'Se a fiscalização chegar, a gente fecha': bares burlam decreto no RJ
Bares do Rio de Janeiro burlaram a fiscalização e atenderam o público depois das 20h, descumprindo as medidas restritivas que entraram em vigor ontem. Inicialmente, o decreto do prefeito Eduardo Paes (DEM) previa o fechamento dos bares a partir das 17h, mas uma liminar da Justiça derrubou parte da medida, garantindo a ampliação do horário.
Mais de 1.000 agentes estiveram nas ruas em uma ação integrada entre guardas municipais, policiais militares e bombeiros com o apoio de câmeras, monitoradas no Centro de Operações da Prefeitura. As restrições serão mantidas até a próxima quinta-feira (11), quando serão reavaliadas.
O UOL percorreu as ruas de bairros da zona sul do Rio, como Copacabana, Leblon, Botafogo e Laranjeiras para observar o primeiro dia de funcionamento das medidas restritivas. A reportagem também circulou pela Lapa, região central da capital fluminense e um dos principais redutos da vida noturna carioca.
Enquanto bares tradicionais fecharam as portas em ruas onde era possível ver a presença de fiscais de plantão em viaturas, estabelecimentos de menor porte burlaram o decreto em ruas que pareciam estar fora do circuito noturno do Rio.
Em um bar na esquina entre as ruas Santa Clara e Domingos Ferreira, havia mais de 15 mesas na calçada, com clientes, por volta das 22h. O movimento por ali havia dobrado, já que os outros bares nas redondezas fecharam as portas por causa da restrição.
Está aberto por ordem do dono. Se a fiscalização chegar, a gente fecha. Dizem que no início é só advertência, né?
Um dos funcionários do estabelecimento, que pediu para não ser identificado
"Fomos pegos de surpresa [com a restrição]. Mas aí encontramos esse bar aberto", disse a autônoma Yasmin Macedo, 19, que veio de Brasília para o Rio com o namorado.
Na mesa ao lado, a comerciante Solange Sampaio, 52, se queixou do decreto: "A decisão foi muito rígida e muito em cima da hora".
'Vou ter que voltar para o hotel'
Uma equipe de fiscalização da Guarda Municipal disse ter autuado mais de dez estabelecimentos em Copacabana na noite de ontem.
O UOL acompanhou uma das autuações em um bar na rua Barata Ribeiro. "Eles são obrigados a fechar. Caso se neguem, vão perder o alvará de funcionamento", explicou um agente que fazia a notificação.
Em meio à ação dos fiscais, funcionários do estabelecimento se apressaram para fechar as contas dos clientes, que demonstravam insatisfação com o episódio.
"Eu queria sair à noite, mas está tudo fechado. Agora, vou ter que voltar para o hotel", lamentou a advogada Jeniffer Gonçalves, 25, que veio de Presidente Prudente-SP para o Rio.
"Era o único local que estava aberto. Acho errado [fechar]. É um bar humilde, que precisa ganhar dinheiro. Não tem risco de transmissão do vírus aqui porque as mesas estão distantes e estamos ao ar livre", disse o empresário Luiz Melo, 52.
'Aqui é família'
Um grupo de turistas de São Paulo que bebia cerveja em um bar na rua Constante Ramos, em Copacabana, se frustrou com a restrição do horário, mas disse que as limitações são ainda maiores onde moram.
"Queria sair da rotina de São Paulo. Lá, a fiscalização está mais rigorosa", compara o fonoaudiólogo Marcos Ribeiro, 39. "Esperava que estivesse tudo aberto", disse a coordenadora de logística Caroline Ventura, 32.
A doméstica Maria de Lurdes, 52, contestou a restrição e disse que não há risco de contaminação ao permanecer à noite em uma mesa de bar. "Não estamos aglomerados. E aqui é família".
'Risco de pegar o vírus no BRT lotado é muito maior'
O psicólogo Umberto Vieira, 45, nem pensava em sair para beber ontem à noite, já que sabia da restrição. Mas acabou descobrindo que havia um pequeno bar aberto em Botafogo, zona sul do Rio, e decidiu ir ao local.
"Sei que não estou fazendo a minha parte porque estou aqui, bebendo. Mas não adianta só cumprir o que o governo determina, porque há um mau planejamento e um exagero nessa medida. O risco de pegar o vírus no BRT lotado é muito maior do que em um bar ao ar livre", afirma.
Ele ainda compara a medida com o que, segundo ele, ocorre nas favelas do Rio. "Detonam esse cara [dono do bar], que paga as suas contas em dia e ainda é obrigado a fechar. Quero ver a fiscalização subir o morro para multar o comerciante lá, que nem tem CNPJ. Lá, só para se o traficante mandar", disse.
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