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Anvisa volta a criticar Sputnik V e questiona eficácia e estudos no Brasil

Antônio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa, disse que russos afirmaram haver estudos em curso no Brasil, mas eles nunca foram autorizados - Pedro França/Agência Senado
Antônio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa, disse que russos afirmaram haver estudos em curso no Brasil, mas eles nunca foram autorizados Imagem: Pedro França/Agência Senado

Do UOL, em São Paulo

30/04/2021 15h43Atualizada em 30/04/2021 15h53

Um dia após expor documentos e diálogos com representantes da vacina russa Sputnik V como forma de se justificar pelo veto à importação do imunizante contra a covid-19, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) voltou a criticar pontos importantes da documentação enviada pelo Instituto Gamaleya. Segundo o diretor-presidente da agência, Antônio Barra Torres, há problemas quanto à eficácia da vacina e a suposta realização de estudos no Brasil.

Enquanto o principal entrave para o veto segue sendo a possibilidade da presença de um adenovírus replicante no imunizante, que poderia representar riscos à saúde de quem recebe a vacina, a Anvisa apontou outras inconsistências nos documentos analisados. Em entrevista à GloboNews, Barra Torres disse que não há dados que comprovem a eficácia do imunizante.

Quero apontar a questão de que várias afirmações científicas do Instituto Gamaleya não vêm acompanhadas de como chegaram naquele ponto. No caso da eficácia, os documentos que recebemos, que apontam mais de 90%, dão o fato consumado, mas não dão como se chegou a esse cálculo.
Antônio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa

O chefe da Anvisa se refere à eficácia de 91,6% apresentada pelo próprio Gamaleya em fevereiro. A conclusão, porém, feita a partir de dados preliminares de estudos de fase 3, foi criticada por parte da comunidade científica por não ter recebido uma avaliação de uma autoridade independente de testes.

Além da eficácia, Barra Torres questionou a realização no Brasil de testes de fase 3, que visam comprovar a eficácia da vacina. A União Química, laboratório brasileiro que adquiriu os direitos da produção do imunizante no país, chegou a fazer o pedido de autorização dos testes à Anvisa, mas eles nunca foram autorizados.

Segundo o diretor da agência federal, documentos enviados pelos russos afirmam que esses estudos estão em andamento em vários países, incluindo o Brasil.

"Esse é um documento de 2020. Vejam que em cima está escrito 'current status: ongoing". Ou seja, estudos em andamento em 2020. Isso não aconteceu. E isso é um documento vindo lá da Sputnik V que está à disposição, ele não é reservado", disse Barra Torres, mostrando o documento que afirmou ter sido enviado pelo Gamaleya.

Riscos apontados pela Anvisa

O chefe da agência reforçou que a constatação da presença do adenovírus replicante no imunizante poderia, na visão da Anvisa, acarretar consequências a longo prazo para quem recebesse a vacina. Barra Torres citou possíveis alterações no aparelho reprodutor de homens e mulheres.

Nós temos que salvar vidas e o salvamento de vida é algo de curto prazo, mas nós não podemos para salvar essa mesma vida ter dúvida quanto à sua longevidade. Isso precisa ser esclarecido para que possamos dizer: 'buscamos nos salvar agora do coronavirus, mas salvar capacidade reprodutiva, preservar capacidade de reagir a outras doenças, coisas que virão no meio e longo prazo'.
Antônio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa