Lotação em UTI é crítica no interior de SP e se aproxima de pior momento
A vacinação lenta e a queda no distanciamento social são algumas das razões que explicam um dado preocupante: a lotação das UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) no interior de São Paulo já se aproxima do dia mais crítico registrado em 2021, ano de recorde de casos e mortes por covid-19.
Em todo o estado, são 10.078 pacientes com covid-19 em UTI, o equivalente a 77% dos internados no pior dia deste ano, em 2 de abril, quando houve 13.134. O recente aumento só não é maior graças à queda das internações na capital e na Grande São Paulo, as regiões mais populosas do estado, onde, somadas, há hoje 4.461 pessoas em UTI, contra 6.578 no pico de 2021.
Os dados são da plataforma de monitoramento Info Tracker —das universidades estaduais Unesp e USP—, que comparou o total de pessoas internadas em UTI no último dia 17 ao pior dia de ocupações em 2021 nos 22 DRSs (Departamentos Regionais de Saúde), que agrupam as cidades de acordo com características parecidas, como proximidade.
"Quando tomamos como parâmetro o pior momento de nossa história, só é possível afirmar que a situação ainda é crítica, visto que o cenário de hoje é muito pior que nosso pior momento em 2020", diz o coordenador da Info Tracker, o professor da Unesp Wallace Casaca. "E ainda há diversos DRS cujos índices estão muito próximos do pior momento de suas histórias."
Ao levar em conta a taxa de ocupação em UTI e o percentual de redução em relação ao pico de internados em 2021, a plataforma classificou a situação de cada uma das subregiões: dez estão em situação crítica, quatro em alerta e oito em estabilidade:
- "Crítica" - região que apresenta lotação de 90% a 100% em UTI
- "Em alerta" - quando a lotação fica entre 85% e 89% das vagas em UTI
- "Estável" - com ocupação abaixo de 84% em UTI.
É o caso de Registro, com 53 internados, mesma quantidade que o pior dia em 2021 na região, em 16 de maio. Em Marília, são 250 internados atualmente, quatro a menos do que o pico deste ano por lá (registrado em 19/4). Em Araraquara, há 205 pacientes em UTI, apenas oito a menos que o pico deste ano, em 4 de abril. Já em Marília, 250 pessoas estão na UTI, contra 254 no ápice deste ano, no dia 19 de abril.
Para o pesquisador, a alta taxa de ocupação de internações sobretudo no interior se deve em parte ao Plano São Paulo, que teria "deixado de cumprir seu papel de regular a reabertura econômica e os níveis de mobilidade de acordo com a situação pandêmica de cada região".
"Isso pode ser constatado a partir da baixa taxa de isolamento no estado", diz Casaca. Procurada, a Secretaria Estadual de Saúde não se manifestou até esta publicação.
Em todo o Brasil, diz o Datafolha, apenas 30% das pessoas acima de 16 anos declaram estar totalmente isoladas, contra 49% em março e 72% em abril do ano passado, quando houve recorde nessa taxa.
Os próximos meses
O professor teme pelo agravamento das internações em razão da diminuição no ritmo da campanha de vacinação no Brasil, muito dependente da CoronaVac, responsável por quase 70% das doses administradas.
Desde o último dia 14, o Instituto Butantan parou a produção do imunizante por falta de matéria-prima. Uma disputa diplomática com a China, fornecedora dos insumos, é apontada como o principal motivo.
Para o pesquisador, também há "ingredientes favoráveis" para que a terceira onda de contaminações chegue ao Brasil:
- Medidas de restrições afrouxadas;
- Plano SP em transição (inativo do ponto de vista operacional);
- Aumento na taxa de transmissão (nesta semana o Brasil passou de 1, o limite)
- Aumento de novos casos entre a primeira semana de maio e a semana passada --curva que estava em queda desde abril;
- Taxa de isolamento retornando aos piores níveis;
- Hospitais particulares sinalizando aumento de internações, o que tem sido o prelúdio de novas ondas.
Segundo levantamento do SindHosp (sindicato dos hospitais, clínicas e laboratórios paulistas) com 90 hospitais particulares, a ocupação de leitos em UTI saltou de 79% para 85% na última semana.
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