Topo

Covid: Distribuição de doses de vacinas não respeita tamanho da população

Divulgação/Instituto Butantan
Imagem: Divulgação/Instituto Butantan

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

15/02/2021 04h00

A distribuição de doses de imunizantes contra a covid-19 não tem sido proporcional ao tamanho da população de cada estado nem à gravidade da pandemia do novo coronavírus em cada região, de acordo com levantamento do UOL feito com base em dados oficiais. A situação já motivou a reclamação no Ministério da Saúde de ao menos um estado: o Pará. Mas outros locais também se mostram insatisfeitos.

Na última terça-feira (9), o Pará enviou um ofício ao ministério questionando os "critérios utilizados para definir o quantitativo de imunizantes a ser distribuído". Segundo estado, o governo federal ainda não respondeu a demanda.

Proporcionalmente, o Pará recebeu menos doses para vacinar sua população. Apenas 2,09% dos paraenses podem ser vacinados com o que foi enviado. A média nacional é de 3,18%.

O cálculo foi feito com base na última atualização dos números da distribuição de doses, feita em 9 de fevereiro. Ele leva em conta a distribuição de duas doses da CoronaVac e uma da vacina de Oxford —a segunda deve ser enviada posteriormente porque seu intervalo de aplicação é maior.

"Forma proporcional", disse Pazuello

Quando a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou o uso emergencial da CoronaVac e da vacina de Oxford, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse que elas seriam "distribuídas de forma proporcional aos estados". Ele pontuou, em 17 de janeiro, que o cálculo respeitaria "os grupos prioritários e a proporção relativa".

Questionado pelo UOL, o Ministério da Saúde diz que "existe uma taxa de risco de distribuição para avaliação e flexibilização em cima daquele local que tem maior risco". Segundo a pasta, a entrega das doses leva em conta "critérios epidemiológicos atualizados e denominadores populacionais referentes aos grupos prioritários, preservando a distribuição proporcional e igualitária em todo o país". O ministério não deu mais detalhes nem entrevista sobre o tema.

De olho nos vizinhos

Além do governo do Pará, o MPF (Ministério Público Federal), o MP-PA (Ministério Público do Pará) e o MPT (Ministério Público do Trabalho) local pediram que Pazuello dê explicações. Eles também dizem que "o Pará está atrás de outros estados que aparentemente não têm situação epidemiológica tão grave quanto a do Baixo Amazonas".

Segundo o ministério, o Pará recebeu doses suficientes para vacinar todas os deficientes e idosos que vivem em instituições, a população indígena e as pessoas com mais de 90 anos, além de 73% dos profissionais de saúde. A pasta ainda diz que "não houve erro no total de envio de doses".

Confrontado com a versão do ministério, o governo do Pará voltou a dizer que "a quantidade de vacinas disponibilizada ao Pará é menor do que o disponibilizado os demais estados levando em consideração o quantitativo populacional".

Outras proporções

Na outra ponta, Roraima e Acre receberam o suficiente para imunizar 8,2% de suas respectivas populações. É a maior proporção entre as 27 unidades da federação.

Como o Pará, outros 14 estados receberam menos doses do que a média nacional. Entre eles, está São Paulo, onde há doses suficientes para imunizar 2,8% dos paulistas. Em nota, a Secretaria da Saúde disse que "o estado cobra e sempre cobrará o que é de direito da população de São Paulo, considerando quantitativos populacionais dos públicos-alvo da campanha".

A secretária de Saúde da Bahia disse ao UOL que "apesar de entender que os números são proporcionais à população que deverá ser imunizada nesta primeira fase, obviamente a Bahia gostaria de receber mais doses". "E segue nesse intento."

O Paraná disse que "está dialogando com o Ministério da Saúde para receber doses a mais, equalizando assim a diferença". O Piauí diz que "a proporção de doses recebidas é considerada muito pequena". Os outros estados não responderam.

Para o presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Juarez Cunha, a discussão de estados sobre doses é sintoma de um problema maior. "Se não fosse a falta de vacinas, nada disso estaria acontecendo." O Brasil não tem garantia de doses para atender toda a população no curto prazo.