas:
"É para pegar o dado mais consolidado. E tem que divulgar os mortos no dia. Ontem, por exemplo, dois terços dos mortos eram de dias anteriores. Tem que divulgar o do dia."
O presidente também defendeu que a pasta divulgue no final da noite os dados sobre a pandemia no país como forma de atacar a Rede Globo. "Acabou matéria no Jornal Nacional", disse.
Medidas indignam especialistas
Há dois dias, médicos e pesquisadores já haviam denunciado ao UOL o impacto negativo da escassez de atualizações. Paulo Lotufo, epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da USP, havia acusado as intenções hoje explicitadas pelo presidente. Para ele, a mudança na divulgação visa conter a repercussão negativa que grandes aumentos nos números têm na cobertura da imprensa.
"Estão tirando para não sair no jornal. É de certa forma uma censura. Eles tentam segurar ao máximo. A saída para isso é basear [o noticiário] direto nos dados das secretarias."
Hoje, o infectologista voltou a comentar a nova redução nos dados disponibilizados. "São pessoas totalmente despreparadas, as que estão lá no Ministério. Ninguém tem a mínima noção. E o que eles estão fazendo lá é justamente para dificultar a divulgação, tentar impedir as notícias ruins. Os generais acham que a febre do paciente passa se quebrar o termômetro."
Já receosos com os recorrentes atrasos que passaram a ocorrer nos últimos dias para o envio de boletim, especialistas têm criticado o que antecipam ser um "apagão de dados".
"Sem transparência não há como haver o adequado engajamento da sociedade, incluindo a mobilização da população para a adoção de medidas preventivas. Também prejudica as análises independentes realizadas por cientistas e entidades que buscam contribuir com o enfrentamento da pandemia dando suporte à tomada de decisão", afirmou ao UOL hoje Fernando Spilki, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia.
A pandemia nos estados
Mais uma vez São Paulo foi o estado que mais registrou novas mortes (282), seguido por Rio de Janeiro (146) e Pará (122). Ainda assim, a região Nordeste é a que registra a maior aceleração proporcional de óbitos de covid-19: nos últimos sete dias houve 30% de aumento até chegar hoje a 10.819 — no Sudeste, que teve 24% de aumento no período, são 16.439.
Alagoas registrou sua maior alta no número de mortes pelo terceiro dia seguido (26 nas últimas 24 horas). Minas Gerais (21), Rondônia (19) e Paraná (12) o fizeram pelo segundo dia consecutivo.
Quanto aos casos, sete estados registraram recordes hoje: Bahia (2.956), Maranhão (2.684), Distrito Federal (1,285), Espírito Santo (1.215), Piauí (653), Paraná (528), Roraima (348). Pelo segundo dia seguido o Brasil adicionou ao menos 30 mil novos diagnósticos nas estatísticas oficiais.
A exemplo da situação das mortes, a região Nordeste também apresenta aceleração de registro de casos: foram mais de 11 mil hoje, o que dobrou os diagnósticos em duas semanas e fez o total chegar a 227.088. A única região com mais casos oficiais é o Sudeste, com cerca de 2,6 mil a mais (229.735, exatamente).
Entenda como é feita a contagem da Saúde
A confirmação de óbitos e diagnósticos apresentada pelo governo entre um dia e outro não necessariamente ocorreu nas últimas 24 horas.
O Ministério da Saúde explica que a fila de testes provoca atrasos nos registros feitos pelas secretarias. Com isso, muitas das ocorrências podem ser de outras datas.
O UOL já identificou atrasos de mais de 50 dias para a oficialização de mortes.
*Colaborou Carlos Madeiro, de Maceió
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