Pacientes com coronavírus no Incor serão tratados com respiradores da USP
A partir de amanhã, o Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) vai ganhar o reforço de respiradores feitos pela USP no tratamento de pacientes do novo coronavírus. A informação foi anunciada hoje em coletiva do governo de São Paulo.
Trata-se de um projeto desenvolvido por 200 pesquisadores da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo), chamado Inspire. A universidade já enviou explicações finais para a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e espera apenas uma autorização para começar a produção em larga escala. Ao todo, até 40 pacientes por vez poderão ser beneficiados no complexo do Hospital das Clínicas.
"(A USP) desenvolveu respiradores com tecnologia nacional, com técnicos, pesquisadores, professores e alunos da Universidade de São Paulo. A partir de amanhã, dia 16 de julho, o Incor vai começar a utilizar respiradores desenvolvidos por estes pesquisadores", anunciou o governador João Doria (PSDB).
"Estes respiradores serão utilizados em pacientes com coronavírus dentro do complexo do Hospital das Clínicas, que integra a Universidade de São Paulo. Esses respiradores demonstram a capacidade dos pesquisadores, que desenvolveram em apenas quatro meses, a partir de março deste ano, e a um baixíssimo custo, a produção de respiradores — ainda em pequena escala, mas que ao longo do tempo e gradualmente, ganharão escala e condições mercadológicas", acrescentou.
Cada aparelho pode ser feito em duas horas. A USP consegue produzir pelo menos dez unidades por dia, ao custo estimado de pelo menos R$ 5 mil cada — o valor pode chegar a R$ 10 mil, dependendo de fatores como variações cambiais dos componentes usados. A meta é conseguir entregar os dez primeiros amanhã.
O professor Raul Gonzalez Lima, coordenador do projeto Inspire, fez questão de destacar o envolvimento de profissionais de diversas áreas na realização, além da participação de instituições parceiras, empresas doadoras e doadores individuais. A soma de doações financeiras para a pesquisa chegou a R$ 7 milhões.
"Este resultado que estamos inaugurando hoje parece tecnológico. Entretanto, tem agregado o conteúdo resultante de pesquisa de 20 anos da área pulmonar, de uma cooperação entre várias unidades da Universidade de São Paulo", celebrou.
O reitor da USP, Vahan Agopyan, também apontou a importância de uma longa pesquisa que pôde ser aplicada nos respiradores.
"É uma vitória importante da ciência brasileira, da tecnologia brasileira. Isso foi possível porque o Estado de São Paulo confia nos seus centros de ensino e pesquisa. Confia, apoia, financia e mantém seus centros de pesquisa com todas as suas condições de poder fazer isso", afirmou Agopyan.
"Os participantes desse projeto são pesquisadores que se dedicam a esse tema e a temas similares há décadas. Quando a sociedade precisou, felizmente conseguimos num espaço de tempo muito pequeno colocar isso à disposição."
Uma parceria entre o governo paulista e a Marinha prevê a produção de 10 a 20 equipamentos por dia. O equipamento produzido pela USP pode ser usado tanto em casos de média complexidade como nas ocorrências de infecção por coronavírus que exigem terapia intensiva.
A iniciativa é apresentada no momento em que São Paulo combate o crescimento da pandemia no interior do Estado. São quatro regiões na fase vermelha (a mais grave do chamado Plano São Paulo, a programação de retomada de atividades sociais e econômicas nas cidades paulistas).
Em balanço apresentado ontem, São Paulo apresentou 417 mortes. Já ainda 6.173 pacientes em UTIs do estado — número superior à média, que costuma oscilar entre cinco e seis mil. Há também 9.116 pacientes internados em enfermarias.
O produto vinha sendo desenvolvido de forma que, finalizado, pudesse ser produzido por instituições públicas e privadas de forma gratuita, em um sistema aberto. Gonzalez informou que a ideia se mantém, mas que uma série de aspectos legais ainda estão sendo analisados pela USP antes de esse ponto ser definido.
O governo do Estado fez, no começo da crise, uma compra de três mil respiradores pelo custo de US$ 100 milhões, de fabricantes chineses O material não chegou, a negociação foi cancelada e, agora, é alvo de investigações pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado) e pelo MP-SP (Ministério Público de São Paulo). Outros respiradores passaram a ser importados de outros fornecedores.
O uso dos equipamentos teve de ser aprovado pela Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa), do governo federal, que liberou o teste em 40 pacientes.
* Com informações da Agência Brasil e da Agência Estado
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