Topo

Sem segunda dose da CoronaVac, famílias temem por imunização de idosos

Domicio Barbosa, 66, que tomou a CoronaVac pela primeira vez em 4 de abril, em Caruaru (PE), e aguarda a segunda dose - Arquivo Pessoal
Domicio Barbosa, 66, que tomou a CoronaVac pela primeira vez em 4 de abril, em Caruaru (PE), e aguarda a segunda dose Imagem: Arquivo Pessoal

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

08/05/2021 04h00Atualizada em 08/05/2021 10h07

O atraso na entrega da CoronaVac, que ocorre desde a semana passada em municípios brasileiros, tem causado preocupação em idosos que ainda não receberam a segunda dose do imunizante, mas já passaram do período de 28 dias de intervalo orientado na bula da vacina. Eles não sabem se precisarão tomar uma terceira dose.

Em Maceió, 6.430 idosos estão com a segunda aplicação da CoronaVac em atraso. Já no município de Caruaru (PE), são 4.000 idosos que estão com a segunda aplicação atrasada. As doses das vacinas são distribuídas pelo Ministério da Saúde e repassadas para os estados entregarem aos municípios. Não há explicação oficial de por que falta vacina da CoronaVac em algumas cidades e em outras, não.

É o caso da aposentada Dilma de Oliveira, 61, que espera desde o dia 27 de abril pela segunda dose da CoronaVac em Maceió. Familiares dela viram o anúncio da prefeitura que existiam doses para a última segunda-feira (3) e correram logo para levá-la a um posto de vacinação, mas ao chegarem se depararam com a informação que a vacina acabou. Ontem, eles tentaram novamente, mas sem sucesso.

"No dia 27 ela completou 28 dias para tomar a segunda dose. Cheguei a perguntar no posto de vacinação do bairro do Jaraguá e me disseram que tinha vacina, mas quando a peguei em casa e voltei não tinha mais. Voltamos lá e disseram que não teria a segunda dose", disse Laís Amorim, nora de Dilma. "Vimos a bula e o próprio Butantan informa que se passar desse prazo [de 28 dias] terá que ser feita uma nova dose, no caso, uma terceira dose", afirmou.

A aposentada Dilma de Oliveira, 61, que espera desde o dia 27 de abril pela segunda dose da CoronaVac em Maceió - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
A aposentada Dilma de Oliveira, 61, que espera desde o dia 27 de abril pela segunda dose da CoronaVac em Maceió
Imagem: Arquivo Pessoal

Laís conta que a sogra está com medo porque não está imunizada. "Ela tem depressão, e está com ansiedade. Se não tinham a certeza de que não ia vir a segunda dose nem ofertassem a primeira. É muita desorganização", disse.

A Prefeitura de Maceió informou que na última quarta que retornou a vacinação para pessoas que deveriam ter tomado a segunda dose no dia 27 de abril. Entretanto, a SMS (Secretaria Municipal de Saúde) informou que "o quantitativo em estoque é baixo" e que até o dia 5 não tinha recebido mais mais doses governo estadual.

Em Caruaru, a aplicação da segunda dose da CoronaVac está paralisada, sem previsão de retomada da vacinação para este público. O município diz que aguarda o envio da vacina pelo governo de Pernambuco.

O microindustrial Domicio Barbosa, 66, que está em isolamento desde o início da pandemia, pois tem diabetes e arritmia cardíaca — comorbidades que podem contribuir para complicações da covid-19 — disse que está sem entender porque faltou a segunda dose para ele.

"Quando tomei a primeira dose fiquei feliz, ciente que estava cumprindo meu dever, e alegria que estava no caminho da proteção da minha saúde contra essa doença, que não é uma gripezinha, ela mata. Não entendo por que não faltou vacina em outras cidades e outros estados", afirma Barbosa, que tomou a primeira dose da CoronaVac no dia 4 de abril, em Caruaru (PE).

Barbosa lembrou que quando o então ministro Eduardo Pazuello liberou que fossem ministradas todas as doses das vacinas — antes reservadas para a segunda dose —, ele chegou a temer que fosse faltar imunizantes para atender a todos.

"Disseram que com 28 dias eu voltasse para a segunda dose. Já na época eu fiquei na dúvida se ia faltar vacina. Agora faltou para mim e para muita gente. Não estou decepcionado, não, estou mais que isso: irritado. Se for para tomar uma terceira dose, tomarei, mas que isso seja explicado e que sejam garantidas a segunda e a terceira doses", afirmou Barbosa.

Em Alagoas, foram aplicadas 700.954 doses da vacina contra a covid-19, sendo a primeira dose em 475.455 pessoas e a segunda, em 225.999 pessoas. No site Alagoas Contra o Novo Coronavírus, do governo do Estado, não tem dados separados da quantidade da CoronaVac, da Pfizer e da vacina de Oxford aplicadas em Alagoas. Até agora, 178.288 pessoas foram infectadas pelo novo coronavírus e 4.347 morreram em decorrência da covid-19 em Alagoas.

Já em Pernambuco, 2.181.457 doses da vacina contra a covid-19 foram aplicadas, das quais 1.457.013 foram primeiras doses. A SES-PE (Secretaria Estadual de Saúde) informou que até agora 724.444 pessoas já finalizaram o esquema de vacinação. Boletim epidemiológico aponta que 420.766 pessoas foram infectadas pelo novo coronavírus e 14.434 mortes por covid-19.

A CoronaVac é produzida pelo Instituto Butantan, e a bula informa que são necessárias duas doses no intervalo de 14 a 28 dias para que ocorra a imunização. "Para completar o esquema de imunização é fundamental o recebimento da segunda dose mesmo que o intervalo seja superior aos 28 dias indicados na bula da vacina", disse o Butantan em nota enviada ao UOL, sem explicar se a segunda dose aplicada depois dos 28 dias será necessária uma terceira dose da vacina como reforço.

O Butantan disse que "a responsabilidade pelo planejamento e logística de distribuição das doses, além da orientação técnica aos estados em relação à utilização dos estoques, é exclusiva do Ministério da Saúde." O instituto informou que desde janeiro já foram enviadas 42,05 milhões de doses de CoronaVac ao governo federal e que mais 5 milhões de doses seriam entregues nesta semana.

O Ministério da Saúde afirmou que a distribuição é de responsabilidade dos governos estaduais aos municípios. O órgão informou, em nota técnica, que "a população deve tomar a segunda dose da vacina covid-19 mesmo que a aplicação ocorra fora do prazo recomendado pelo laboratório".

A Secretaria de Saúde de Pernambuco afirmou que aguarda nova remessa da CoronaVac e que a distribuição das vacinas contra a covid-19 é feita de forma "equânime entre os municípios" e leva-se em consideração as recomendações do governo federal.

A pasta informou que recebeu 18.800 doses da CoronaVac, entre os dias 29 de abril e o sábado passado (1º), e as encaminhou aos municípios. A secretaria afirmou ainda que os municípios têm autonomia para elaborar formas de acesso ao imunizante. "A recomendação de uso em segunda dose foi necessária já que as remessas do imunizante encaminhada pelo Ministério da Saúde vieram aquém do esperado", disse em nota.

A Sesau (Secretaria de Estado da Saúde) afirmou que "o Ministério da Saúde informou que, nesta semana, poderia chegar mais doses da CoronaVac ao estado. No entanto, não informou a quantidade", disse a pasta. Questionada sobre a desigualdade da distribuição das vacinas em municípios alagoanos, o órgão afirmou que a quantidade de doses enviadas para cada município consta em notas técnicas, "cada uma com justificativa para saber quanto cada cidade deve receber doses".