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'Se possível, façam orações em casa', diz Gabbardo para evitar contaminação

Carolina Marins e Thaís Augusto

Do UOL, em São Paulo*

04/03/2021 15h48Atualizada em 04/03/2021 16h57

Apesar da classificação feita pelo governo de São Paulo de igrejas como atividades essenciais, o coordenador-executivo do Centro de Contingência do Coronavírus, João Gabbardo, pede para que as pessoas "façam as suas orações em casa".

Na última segunda-feira, o governador João Doria (PSDB) assinou um decreto que classifica as atividades religiosas como essenciais, podendo funcionar mesmo com o retrocesso à fase vermelha em São Paulo.

"Permitimos a liberação das igrejas, mas com muitas restrições para reduzir o risco. O ideal é que, se possível, as pessoas façam suas orações em casa, evitem ir a qualquer tipo de evento público, mesmo nas igrejas. Mas, se forem, que o façam com todos os cuidados possíveis de distanciamento e de não cumprimentar pessoas", afirmou Gabbardo.

Pessoas que vão [às igrejas] devem ser alertadas: estão indo para uma zona de risco. Não tem chance das pessoas estarem dentro do ambiente cantando e é impensável estarem sem máscara.
João Gabbardo, coordenador-executivo do Centro de Contingência do Coronavírus

As declarações foram dadas no UOL Entrevista, conduzido pelas colunistas do UOL Carla Araújo e Maria Carolina Trevisan.

O estado de São Paulo passará para a fase vermelha a partir deste sábado (6). Pelo Plano SP, somente serviços essenciais como farmácias e supermercados funcionariam, mas o governo fez adaptações para permitir que alguns serviços e atividades continuem.

Essas adaptações têm causado desgastes com os médicos que integram o Centro de Contingência, como já adiantou o UOL. Os especialistas defendem um lockdown mais rigoroso por no mínimo dez dias, prevendo um colapso no sistema de saúde do estado em 15 dias.

Escolas abertas

Gabbardo fez um pedido semelhante ao falar sobre as aulas presenciais. Mesmo com a regressão para a fase mais restritiva do Plano SP, as escolas continuam abertas. Segundo o coordenador, apenas crianças que têm maior vulnerabilidade devem ir às escolas.

"Quem deve ir para as escolas? As crianças que dependem até mesmo da alimentação na escola ou que tenham dificuldade para manter o mínimo de aprendizado ou aquelas que os pais não têm com quem deixar", comentou Gabbardo.

"Isso tem que ser repetido entre professores, diretores e pais de alunos para identificar quais crianças podem ir. Não precisam ir também todos os dias, podem ir alguns dias da semana, intercalar. Mas é uma tendência mundial de que a escola é [o serviço] mais essencial de todos e deve continuar aberta", afirmou.

Gabbardo ainda disse que o governo vai continuar permitindo a abertura das escolas enquanto for possível. No entanto, o coordenador citou a possibilidade de se criar uma fase ainda mais restritiva no plano de abertura, a fase roxa, em que até atividades essenciais poderão sofrer restrições.

"Uma fase de endurecimento ainda maior, onde mesmo os serviços essenciais não funcionariam em sua plenitude. Alguns funcionariam com horário reduzido, menos movimentação de pessoas para que pudesse diminuir ainda mais a circulação, o uso de transporte coletivo".

Se formos para fase roxa, que temos que ser ainda mais restritivos do que somos hoje, é possível de que saia uma recomendação de fechamento e não utilização da escola de forma presencial.
João Gabbardo, coordenador-executivo do Centro de Contingência do Coronavírus

Inicialmente a restrição deve até 19 de março. Questionado sobre a possibilidade de estender esse período, Gabbardo respondeu que dependerá da avaliação dos próximos dias.

"A ideia é que a gente possa nesses 15 dias analisar os indicadores. Se ao final desses 15 dias ocorrer uma melhora nos indicadores, é possível que algumas regiões possam voltar. O estado inteiro com certeza não, mas algumas regiões possam voltar para a [fase] laranja."

Números não surpreendem

Segundo, Gabbardo, embora os números de mortos estejam muito altos —com 1.300 óbitos em média por dia no Brasil—, eles não surpreendem, pois desta vez a pandemia está ocorrendo simultaneamente em todos os lugares do país.

"Estamos vendo a pandemia ocorrendo simultaneamente em todos os estados e também dentro dos estados pegando geral, capital e interior juntos. Então esses números soam bastante assustadores."

Prever que isso vai melhorar nos próximos dias é difícil. A expectativa que temos é que possa piorar nas próximas semanas.
João Gabbardo, coordenador-executivo do Centro de Contingência do Coronavírus de São Paulo

De acordo com ele, seria possível impedir ainda mais a transmissão "galopante" do coronavírus se houvesse ajudasse do governo federal. "Se tivéssemos apoio do governo federal —porque são atribuições dele, como, por exemplo, a questão dos aeroportos... Ninguém tem dúvida de que hoje a transmissão dessa nova cepa do vírus está ocorrendo de forma galopante através do transporte aéreo, das linhas que ligam o Norte, Nordeste, Sul e Sudeste."

"O segundo [motivo] é que é importante ter uma comunicação única. O presidente tem uma turma de seguidores, sei lá, 30% da população brasileira, que são muito organizados nas redes sociais. Então, enquanto o presidente ficar tendo esse tipo de reação, dizendo que é frescura, mimimi, ele incentiva todo esse pessoal a criar uma contrainformação."

Segundo Gabbardo, com a desinformação, o papel dos gestores fica difícil. "Tem uma parcela da população que recebe informações divergentes, cria polêmica, conflitos de informação. O governo federal minimiza os efeitos da pandemia, é negacionista", criticou.

"Ontem, o presidente disse que não ia brigar com governadores, que quem precisasse de recursos ele ia conversar. Hoje já caiu na realidade [dos seguidores] novamente."

Spray de Israel

Gabbardo criticou uma fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que garantiu enviar uma equipe a Israel para conhecer o spray nasal EXO-CD24, medicamento que começou a ser testado contra a covid-19 apenas recentemente e ainda não tem dados de eficácia publicados.

"É incompreensível mandar um grupo de pessoas para Israel. Eles deveriam ir para ver o que fizeram na vacinação e para trazer coisas positivas. Israel está vacinando todo mundo, o número de internações caiu abruptamente e o número de óbitos também. Aí eles vão lá para olhar uma coisa que está em avaliação e não passou nem pela fase 1, 2 ou 3? Vão perder tempo com isso. Não tem sentido", criticou Gabbardo.

Ir para Israel buscar uma alternativa mágica? É um movimento totalmente equivocado do governo.
João Gabbardo, coordenador-executivo do Centro de Contingência do Coronavírus

Natal melhor

O coordenador-executivo do Centro de Contingência do Coronavírus afirmou esperar que o cenário da pandemia no Brasil vai melhorar ao longo do ano e que o Natal de 2021 será melhor do que o de 2020.

"Dá para imaginar que a gente possa ter um Natal e um final de ano bem melhores do que tivemos. Essa é a minha expectativa. No ano passado, não vislumbrávamos o futuro, não sabíamos como seria o futuro, como seria o andamento da doença e não tínhamos a mínima possibilidade de imaginar que teríamos, em tão pouco tempo, uma vacina", disse Gabbardo. "Hoje, temos várias vacinas e vamos ter o suficiente a partir do segundo semestre do ano."

O Brasil poderá ser imunizado na sua totalidade até o final do ano. Tenho convicção disso.
João Gabbardo, coordenador-executivo do Centro de Contingência do Coronavírus

* Colaboraram Felipe Oliveira e Douglas Porto