Protestos e ofensas: relembre casos de resistência à máscara pelo mundo
Um homem que vestia um boné estampado com a frase "Make America Great Again", slogan da campanha do presidente americano Donald Trump, foi flagrado dormindo na poltrona de um avião com a máscara nos olhos no fim do mês passado. O equipamento de proteção, por recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde), deve cobrir nariz e boca.
A imagem viralizou, e a atitude do rapaz foi atrelada, por muitos, ao posicionamento de Trump em relação à pandemia de coronavírus: nas idas e vindas, o líder americano não usa máscara nem concorda com sua obrigatoriedade. Prefere o discurso de que seu uso é uma "escolha", e dá autonomia aos Estados para definirem as perspectivas.
Nos Estados Unidos, a guerra às máscaras gerou tensões: o segurança de um supermercado em Flint, Michigan, foi baleado por um cliente sem máscara que tentava entrar no estabelecimento. No fim de junho, na Califórnia, uma mulher também se irritou com a obrigatoriedade do acessório dentro de um mercado: chamou funcionários e clientes que pediam que ela cobrisse nariz e boca de "democratas porcos".
Em pelo menos 19 dos 50 estados americanos, o distanciamento social e o uso de máscaras é obrigatório. Entretanto, o país presenciou protestos contrários ao uso do equipamento de proteção. No fim de junho, ainda, o conselheiro republicano Guy Phillips repetiu as palavras de George Floyd —ditas pouco antes de ser morto— ao retirar a máscara do rosto. "Eu não consigo respirar". A apropriação da frase em meio aos protestos antirracistas que marcaram o país repercutiu negativamente. Phillips liderava um ato contra o uso do EPI em Scottsdale, no Arizona.
Atos similares aconteceram, ainda, em Londres, na Inglaterra, neste domingo (19). Dezenas de manifestantes se reuniram no centro da capital britânica em reação ao pronunciamento do primeiro-ministro Boris Johnson, que anunciou que será obrigatório o uso do acessório em estabelecimentos comerciais a partir de sexta-feira (24).
Relembre episódios de resistência à máscara no Brasil
No último dia 3, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sancionou com vetos a lei que torna obrigatório o uso de máscara em locais públicos e nos meios de transportes em todo o país. Entre os trechos vetados pelo presidente estão a obrigatoriedade do uso de máscara em estabelecimentos comerciais, industriais e de ensino, templos religiosos e demais locais fechados em que haja reunião de pessoas. Esses estabelecimentos também ficam dispensados de fornecerem máscara para seus funcionários.
Segundo o médico infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo e coordenador médico do Hospital AACD, Igor Marinho, o mau exemplo de líderes políticos gera reações como as descritas nesta reportagem. Há pouco mais de um mês, enquanto o estado do Maranhão ainda estava em lockdown, moradores das cidades vizinhas Santa Helena e Turilândia organizaram uma passeata que acabou em um ritual de queima de máscaras. A gestão Flávio Dino (PCdoB) tornou o uso do acessório obrigatório no estado.
O episódio mais recente envolvendo a obrigatoriedade do uso de máscara de proteção aconteceu no sábado (19). Um homem que se apresentou como "desembargador Eduardo Siqueira" foi flagrado confrontando a GCM (Guarda Civil Municipal) de Santos, no litoral paulista, após se recusar a usar o item.
A reportagem do UOL consultou o TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), que confirmou o jurista em seus quadros. O uso do equipamento de proteção contra o coronavírus é obrigatório na cidade por meio do decreto nº 8.944, de 23 de abril de 2020, assinado pelo prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB). Descumprir a medida gera multa de R$ 100.
Nas imagens, que circulam em redes sociais, o homem é abordado por um funcionário da GCM, que pede "por favor" para ele usar máscara. Eduardo é informado sobre o decreto, mas diz que o ato "não é lei" e se recusa. O guarda, então, desce do carro para aplicar a multa. Eduardo afirmou que já havia recebido uma infração: "Amassei e joguei na cara dele. Você quer que eu jogue na sua também?", questiona.
O episódio não foi o primeiro: no fim de abril, uma mulher tirou sua calcinha e a colocou no rosto após ter sua entrada barrada em uma unidade dos Supermercados Guanabara, no Rio de Janeiro. Mesmo com o rosto coberto pela peça íntima, segundo o estabelecimento, ela foi proibida de entrar no local.
"Como medida de proteção para todos os nossos funcionários e clientes, a rede não está permitindo a entrada sem uso de máscara nas suas 26 lojas, seguindo as recomendações dos órgãos de saúde e públicos", disse a assessoria do supermercado, por meio de nota.
Também em um supermercado, em maio, a negação em relação ao uso do EPI virou caso de polícia: uma mulher de 46 anos foi levada para a delegacia após insistir em entrar no estabelecimento sem o equipamento. A Polícia Militar foi chamada, e, ela, levada para a delegacia, onde contou que exigiu que o gerente do estabelecimento redigisse um documento formalizando a proibição da entrada sem máscara. O EPI já era obrigatório no estado.
Uso de máscara deve continuar por meses
Segundo o infectologista, as máscaras são indispensáveis neste momento da pandemia —principalmente no Brasil. Ele explica que o acessório não apenas protege o indivíduo da secreção contaminada, como também evita que alguém que tenha o coronavírus contagie outra pessoa.
"Ela é um filtro, uma barreira física. O coronavírus se instala nas vias aéreas superiores, na região do nariz, da faringe e da boca. Portanto, quando a gente espirra, tosse ou fala, alguns perdigotos podem ser liberados na direção de outras pessoas —e essas partículas estão cheias do vírus", explica. Marinho analisa que as máscaras ainda farão parte do cotidiano dos brasileiros por meses, uma vez que a situação da pandemia por aqui ainda é bastante grave.
"Não há motivo para relaxar. A situação no Brasil estagnou, mas estagnou da pior maneira possível. Estamos há semanas em uma média de mil mortes por dia, o que a gente não presenciou por muito tempo na Europa, por exemplo", diz.
Marinho explica que quando os primeiros casos de coronavírus começaram a aparecer por aqui, entidades de saúde se preocuparam com a possibilidade de faltar máscara em hospitais. Por isso, o acessório não foi recomendado em demasiado desde o início. "Entretanto, houve uma produção massiva tanto das máscaras hospitalares quanto das feitas de tecido. Então, não há risco de faltar. Por isso, é preciso usar, sim. A máscara é uma proteção tanto para a gente como para o outro".
O recomendado, explica o especialista, é lavar a máscara de tecido todos os dias —se possível for. "Caso não seja possível, a higienização deve acontecer de modo que a pessoa não fique um dia sequer sem o equipamento", conclui.
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