Covid-19: Com casos em alta, Rio tem maior média de internações desde junho
Os indicadores de demanda hospitalar de pacientes com covid-19 no estado do Rio dispararam na última semana. Dados da SES (Secretaria Estadual de Saúde) analisados pelo UOL mostram que o número de internações, de solicitações de leitos e a fila de espera por vagas atingiram o maior patamar desde junho, quando o estado começava a deixar o primeiro pico da doença.
Os dados analisados pelo UOL dizem respeito a pacientes incluídos na Central Estadual de Regulação —mecanismo que une leitos de enfermaria e UTI (Unidade de Terapia Intensiva) em unidades estaduais, além dos disponibilizados por hospitais municipais e federais.
De acordo com os registros, a média móvel de internações em leitos de enfermaria e UTI nos últimos sete dias chegou a quase 97 nesta terça-feira (24).
Já as solicitações de internações —estágio anterior, quando unidades de saúde pedem para que um paciente ocupe uma vaga disponível na Central de Regulação Estadual— atingiu um pico 165 pedidos na mesma data.
Ambos os dados revelam um aumento expressivo: em um mês, o número de solicitações mais que dobrou, enquanto o de internações cresceu 86% em relação ao menor patamar do período.
Com isso, a fila por uma vaga para pacientes com covid-19 também disparou. Na terça passada (24), a média de pacientes esperando por atendimento era de 138 nos últimos sete dias —159% acima de 24 de outubro, quando havia uma média de 53 pessoas na fila de espera.
O aumento de demanda já se reflete na ocupação dos leitos: a rede estadual começou a semana com 70% dos leitos de UTI ocupados. Já a capital tem 93% dos leitos públicos de UTI ocupados. Em Niterói, na região metropolitana, 56,5% dos leitos públicos e privados na cidade estão ocupados.
Até ontem (25), haviam sido registrados 22.256 óbitos por coronavírus no estado. Ontem, a média diária de mortes por covid foi de 80, um aumento de 132% em 14 dias, segundo números aferidos por consórcio de veículos de imprensa junto à SES. O índice está em aceleração no Rio. Vale ressalvar que nos dias 8, 9 e 10 o governo do Rio não informou o número de mortos.
Especialistas veem risco de novo pico
Dois especialistas em dados de covid-19 ouvidos pelo UOL veem com preocupação o crescimento repentino da procura por vagas hospitalares no Rio. Segundo eles, a causa mais provável são as medidas de flexibilização do isolamento e o crescimento de aglomerações, como festas e eventos.
Segundo Marcelo Gomes, pesquisador do Mave (Grupo de Métodos Analíticos em Vigilância Epidemiológica)/Fiocruz e coordenador do Infogripe —iniciativa de monitoramento e alerta de casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) no Brasil—, problemas na comunicação dos governos durante as medidas de flexibilização e uma postura de pouco cuidado por parte da população podem ter relação com esse aumento.
Houve problemas de comunicação. O início das medidas de flexibilização não era uma situação de problema encerrado. Abandonar os cuidados ou relaxar de maneira demasiada [o isolamento] poderia levar a uma retomada do crescimento dos novos casos
Marcelo Gomes, pesquisador do Mave/Fiocruz
O médico sanitarista Aluísio Gomes da Silva Junior, professor do Instituto de Saúde Coletiva da UFF (Universidade Federal Fluminense), aponta as decisões de governantes como determinantes para o novo aumento de casos.
Segundo ele, o governo do Rio, em especial, deixou de cumprir seu papel de coordenação de maneira adequada, com a SES sendo o epicentro do escândalo de corrupção que levou ao afastamento do governador Wilson Witzel (PSC).
O estado fez um processo de coordenação dos municípios muito precário. Alguns municípios por sua própria conta tiveram um desempenho interessante, como Niterói, Maricá e Volta Redonda. Outros não tiveram recursos para isso. O Rio, por exemplo, liberou atividades quando a curva estava subindo
Aluísio Gomes da Silva Junior, médico sanitarista
Nesta terça, o governador em exercício Cláudio Castro (PSC) descartou retomar medidas adicionais de isolamento, apesar do aumento de casos e mortes. Ele classificou como "irresponsabilidade" falar em segunda onda da epidemia no Rio e afirmou que uma nova avaliação do quadro será feita em 15 dias.
A principal medida anunciada foi o que ele chamou de "testagem em massa" da população. Castro não explicou contudo o número de testes aplicados ou a forma como isso será feito. As secretarias estadual e municipal anunciaram a abertura de 214 leitos para pacientes com covid na rede pública.
Marcelo Gomes vê com preocupação a postura do governo do Rio de desconsiderar a priori necessidades de novas restrições. Segundo ele, isso deveria ser avaliado do ponto de vista técnico e epidemiológico.
"Descartar completamente que o número de infecções possa continuar subindo não é aconselhável do ponto de vista epidemiológico. Aglomerações têm um impacto extremamente relevante na propagação do vírus. Será que não cabe sentar e reavaliar as ações relacionadas a isso?", avalia.
Aluísio Gomes diz que o governo do estado e a prefeitura se precipitaram ao reduzir o número de leitos dedicados aos pacientes com coronavírus —a administração estadual fechou os hospitais de campanha abertos durante a pandemia, por exemplo.
Segundo ele, no caso da capital a adoção das medidas de reabertura teve um caráter politico —o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) disputa a reeleição com o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), crítico contumaz das medidas de isolamento social.
"A liberação da Prefeitura do Rio tem um caráter claramente eleitoral", afirma o sanitarista.
Marcelo Gomes alerta para o risco de que a situação se agrave em dezembro em razão do período de compras de Natal, festas de fim de ano e chegada de turistas ao Rio.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.