Hospitais particulares do Rio têm 97% dos leitos de UTI para covid ocupados
Com o aumento no número de casos e mortes por covid no Rio, hospitais particulares já estão com 97% dos leitos de UTI destinados a pacientes com coronavírus ocupados na capital. No estado, a ocupação da rede privada é de 75%. Os dados são da Associação de Hospitais do Estado do Rio de Janeiro, que representa 300 hospitais e clínicas de saúde particulares.
O presidente da entidade, o pediatra Graccho Alvim, afirma que as unidades já trabalham para abrir mais leitos. "Essa semana a gente internou bastante, estamos diminuindo as cirurgias eletivas e intensificando a triagem dos pacientes. Algumas cidades já estão ajudando o Rio no recebimento de pacientes da rede privada", relatou, citando Niterói, na região metropolitana, como exemplo.
Alvim definiu a situação como preocupante e recordou que em maio, um dos meses de pico da doença, os hospitais particulares também chegaram a ficar quase 100% ocupados.
Na ocasião, as cirurgias eletivas já estavam suspensas e todos os leitos eram destinados para tratamento da covid-19 ou para urgência e emergência. Hoje, apesar das manobras para ampliar o atendimento, os leitos estão divididos com pacientes que necessitam de outros tipos de tratamentos.
O aumento da demanda também é percebido nos hospitais públicos. Levantamento do UOL mostrou que o número de internações, de solicitação de leitos e da fila de espera por vagas na rede pública atingiram o maior patamar desde junho. A taxa de ocupação de leitos de UTI para covid na rede SUS —que inclui leitos de unidades municipais, estaduais e federais— é de 90% na capital.
Complexo hospitalar tem 100% de ocupação
No Rio, a Rede Hospital Casa informou que está com 100% dos leitos de covid ocupados. Guilherme Jaccoud, diretor do complexo hospitalar e presidente do SindhRio (Sindicato de Hospitais e Clínicas do Rio), disse que o hospital vem ampliando a oferta de leitos.
Apesar do aumento de internações, ele avalia que as equipes médicas estão hoje melhor preparadas para lidar com a doença. O cirurgião diz que o percentual de óbitos em pacientes internados está menor, mas ressalva estar "bem preocupado".
Não precisa fazer um fervoroso lockdown, o que não podemos é abrir mão dos cuidados. É espantoso ver esse monte de festa e baile por aí. Aumentaram os atendimentos de emergência, aumentaram as demandas por internação em CTI e também em enfermaria e quartos
Guilherme Jaccoud, diretor da Rede Hospital Casa e presidente do SindhRio
Pobres morrem mais, diz infectologista
O professor da Uerj (Universidade Estadual do RJ) e coordenador da área de Infecção Hospitalar do Hospital Pedro Ernesto, Marcos Lago, pondera que, apesar da lotação nos hospitais particulares, a doença está se disseminando da mesma forma em todos os extratos sociais.
Segundo ele, as famílias com acesso à rede privada têm hoje oportunidade de internação maior comparada à população que depende de hospitais públicos. Isso porque o protocolo de atendimento adotado na rede privada visa a internação precoce.
"A situação é bem diferente em prontos atendimentos [da rede pública] que temos por aí. A fila é enorme, às vezes tem um médico só, nem sempre tem equipamentos. Fica internado quem realmente estiver muito mal", compara.
E essa diferença de atendimento dá a falsa impressão, segundo ele, de que as classes média e alta são hoje mais contaminadas. De acordo com o infectologista, o maior número de mortes ocorre nas classes mais vulneráveis.
"A maioria dessas pessoas não consegue chegar ao atendimento —ou ficam boas sozinhas ou acabam tendo uma sequela depois, desenvolvendo uma trombose ou tendo um infarto e ninguém enxerga elas."
Para ele, o aumento das internações está relacionado à flexibilização das atividades. Segundo Lago, os jovens são os principais responsáveis por ajudar a disseminar a doença.
Os jovens voltaram a se contaminar. Como normalmente evoluem melhor, continuam frequentando o trabalho, transmitem para os pais e avós. Isso é uma irresponsabilidade do poder público que não se junta para coibir essa situação
Marcos Lago, coordenador no Hospital Pedro Ernesto
'Nem saímos da 1ª onda'
Ontem (26), a média diária de mortes por covid no estado do Rio foi de 84, um aumento de 88% em 14 dias, segundo números aferidos por consórcio de veículos de imprensa junto à SES.
O índice está em aceleração. Vale ressalvar que nos dias 8, 9 e 10 o governo do Rio não informou o número de mortos. A capital registrou 13.192 óbitos por covid até ontem.
A presidente da Sociedade de Infectologia do Rio de Janeiro, Tania Vergara, avalia que a cidade não passa por um segunda onda de contágio como acontece na Europa.
A gente nem acabou a primeira onda. Esses casos têm relação com a flexibilização que ocorre na cidade, têm relação com as pessoas que não cumprem nenhuma recomendação. Todo mundo vivendo como se a pandemia tivesse acabado, falta muita consciência e isso reflete no número de casos
Tania Vergara, da Sociedade de Infectologia do Rio
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.