Sob pressão, diretor da Anvisa diz ser triste ver quem não valorize agência
Sob pressão de parte de governadores e parlamentares para a liberação do uso das vacinas contra a covid-19 Sputnik V e Covaxin no país, o diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres, afirmou hoje ser "triste" ver pessoas que não reconhecem o trabalho da agência.
"Lamento profundamente vozes que se erguem como se fosse vergonha ter orgulho e reconhecer o trabalho desta agência nacional. É triste ver vozes dentro do Brasil que vão em sentido contrário ao reconhecimento que esta agência desfruta e tem em todo o exterior junto com agências coirmãs que dispõem da mesma titulação. É uma pena que no nosso país vozes se ergam no sentido de não valorizar o que é brasileiro, o que é nosso", declarou, durante reunião da diretoria colegiada da Anvisa.
A fala aconteceu quando a direção da Anvisa analisava proposta de consulta pública sobre o aproveitamento de análises realizadas por autoridades reguladoras estrangeiras equivalentes à Anvisa para a regularização de produtos sujeitos à vigilância sanitária. A intenção é otimizar o procedimento de análises dentro da Anvisa.
Mais tarde, em sessão do Senado, o líder da oposição na Casa, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), criticou duramente a Anvisa e defendeu que os parlamentares aumentem o tom contra a agência ao citar as situações da Sputnik V e da Covaxin.
"A Anvisa insiste em tratar tempos de guerra como se fossem tempos de paz. Isso, sim, tem uma responsabilidade no genocídio que nós estamos vivendo. Isso, sim, tem uma responsabilidade direta", disse.
"Há muito de burocracia e, acredito, pouco de técnica e de ciência nessa burocratização, no meu entender, nesse momento, não inteligente e assassina, que atrasa pelo menos mais duas vacinas para termos no arsenal brasileiro", acrescentou.
Uma decisão quanto ao uso emergencial da vacina Sputnik V ainda não foi tomada pela Anvisa pelo fato de nem todos os documentos necessários para a conclusão da análise terem sido entregues pelo laboratório União Química, representante do imunizante russo no Brasil.
A Anvisa também analisa pedido de importação excepcional da Sputnik feito por ao menos 11 estados brasileiros. Ao menos 37 milhões de doses do imunizante foram comprados por governadores, mas não chegaram ao Brasil, pois é preciso um parecer da Anvisa quanto à possibilidade.
Ontem e hoje, mandatários estaduais e técnicos se reuniram com a Anvisa para discutir o caso. Um relatório exigido para subsidiar a decisão da Anvisa ainda não foi entregue, segundo a agência. No entanto, afirma buscar outros meios para conseguir informações que ajudem na tomada de decisão. A Anvisa defende que precisa assegurar a qualidade e a segurança dos produtos que são utilizados no Brasil.
No final de março, a Anvisa negou um pedido do Ministério da Saúde para importar a vacina Covaxin, produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech. Os dados apresentados para comprovar a eficácia e segurança no uso do imunizante foram considerados insuficientes e até contraditórios.
Antes, a Anvisa havia negado um pedido de certificação de boas práticas de fabricação após inspeção de fábrica na Índia e análise de documentação.
O Ministério da Saúde anunciou, em fevereiro deste ano, a assinatura de contrato com a Precisa Medicamentos, representante da Bharat Biotech no Brasil, para a entrega de 20 milhões de doses da Covaxin entre março e maio, sendo que 8 milhões estavam previstos para março, mais 8 milhões em abril e 4 milhões para maio. O cronograma, porém, já está atrasado.
Na Câmara, os deputados aprovaram projeto de lei que facilita a compra e aplicação de vacinas contra a covid-19 por empresas privadas a seus funcionários. Um dos pontos do texto permite que sejam adquiridas doses de imunizantes que não tenham autorização da Anvisa, bastando o aceite de agências reconhecidas e certificadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
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