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Mandetta: Se eu estivesse na Saúde, não teria necessidade de maquiar número

Do UOL, em São Paulo

15/06/2020 17h03

Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, fez duras críticas hoje à situação atual da pasta e ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na condução do combate ao novo coronavírus. Em especial às mudanças de diretrizes na divulgação dos dados da pandemia no Brasil desde a chegada de Eduardo Pazuello interinamente ao ministério.

Em participação hoje no programa UOL Entrevista, conduzido pelo colunista Tales Faria, Mandetta falou sobre a preocupação de Bolsonaro em apontar inimigos políticos frente ao aumento no número de casos.

"O presidente, como toda pessoa que faz política, está tentando achar culpado. O primeiro que ele tentou foi a China, aí falaram para deixar para lá, falaram para ele parar de falar. Aí ele virou o canhãozinho e falou que ia bater na OMS (Organização Mundial da Saúde), ia sair, xingar. E nós compramos inúmeros medicamentos via OMS, somos um país membro da OMS, o Brasil perderia horrores. Em quem eu posso pôr a culpa? Tem o Mandetta, então põe a culpa nele", disse o ex-ministro, exonerado em abril.

"É muito pequeno, não cabe nenhum tipo de comentário. Se fosse assim, eu deixei o ministério com menos de 2 mil mortos. Se fosse na minha época, não teria necessidade de mandar maquiar os números, que o general (Pazuello) entrou nessa. Precisou de ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) falar que não pode maquiar", acrescentou.

"Foi mais uma fuga de responsabilidade política para sua própria base, que estava com avaliação da sociedade muito ruim, muito negativa. Ele quis arrumar uma maneira de terceirizar politicamente. Já jogou culpa nos governadores, no Congresso, no STF, e todo mundo olha e sabe de quem é", completou, indicando a responsabilidade do próprio Bolsonaro no cenário atual.

Mandetta ainda evitou traçar um panorama a respeito da situação imunológica do Brasil após as primeiras semanas da pandemia. Por isso, segundo o ex-ministro, é prematuro falar agora a respeito de flexibilização de medidas de isolamento.

"Em Nova York, quando chegou 20%, 25% de (população com) anticorpos ao coronavírus, a doença caiu. Imagina-se que os corona já circularam. Será que existe imunidade cruzada? Isso ganha cada vez mais pessoas acreditando nessa hipótese. Parte da população é suscetível. Isso a gente não pode afirmar, mas tem aparecido em estudos", analisou o ex-ministro.

"Flexibilizar pode significar voltar atrás dali 15 dias. O que o governante tem que ter em mente é que você vai dar um passo, esse passo à frente pode ser seguro ou precipitado, e todo mundo tem que saber que alguém tem que medir. Se for precipitado, vai ter passo atrás. Vai ser prendendo fôlego, um passo a cada dia.

Na avaliação do ex-ministro, os casos em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro já estariam "aparentemente diminuindo", mas os interiores dos estados estão "aparentemente aumentando". "Isso vamos ter que medir dia após dia", disse, defendendo para o Brasil as medidas adotadas internacionalmente até aqui.

"O problema do corona era que, se as pessoas continuassem com o ritmo de vida que elas vinham tendo, o SUS não estaria pronto para atendê-las. Morreriam por desassistência. Quem tem boca fala o que quer. Na Itália teve desassistência. Em Manaus, Belém, teve. Nós conseguimos trazer EPIs, ficamos 45 dias sem, conseguimos reativar a indústria de ventiladores nacionais. Abrimos mais de sete mil leitos de UTI em São neste período", listou.

Para Mandetta, "o SUS é o grande vitorioso dessa história, porque conseguiu dar dignidade".

Participaram desta produção Arthur Sandes, Emanuel Colombari, Gustavo Setti, Mariana Gonzalez e Diego Henrique de Carvalho