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Drauzio detona omissão federal e comunicação sobre CoronaVac: 'trapalhadas'

Drauzio Varella disse que campanha nacional para incentivo à vacinação teria que ter começado - Reprodução
Drauzio Varella disse que campanha nacional para incentivo à vacinação teria que ter começado Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

13/01/2021 10h08

O médico Drauzio Varella criticou hoje, em entrevista à GloboNews, a omissão do governo federal em relação a uma ampla campanha para incentivar a vacinação contra a covid-19 e classificou como "trapalhadas" a forma como ocorreu a comunicação do governo de São Paulo e do Instituto Butantan em relação à eficácia da CoronaVac.

Drauzio frisou que os resultados apresentados ontem sobre a vacina desenvolvida pelo Butantan, em parceria com o laboratório chinês Sinovac, são positivos e mostram um imunizante útil e eficaz para controlar a pandemia. Porém, em sua avaliação, a comunicação sobre os dados da pesquisa deveria ter sido feita de forma mais direta e clara desde a semana passada, quando os primeiros números foram divulgados.

"A palavra que você usou é perfeita, trapalhadas", disse Drauzio, usando a palavra utilizada pelo entrevistador José Roberto Burnier em referência à comunicação sobre a CoronaVac. "Isso é uma demonstração do que acontece quando assuntos técnicos e científicos servem de argumentos para uso político. Tivemos desde o início essa dicotomia entre governo de SP e Ministério da Saúde", disse.

O médico ainda lembrou como o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reagiu diante da rápida interrupção da fase 3 dos testes com o suicídio de um voluntário, colocando a CoronaVac como adversária em meio às disputas políticas com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). "Durante os testes, chegamos ao ponto de o presidente comemorar isso (o suicídio de um voluntário) como fracasso do governador de São Paulo", disse.

Ontem, o Butantan apresentou dados mais robustos sobre a fase 3 dos testes realizados na CoronaVac após receber críticas de pesquisadores e especialistas em relação à divulgação parcial. Na última semana, em entrevista com a presença de João Doria, o instituto divulgou desfechos secundários da vacina, como a proteção de 78% para prevenir casos leves da doença e de 100% para casos graves.

Porém, a taxa de eficácia geral - a que indica o índice de proteção contra a doença - só foi divulgada ontem. A taxa de 50,38% está acima dos 50% estipulados pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e Ministério da Saúde, mas na avaliação de Drauzio os ruídos na comunicação podem servir de munição a grupos que agem contra a vacinação quando, na verdade, os resultados deveriam ser comemorados.

"Nós temos uma vacina útil. O fato dessa divulgação inicial da semana passada de 78% de proteção para casos leves, colocando dados que nós, que temos o mínimo de informações científica, consideramos a forma inadequada de apresentar... Como você joga assim, 70 a 100% de proteção? Para nós não tinha significado. Agora sim foram apresentados números que podem ser analisados ", disse.

"Temos uma vacina eficaz. Esse desencontro só serve de arma para as pessoas que contraindicam o uso de vacina, esses 'antivacinas' que são escorados pelo presidente da República", completou.

"Não existe vacinação sem campanha"

Com a CoronaVac e a vacina de Oxford à espera de aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Drauzio Varella disse que o Brasil está atrasado no processo de imunização por omissão do governo federal. Em sua avaliação, a campanha de incentivo precisaria ter começado.

Drauzio ainda criticou a pressão do Ministério da Saúde em cima da prefeitura de Manaus para o uso de cloroquina como tratamento precoce, conforme revelado ontem pelo jornal Folha de S. Paulo. O medicamento não tem eficácia comprovada contra a covid-19.

"Não existe vacinação sem campanha, explicando porque é preciso tomar. Você viu uma campanha do governo federal que serviu para isso? Pelo contrário, diz para tomar cloroquina, agora quer desovar em Manaus, porque tem nas mãos uma droga que não serve para nada. E não tem uma palavra sobre vacina, uma campanha para explicar", disse

Usando a CoronaVac como exemplo, Drauzio ainda disse que os elementos para a campanha de incentivo à vacinação são claros e precisam ser explorados.

"Eu não quero pegar esse vírus, e tomo todos os cuidados, tenho condição de fazer isso. Com a vacina, espero não pegar. Se pegar, espero não morrer ou ir para hospitais. Temos essa vacina agora (CoronaVac) e outras devem vir neste mesmo sentido, cortando pela metade a chance de pegar a doença. Se pegar, impede de ir a hospitais em 100% dos casos. Mesmo que eu fique em casa, será leve. Toda a ênfase está aí. Você tem que tomar vacina para não aumentar o número de óbitos, que é inaceitável", disse.

Ontem, o Brasil voltou a registrar mais de mil novas mortes por covid-19 nas últimas 24 horas (1109) e completou cinco dias com aceleração na média móvel de óbitos. O total de mortos é de 204.726 desde o início da pandemia. O levantamento foi feito pelo consórcio de veículos de imprensa do qual o UOL faz parte.

Coordenação nacional

Drauzio Varella ainda defendeu que a vacinação precisa de uma coordenação nacional, sendo que todos os estados devem começar a imunização ao mesmo tempo. São Paulo marcou para 25 de janeiro o início da campanha.

"Pode, mas não deve (São Paulo vacinar primeiro). E os outros estados, como fazem? São Paulo começa a vacinar e o restante do país começa a ficar morrendo de inveja? A quantidade é muito pequena por enquanto, insignificante... (Coordenação) tem que ser feita pelo Ministério da Saúde, temos um plano que funciona e estava bem organizando. Agora não tenho mais segurança, mas é só se organizar, Não tem porque SP, RJ ou qualquer outro estado começar na frente", disse.

"O Brasil tem 38 mil pontos de vacinação? Que país tem isso? Estamos vendo os EUA batendo cabeça... Agora, porém, estamos dentro de um desafio novo, que será aplicar duas doses a milhões de brasileiros. Requer uma coordenação central, que precisaria do Ministério da Saúde. É essa coordenação central que nos deixa inseguro", completou.