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Pazuello diz que estados devem começar vacinação hoje

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

18/01/2021 07h25Atualizada em 18/01/2021 15h30

Após a aprovação de duas vacinas contra o novo coronavírus no Brasil, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, oficializou na manhã de hoje a entrega das vacinas aos governadores que viajaram para São Paulo para um ato simbólico e disse que a imunização deve começar ainda hoje. O evento ocorreu no Centro de Distribuição Logística do Ministério da Saúde, em Guarulhos, na Grande São Paulo.

O PNI (Plano Nacional de Imunização) estava previsto para começar na quarta-feira (20), mas, em discurso, o ministro cedeu à pressão dos estados. "Depois de ouvir os governadores, chegamos à decisão de que hoje ainda distribuiremos todas as vacinas aos estados, todas", afirmou, no início do evento.

A gente pode colocar a ideia de hoje ao final do expediente os estados começarem no município principal a começar a vacinar, com isso a gente adianta um dia. Acho que a gente pode começar hoje ao final do expediente."
Eduardo Pazuello, ministro da Saúde

Pazuello disse que a distribuição das vacinas para os estados respeitou "a proporcionalidade" ao dividir as 6 milhões de doses "com as informações que vieram dos estados".

Segundo o Ministério da Saúde, dos 6 milhões de doses, cerca de 42% são destinados ao Sudeste. Na sequência, aparece o Nordeste, com aproximadamente 24%. Sul e Norte têm, respectivamente, 13% e 12%. Para o Centro-Oeste, irão cerca de 9% das doses.

"O Butantan e a Anvisa cumpriram com seu papel, e o nosso é aplicar e monitorar todos os vacinados", afirmou o ministro, ao mencionar "de cabeça" os grupos prioritários: "profissionais de saúde, idosos em instituição de longa duração [asilos e casas de repouso], indígenas aldeados, deficientes com deficiências específicas".

Durante o embarque dos imunizantes, Pazzuelo lembrou que o cronograma inicial era "a logística hoje, amanhã a logística dos estados para os municípios e na quarta-feira o início [da vacinação]".

Os governadores solicitaram que assim que chegasse nos estados eles tivessem a liberdade de iniciar a vacinação. Nós pactuamos isso com os governadores presentes, e nós deveremos começar hoje a partir das 17h."
Eduardo Pazuello, ministro da Saúde

Questionado sobre a pouca quantidade de doses disponíveis para todo o Brasil, o ministro disse que "estamos trabalhando para chegar a 1 milhão de doses de vacinas diárias". Ele não deu detalhes, contudo, sobre o prazo para essa capacidade será atingida.

Críticas a Doria

O convite aos estados foi feito ontem (17) por Pazuello pouco depois de acusar o governador João Doria (PSDB-SP) de fazer marketing por iniciar a vacinação contra a covid-19 em São Paulo antes do PNI. Estão presentes os governadores ou vice de 19 estados. O representante de São Paulo é o vice Rodrigo Garcia (DEM-SP).

O objetivo da reunião com os governadores, no entanto, é realizar uma cerimônia com fotos que marquem o início da distribuição das vacinas para o Brasil a partir de São Paulo, onde estão as doses da CoronaVac, imunizante desenvolvido pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo paulista.

Ontem, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou o uso emergencial da CoronaVac e da vacina Oxford/AstraZeneca, desenvolvida pela Universidade de Oxford, do Reino Unido, e pelo laboratório AstraZeneca, que será produzida no Brasil pela Fiocruz. Os dois imunizantes são os primeiros aprovados no país no combate à covid-19.

"O Ministério da Saúde tem em mãos, neste instante, as vacinas tanto do Butantan quanto da [farmacêutica] AstraZeneca", afirmou o ministro. "Nós poderíamos, em um ato simbólico ou em uma jogada de marketing, iniciar a primeira dose em uma pessoa. Mas em respeito a todos os governadores, prefeitos e todos os brasileiros, o Ministério da Saúde não fará isso. Não faremos uma jogada de marketing", disse Pazuello no domingo.

Diferentemente do que disse Pazuello, no entanto, a vacina de Oxford/AstraZeneca ainda não está disponível no país. O governo federal pretendia importar 2 milhões de doses produzidos na Índia, mas a viagem foi cancelada após indefinições de questões diplomáticas.

Mal-estar entre governadores

Além de ter sido mal recebida pelo governo federal, a decisão de João Doria de aplicar a primeira vacina neste domingo (17) gerou mal-estar entre os governadores. Em um grupo de WhatsApp, Wellington Dias (PT-PI) classificou a atitude como lamentável. "O entendimento sempre foi o Brasil numa mesma data. Um estado coloca os demais como de segunda categoria", escreveu.

A insatisfação chegou a Pazuello, que sentiu confiança para convidar governadores a um ato simbólico.

Até o início da manhã de hoje, pouco mais de cem pessoas já tinham recebido o imunizante em São Paulo. A vacinação no estado começou logo após a CoronaVac ser aprovada para uso emergencial pela Anvisa. A enfermeira Mônica Calazans, que trabalha na UTI do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, foi a primeira pessoa vacinada no país.

A campanha continua hoje no Hospital das Clínicas da capital paulista. O início foi programado para as 7h, com a vacinação de profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate à doença.

Há meses, a corrida pela vacina é marcada por discussões entre Doria e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), adversários políticos de olho nas eleições de 2022. Até a manhã desta segunda, Bolsonaro ainda não comentou o início da imunização.

O transporte das vacinas

As primeiras doses enviadas a outros estados devem ser levadas pela FAB (Força Aérea Brasileira). Segundo o Ministério da Defesa, as aeronaves devem transportar hoje 22 toneladas de carga para 11 capitais —"um terço de todo esforço logístico previsto para o abastecimento dos estados com a vacina contra o coronavírus".

Aviões comerciais das quatro maiores companhias aéreas do país também devem ajudar na distribuição das vacinas —Gol, Latam, Azul e Voepass, se puseram à disposição do governo para transportar gratuitamente os imunizantes.

O presidente da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), Eduardo Sanovicz, afirmou que o objetivo das companhias é acelerar o processo de vacinação. "A vacina é o que todos esperam. A ideia é fazer todos os esforços para distribuir o mais rápido possível", afirmou ao UOL.

As vacinas deverão ser transportadas nos porões de cargas dos aviões comerciais. A Azul afirmou que a estimativa é transportar até 5.000 doses por voo. Já a Latam disse que os aviões do modelo Airbus A320 têm a capacidade para até 800.000 doses da vacina, embora este número possa variar de acordo com o tipo da vacina a ser transportada. A Gol não apresentou uma estimativa.