Doria diz que Bolsonaro mentiu sobre insumos da China: 'parasitismo'
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), foi às redes sociais hoje para desmentir o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), logo após ele parabenizar ministros do seu governo pela liberação dos insumos vindos da China necessários para a produção da CoronaVac. Segundo Doria, toda e negociação foi feita pelo governo paulista e o Instituto Butantan, que produz a vacina contra a covid-19 no Brasil.
"Não é verdade o que disse o presidente Bolsonaro em suas redes, de que a importação de insumos da China foi uma realização do governo federal. Todo o processo de negociação com a China para a liberação de insumos para a vacina do Butantan foi realizado pelo Instituto e pelo governo de São Paulo", afirmou Doria no Twitter no início da noite.
O governador paulista foi além e, numa sequência de publicações sobre o tema, encerrou criticando o "parasitismo dos negacionistas e oportunistas", num claro recado ao governo de Bolsonaro.
"Sem parasitismo dos negacionistas e oportunistas. Até aqui só atrapalharam nosso trabalho em prol da ciência e da vida. São engenheiros de obra pronta. Vergonha!", publicou Doria.
Pouco antes, Bolsonaro também havia publicado na mesma rede social que a liberação para a chegada de mais matéria-prima da CoronaVac estava concluída. Na postagem, o presidente parabenizou o "empenho" dos ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores), general Eduardo Pazuello (Saúde) e Tereza Cristina (Agricultura) na negociação.
O anúncio do presidente antecipou uma resolução do impasse que o próprio Doria tinha prometido para amanhã. Num ato pró-vacinação realizado hoje com os ex-presidentes da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Michel Temer (MDB) e José Sarney (MDB), o governador paulista disse que terá uma reunião pela manhã com o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming.
O embaixador, entretanto, já compartilhou a publicação de Bolsonaro hoje, dando a entender que a questão estava resolvida. Mesmo assim, Doria manteve a reunião de amanhã e afirmou que anunciará depois do encontro virtual "detalhes sobre a logística de importação dos insumos" da CoronaVac, que, segundo ele, chegarão "ainda esta semana".
Outro que diz ter participado diretamente da negociação é o ex-presidente Temer. No evento com Doria, ele afirmou que tinha acabado de conversar com Wanming e foi otimista quanto à liberação dos insumos. Depois, em entrevista ao "Brasil Urgente", da TV Bandeirantes, Temer voltou a dizer deu "uma mãozinha" para a concretização da importação.
Sem novas doses há uma semana
Após fornecer 6 milhões de doses da CoronaVac ao Ministério da Saúde para dar início à vacinação contra a covid-19, o Butantan começou na última sexta-feira (22) a distribuição de mais 4,1 milhões de doses que receberam o aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para a aplicação.
Mas a instituição ligada ao governo paulista aguarda há semanas a chegada de mais matéria-prima para produzir, envasar e rotular outros 11 milhões de doses. A produção da CoronaVac na fábrica do Butantan parou no domingo passado (17) e, com isso, há risco de faltarem doses para serem distribuídas pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações), o que poderia levar à paralisação da vacinação no país.
Vacina AstraZeneca/Oxford
Além da CoronaVac, o governo federal conta apenas com a vacina de AstraZeneca/Oxford, que também sofre com o atraso da chegada de insumos da China. A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), instituição federal responsável por produzir o imunizante no país, tinha previsão de entregar o primeiro milhão de doses produzidas no Brasil no início de março; agora, esse prazo deve se estender para meados de março.
Enquanto isso, o imunizante está sendo distribuído desde anteontem no país graças aos 2 milhões de doses que chegaram da Índia, após atraso no cronograma inicial. A previsão do governo federal era de que um avião tivesse partido do Recife para buscar as primeiras doses no último dia 15.
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