'Flexibilização sem critério vai aumentar a desassistência', diz Mandetta
O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta criticou hoje os estados e municípios que estão autorizando uma flexibilização do isolamento social sem embasamento científico. Ele acredita que a falta de critério no processo de reabertura pode causar saturação dos serviços de saúde — o que deixaria muita gente sem atendimento médico.
"Os governantes estão desistindo de salvar vidas. Não estou vendo flexibilização com critério. E tem gente falando em liberar comércio e liberar academia nessa situação. Isso só vai aumentar a fila da desassistência", declarou em entrevista concedida à Veja. "As cenas de bares lotados no Rio são lamentáveis."
Mandetta elogiou a conduta adotada pelo estado de São Paulo, que elaborou um plano de abertura gradual com avaliação constante da situação das diferentes regiões do estado. "São Paulo está fazendo uma coisa muito técnica. Abrem um pouco e param, medem para ver se a epidemia está voltando", citou.
"São Paulo não está tendo mortes por desassistência e está gradativamente dando seus passos, o que é louvável", disse.
O ex-deputado federal reforçou que essa situação poderia ter sido evitada se o governo federal tivesse tomado a frente no combate à pandemia da covid-19 no começo da pandemia — quando ele chefiava a pasta e tentava convencer o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a tomar medidas mais severas no combate ao coronavírus.
"No início, tínhamos de fazer aquele 'segura todo mundo' para aumentar a capacidade do sistema de atendimento. Se tivéssemos atravessado abril e parte de maio segurando bem o Brasil inteiro, todo mundo falando a mesma língua, seria diferente", afirmou.
"Mas o que a gente viu foi o governo federal se retirar do assunto, largando governadores e prefeitos a reboque do vírus. Ficamos à deriva", criticou.
Na opinião de Mandetta, essa ausência de uma liderança nacional no enfrentamento ao vírus aconteceu porque Bolsonaro começou a tomar conselhos de pessoas que "falavam exatamente o que ele queria ouvir". "O [deputado federal] Osmar [Terra (MDB-RS)] era quem mais capitaneava essa tese", defendeu.
"Comigo ele tinha uma situação de recusa, não queria ouvir, não queria saber. Fechou-se no mantra de 'preciso cuidar da economia'. Tinha de ter entendido a gravidade do caso", completou.
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