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UOL Explica: Saiba a origem de Pfizer, CoronaVac, Sputnik e outras vacinas

Consultoria estima que governos investiram mais de US$ 10 bi no ano passado no desenvolvimento de vacinas contra a covid - Igor Golovniov/SOPA Images/LightRocket via Getty Images
Consultoria estima que governos investiram mais de US$ 10 bi no ano passado no desenvolvimento de vacinas contra a covid Imagem: Igor Golovniov/SOPA Images/LightRocket via Getty Images

Guilherme Castellar

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

12/02/2021 04h00Atualizada em 01/06/2021 20h16

Tornar viável uma vacina contra a covid-19 em menos de um ano só foi possível com muito dinheiro. A consultoria britânica Airfinity, calcula que só os governos despejaram mais de US$ 10 bilhões (mais de R$ 50 bilhões) no ano passado para acelerar o desenvolvimento dos imunizantes.

Laboratórios e farmacêuticas começaram a desenvolver possíveis vacinas logo depois do surgimento dos primeiros casos, ainda na China. Há diferentes imunizantes em uso em diferentes partes do mundo —no Brasil, por enquanto foram distribuídas doses da Pfizer, CoronaVac e Oxford/AstraZeneca. Outras, como Janssen e Sputnik, ainda esperam liberação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Conheça quem está por trás de seis dos imunizantes mais conhecidos e quem são os principais clientes:

Origem da vacina da Pfizer

No começo de 2020, o casal de médicos Ugur Sahin e Özlem Türeci, fundadores do laboratório alemão BioNTech, pararam suas pesquisas de tratamento contra o câncer e focaram numa vacina contra o novo coronavírus à base de uma nova tecnologia, o RNA mensageiro.

Com a pandemia instalada, a aposta do casal se mostrou certeira e logo a Pfizer, gigante farmacêutica americana, entrou como colaboradora. Os resultados de eficácia em torno de 95% valorizaram as ações da BioNTech e, da noite para o dia, Ugur Sahin, que possui 18% dos papéis da empresa, se transformou num dos 100 mais ricos da Alemanha.

Professor Ugur Sahin, um dos cientistas que liderou desenvolvimento da vacina Pfizer/BioNTech - BBC News Brasil - BBC News Brasil
Professor Ugur Sahin, um dos cientistas que liderou desenvolvimento da vacina Pfizer/BioNTech
Imagem: BBC News Brasil

Dos US$ 3,1 bilhões (cerca de R$ 16,7 bilhões) estimados para a produção da BNT162, 84% são de recursos privados, incluindo US$ 1,5 bilhão (R$ 7,5 bilhões) desembolsado pela própria Pfizer. O laboratório recusou ajuda direta do governo americano, mas aceitou o compromisso de compra de 100 milhões de doses pela quantia de US$ 1,95 bilhão (R$ 10,3 bilhões). Já a BioNTech recebeu uma contribuição de US$ 445 milhões (R$ 2,3 bilhões) do governo alemão.

Foi a primeira vacina contra covid-19 a ser usada no mundo —a primeira dose foi aplicada dia 8 de dezembro, no Reino Unido. Pelo monitoramento da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, 58 países já aplicam esta vacina, incluindo outros países europeus, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Chile, México, Israel e Arábia Saudita.

Oxford/AstraZeneca

A vacina Oxford/AstraZeneca (o nome formal é AZD1222) nasceu dentro dos laboratórios da Universidade Oxford, no Reino Unido. Quando os pesquisadores perceberam que tinham um projeto viável na mão, a universidade se juntou à farmacêutica inglesa AstraZeneca.

Das principais vacinas em uso no mundo atualmente, a Oxford/AstraZeneca foi a que mais angariou investimentos: US$ 12 bilhões (R$ 63 bilhões), segundo a Airfinity. Desses, três quartos são privados, incluindo recursos próprios, de grupos de capital de risco e de parcerias ao redor do planeta —incluindo a Fiocruz, que fará a vacina no Brasil. O governo dos Estados Unidos desembolsou US$ 1,2 bilhão (R$ 6,3 bilhões) para a compra de 300 milhões de doses.

Segundo a ONG Contas Abertas, o Brasil já teria pago cerca de R$ 1 bilhão (US$ 185 milhões) para o ingrediente da vacina, o Insumo Farmacêutico Ativo (IFA).

Para garantir ainda mais escala na produção e distribuição do produto, a AstraZeneca fechou também parceria com o Instituto Serum da Índia, maior fabricante de vacinas do mundo, que deve produzir 1 bilhão de doses. De lá partiu o primeiro lote de 2 milhões de doses vacina Oxford/AstraZeneca para o Brasil.

Por se tratar de uma das opções mais baratas e de fácil logística (é conservada em geladeira comum), a vacina inglesa pode ser a mais usada na pandemia. Até dezembro, 3,2 bilhões de doses haviam sido contratadas e ela já é aplicada em 34 países. Mas, com tantos pedidos, a AstraZeneca vem sofrendo pressão por atraso em suas encomendas.

Moderna

A vacina da farmacêutica americana Moderna foi desenvolvida em conjunto com pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde do governo dos EUA. Tanto que ela é quase que totalmente financiada por Washington, que forneceu quase US$ 1 bilhão (R$ 5,3 bilhões) para a pesquisas, testes clínicos e fabricação.

Os EUA já adquiriram 200 milhões de doses do imunizante, sendo que 26 milhões foram entregues no fim de janeiro.

A lista de clientes inclui ainda a União Europeia, Canadá, Japão, Qatar e Coreia do Sul. Atualmente, o produto da Moderna é o terceiro mais adotado, com 27 países aplicando suas doses.

CoronaVac

Apesar da tentativa de seguidores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em associar a CoronaVac à ditadura comunista da China, na realidade a vacina foi desenvolvida por uma empresa privada —ao menos no papel—, a Sinovac Biotech, fornecedora mundial de vacinas contra influenza, hepatites A e B, caxumba e H1N1.

A enfermeira Monica Calazans foi a primeira vacinada no Brasil --com a CoronaVac - Eduardo Anizelli/Folhapress - Eduardo Anizelli/Folhapress
A enfermeira Monica Calazans foi a primeira vacinada no Brasil --com a CoronaVac
Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress

Não está claro se a vacina recebeu dinheiro de Pequim para acelerar as pesquisas. Em maio do 2020, a Sinovac anunciou aporte de US$ 15 milhões (R$ 79 milhões) de dois fundos de capital e, no final do ano, outros US$ 500 milhões (R$ 2,6 bilhões) de outro conglomerado farmacêutico chinês, a Sino Biopharmaceutical, para expansão da capacidade de fabricação da vacina.

Além da parceria de produção com o Instituto Butantan, a Sinovac firmou outro semelhante em agosto, com a farmacêutica PT Bio Farma, da Indonésia. Aqui no Brasil, o governo de São Paulo não dá detalhes sobre os gastos com a produção da CoronaVac e alega que tem um acordo de confidencialidade com a parceria chinesa.

É a vacina mais utilizada no Brasil.

Sputnik V

O desenvolvimento da vacina russa Sputnik V foi marcado por mais cautela do que otimismo na comunidade científica, em razão da falta de informações sobre os testes clínicos e decisões precipitadas do governo russo —ela foi aprovada no país de origem ainda em agosto, antes da conclusão dos estudos de desenvolvimento do imunizante.

Ao final, o imunizante criado pelos pesquisadores do Centro Gamaleya, com apoio do FRID (Fundo Russo de Investimentos Diretos), fundo soberano do país, surpreendeu com uma eficácia de 91,6%.

O FRID também está firmando parcerias para produção da Sputnik V em outros países, como o Brasil —com a farmacêutica União Química—, Índia, China e Coreia do Sul. Por aqui, a Anvisa vem sofrendo pressão de deputados e senadores para acelerar o processo de aprovação para uso emergencial do imunizante.

Os principais mercados da Sputnik são países de economias de baixa e média renda na Ásia, África e América Latina. Mais de 20 países possuem encomendas da vacina. Ela já está em uso em seis, incluindo México, Bolívia e Argentina.

Janssen

A Janssen, farmacêutica do grupo Johnson & Johnson, largou um pouco atrasada na corrida por imunizantes. A fase 3 dos testes de sua vacina começou em setembro, dois meses depois do produto da Pfizer-BioNTech. Os estudos chegaram a ser interrompidos em mais de uma ocasião por causa de "eventos adversos graves".

Quase metade do orçamento estimado para produção da vacina veio do governo dos EUA (US$ 480 milhões — R$ 2,5 bilhões).

Além disso, Washington firmou um compromisso de compra de 100 milhões de doses pelo valor de US$ 1 bilhão (R$ 5,3 bilhões) —a FDA, agência de medicamentos dos EUA, está avaliando o registro do imunizante, que ainda não está em uso em nenhum país.

A União Europeia também tem contrato de compra de 200 milhões de doses. E a iniciativa Covax, da OMS, tem outras 500 milhões de doses reservadas.