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'Em SP, pelo menos tem um programa de combate à pandemia', diz Edinho Silva

Do UOL, em São Paulo

13/04/2021 11h46Atualizada em 13/04/2021 12h55

O prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), voltou a fazer críticas contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) diante da condução de políticas para combater a pandemia no país.

O gestor municipal afirmou que, ao politizar esse enfrentamento, quem perde é o povo e que, apesar de o governador João Doria (PSDB) não ter sido seu candidato, ele estabeleceu um programa de enfrentamento à covid-19 que merece reconhecimento.

"O governador João Doria não foi meu candidato, não apoiei, tenho críticas em diversas áreas ao governo Doria e críticas em pontos da condução da pandemia. Em São Paulo você pode criticar o programa de enfrentamento da pandemia, mas pelo menos tem um programa que você pode criticar", disse.

Silva reforçou que é preciso unir forças para combater a crise sanitária e econômica, porque as contaminações continuam em alta. As declarações foram dadas durante uma entrevista ao colunista do UOL Leonardo Sakamoto e ao repórter Lucas Borges Teixeira.

"Doria, com todas as críticas que possa ter, tem tido postura republicana com todos os prefeitos. Criou um comitê municipalista com prefeitos de todos os partidos para discutirmos em conjunto. Tem esforço do [Instituto] Butantan para produzir vacinas", relembrou ele.

"Realidade se impôs"

Edinho Silva também disse que nenhum governante gosta de adotar lockdown, mas que a medida foi necessária diante do aumento de casos da covid-19 na região.

"Nós tínhamos uma curva móvel de contaminados crescente. Projetamos o impacto dessa possibilidade de crescimento nos leitos e desenhamos o cenário de colapso. O lockdown foi adotado quando não tínhamos outra medida a adotar. É uma imposição da realidade", disse.

O prefeito afirmou ainda que as medidas mais restritivas na cidade contaram com a colaboração dos moradores da cidade para reduzir o número de casos da doença.

Conseguimos unificar a cidade em torno das medidas. A cidade se uniu, entendeu a necessidade, adotamos medidas mais restritivas do que a Europa. E o reflexo foi a queda de 78% dos óbitos. Pacientes em quarentena: 75% de queda. É uma medida dura, difícil, mas a única que se pode tomar quando não tem vacinação em massa. Edinho Silva (PT), prefeito de Araraquara (SP)

Em fevereiro, o prefeito decretou um lockdown de dez dias na cidade do interior paulista e, como consequência, viu o número de mortes pela covid-19 e as filas de pacientes aguardando por leitos de UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) zerar. Em um mês, a média móvel de casos diminuiu de 189 para 80.

Silva considerou a cidade em uma "situação favorável". "Mas não vencemos a pandemia. Temos muito que trabalhar para ter governabilidade segura em relação à covid-19."

Com a flexibilização das regras, no entanto, o vírus deve voltar a circular na população. Ontem, a cidade registrou 72 novos casos de covid-19. Os leitos de UTI estão com ocupação de 93%, enquanto os leitos de enfermaria registram taxa de 52%.

Ameaças de morte

O prefeito chegou a ser alvo de ameaças de morte na internet, um mês após decretar lockdown na cidade localizada no interior de São Paulo. A medida ocorreu devido ao colapso nos hospitais da cidade gerado pela elevação de casos da covid-19.

No Facebook, internautas alegaram que iriam "encapuzados" até a casa do político. "Ia esfaquear ele de baixo para cima", ameaçou uma das pessoas.

A polarização, a intolerância, o estímulo ao ódio, esse negacionismo nas relações sociais também se refletem aqui. É minoritário, não tem peso em relação à sociedade, mas existiu. A lei vale para todos, inclusive para negacionistas.
Edinho Silva (PT), prefeito de Araraquara (SP)

O endereço onde o prefeito mora com a família também foi divulgado. "Aqui tem coragem. Queria só um round com ele primeiro", escreveu um dos homens que o ameaçaram.

Ele disse, entretanto, não ter "mudado um milímetro" em sua agenda de compromissos.

"Orientado pelos procuradores da prefeitura, sou prefeito e não posso ser ameaçado sem tomar medidas. Qualquer ato de violência tem que ser coibido. Como gestor, não posso conviver com isso para estimular que pessoas não convivam com isso. Medidas foram tomadas e agora é com o Ministério Público e Judiciário."

Falta de suporte para os municípios

Edinho Silva também disse que infelizmente a realidade dos municípios e dos setores sociais é de "sofrimento" diante da pandemia. Na visão do gestor municipal, deveria existir um programa de socorro ao pequeno e médio empresário, seguindo o modelo de grandes potências mundiais.

"Estão enfrentando [a pandemia] com a vacinação em massa e socorro econômico. É como em uma economia de guerra. Tem que aumentar a base monetária e gerar a estabilidade necessária, que você só consegue se tiver governança sobre a pandemia com vacinação ou com isolamento social. Não temos programa de socorro e isso dificulta que municípios consigam formar opinião para que se tenha isolamento social."

O gestor municipal citou a unificação de municípios para enfrentar a pandemia para além das iniciativas do governo federal. Ao mesmo tempo, o prefeito alegou que há dificuldades municipais na adoção de medidas restritivas.