Jovem achou que covid seria leve; foi intubado e passou 7 dias inconsciente
Gustavo Savioli tinha medo de ser infectado pelo novo coronavírus, mas não o suficiente para impedir encontros com amigos em casa ou em sítios. Aos 24 anos, pensava: "Se pegasse, só perderia olfato e paladar. Achei, inclusive, que já tinha pegado".
Mas a realidade, imprevisível, fez acontecer tudo diferente. Infelizmente, para pior.
Savioli se contaminou, teve 50% dos pulmões comprometidos, foi internado e intubado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) por 14 dias no hospital Unimed, em São Roque, interior de São Paulo.
O assistente de logística não sabe dizer quando pegou covid-19, mas suspeita de que tenha sido em alguns dos encontros com amigos. Teve febre em 15 de fevereiro. Mas os sintomas pioraram com o passar dos dias, obrigando o rapaz a voltar ao hospital outras duas vezes. Tinha uma tosse intermitente e crises de falta de ar.
Na terceira vez no hospital, por lá ficou. A tomografia indicava um grande estrago nos pulmões e baixa saturação de oxigênio. "Não deu tempo nem de pensar", conta.
Quando eles me deram a máscara de oxigênio, enquanto ainda estava sendo atendido, já fiquei em choque. Você já começa a pensar na televisão, nos jornais, nas mortes, nas contagens, nas estatísticas. Você pensa no pior. Fiquei com muito medo.
Gustavo Savioli, 24, sobrevivente da covid-19
Seu quadro progrediu rápido, obrigando a ser intubado. Do lado de fora do hospital, a família intensificava as orações.
Foram sete dias inconsciente. Ele não se lembra de nada. Mas relata como foi a conversa ao acordar.
"A primeira coisa que fizeram foi me acalmar. Disseram que eu estava agitado, que seria efeito dos sedativos. Então, me perguntaram: 'Gustavo, sabe onde você está?'. E eu respondi: 'Em casa'. O médico me disse que estava na UTI de covid. Fiquei assustado de novo. Mas ele disse que, se eu ficasse calmo e fizesse o tratamento, sairia rapidinho,"
Teve de fazer diversos tratamentos para fortalecer os pulmões. "Usei quatro máscaras diferentes, para fazer o pulmão voltar a funcionar. Estou com rosto machucado ainda por causa de uma delas", disse.
Hoje, ainda sente as consequências da doença. "É muito estranho. Ainda sinto como se estivesse no hospital. Estou com horário errado, não consigo dormir à noite. Tenho lembranças do hospital a toda hora."
Ele faz um alerta aos jovens:
Eu também estava relaxado. Achava que não ia pegar, que seria assintomático. Não deixava de fazer minhas coisas, ver amigos, cumprimentá-los normalmente. Ia em chácara, casa de alguém. Depois de passar por isso, só tive uma coisa: medo. Só saio para ir ao médico e para a fisioterapia.
Gustavo Savioli, 24, sobrevivente da covid-19
"A covid é uma doença que não tem previsão de cura. Tem que levar a sério. Tem que respeitar e se cuidar. Não dá para brincar. As pessoas só respeitam quando alguém da família pega e acontece o pior", afirma.
Ele ressalta o trabalho dos enfermeiros e médicos. "Eles são os responsáveis por eu estar vivo. Tem uma pessoa que eu falava que estava com medo de morrer e ela fazia carinho em mim. Acredita que eu sinto saudade desse carinho deles? Só do carinho, claro. Temos que agradecer muito a eles."
Ele sobreviveu a um vírus que já matou mais de 300 mil pessoas no país. Além da memória, tem o vídeo feito por um familiar na saída do hospital.
"Eu saí e todo mundo me deu parabéns, me chamando de guerreiro. Foi igual ganhar uma guerra, realmente. Sensação de vitória."
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