Número de enterros hoje em Manaus supera pico da primeira onda de covid-19
No segundo dia do caos da falta de abastecimento de oxigênio no estado Amazonas, Manaus volta a registrar um pico inédito de sepultamentos nos cemitérios da cidade: 213. O índice supera a alta anterior, de quarta-feira (13), quando 198 pessoas foram sepultadas. Quase metade dos casos de hoje (102) são de vítimas da covid-19.
A prefeitura não divulga a causa das mortes não relacionadas diretamente ao novo coronavírus, mas, fora do período de pandemia e até quando a doença desacelerou após o primeiro pico nas curvas de óbitos, a média observada era de 30 sepultamentos diários. Em 2020, quando a pandemia deixou em colapso pela primeira vez a rede pública do estado, o maior número de enterros registrados foram 167 em 26 de abril.
O estado do Amazonas enfrenta um colapso total do sistema de saúde sem leitos para pacientes, que foi agravado nos últimos dias pelo desespero da falta de oxigênio para os os doentes internados na rede pública e privada.
Diante do quadro de falta de leitos, agravada pelo aumento de casos após as festas de final de ano, as mortes em domicílio também aumentaram em Manaus. Apenas hoje, 30 pessoas morreram em casa. O monitoramento da Prefeitura de Manaus aponta que, antes da pandemia, esse tipo de registro era de, em média, cinco por dia.
Os funcionários do sistema de saúde relatam caos e mortes nas unidades desde a crise desabastecimento de oxigênio no estado. Segundo a White Martins Gases Industriais do Norte Ltda, responsável por fornecer oxigênio à rede de saúde do Amazonas, o consumo diário de oxigênio no estado saltou de 40 mil metros cúbicos em 30 de dezembro para 76,5 mil metros cúbicos atualmente.
Mortes causadas por falta de oxigênio
Os últimos dias foram de correria para familiares de pacientes que passaram a levar aos hospitais públicos e privados os materiais que faltavam para salvar as vidas.
Uma funcionária de uma UPA, que pediu para não se identificar, disse à reportagem ontem que a unidade perdeu seis pacientes devido à falta de oxigênio — apenas pela manhã.
Estamos tendo óbitos a cada instante porque o oxigênio está oscilando muito. As balas que conseguimos não dá vazão para os pacientes. Pela manhã, foram seis óbitos. Agora de tarde não sei te dizer ainda. Nossa busca por oxigênio está sendo incansável."
Funcionária de UPA em Manaus
Segundo ela, os funcionários estão deprimidos e desesperados com a morte dos pacientes que lutam há dias para sobreviver à covid-19 a despeito da falta de insumos básicos na rede hospitalar.
"Minha sanidade mental está abalada. Acho que a de todos aqui. Estamos no limite da nossa capacidade emocional. Ontem mesmo eu não consegui dormir e estou aqui elétrica", afirmou sobre os dias que seguem com as mortes por falta de oxigênio.
Naquela UPA, o anúncio de transferência de pacientes para outros estados não amenizou o caos.
De acordo com dados divulgados pela FVS (Fundação de Vigilância em Saúde), o número de pacientes na fila por leitos no Amazonas ainda é alta: 393 esperam por vaga, sendo que 54 em condição de gravidade por uma UTI.
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