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Após Queiroga dizer que não leu bula de vacinas, CPI tem bate-boca

Rayanne Albuquerque, Luciana Amaral e Hanrrikson de Andrade*

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

08/06/2021 13h06Atualizada em 08/06/2021 14h34

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou em depoimento à CPI da Covid não ter lido as bulas de todas as vacinas contra a covid-19 que tiveram uso autorizado em território nacional ao ser questionado sobre o assunto pelo senador Otto Alencar (PSD-BA).

Em seguida, ao discutirem sobre as vacinas e a autoria de uma nota técnica, os dois bateram boca, o que levou à suspensão da reunião por alguns minutos.

Ao falar não ter lido a bula de todas as vacinas, Queiroga usou como justificativa que, do ponto de vista prático, 70 milhões de vacinas foram distribuídas. Ele ainda disse que o parlamentar não poderia querer desqualificar as ações da pasta diante do colegiado daquela forma.

O parlamentar, que também é médico, alegou que leu todas as bulas e disse que seria de responsabilidade de Queiroga ler todas as bulas por ser ele o gestor da saúde nacional.

O senhor deveria, ministro, pelo menos ler a bula, modo de usar, posologia, efeitos colaterais e o senhor não fez isso, ministro. E devo dizer que esse é o ato mais irresponsável que um ministro da Saúde pode fazer é determinar a aplicação da vacina sem ter conhecimento dos efeitos colaterais"
Otto Alencar, senador

O senador citou que o Ministério da Saúde tem aplicado a vacina da Pfizer com intervalo de 12 semanas entre a primeira e a segunda dose. No entanto, disse Otto, a bula orienta que esse intervalo seja de 21 dias. Queiroga disse saber da informação. Ao discutirem sobre a aplicação do imunizante em gestantes, Queiroga declarou:

A sociedade brasileira reconhece os esforços que temos feito aqui e não aceito que isso seja desqualificado, um patrimônio da sociedade brasileira. Eu aplico 70 milhões de vacinas de norte a sul"
Marcelo Queiroga

Houve então um bate-boca entre Otto Alencar e Queiroga. Em determinado momento, Otto questionou quem teria editado uma norma, ao que Queiroga respondeu que foi o PNI (Programa Nacional de Imunizações). Otto rebateu dizendo ter sido a Franciele Francinato. Porém, ela é a coordenadora-geral do PNI, como ressaltou Queiroga.

Antes que Queiroga pudesse acabar de explicar, Otto declarou: "Fale a verdade, ministro" e "A ciência não pode mentir".

Queiroga reclamou que Otto não estava lhe deixando falar e afirmou "sempre" falar a verdade. Os ânimos voltaram a esquentar.

O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), decidiu suspender a sessão por alguns minutos. As atividades foram retomadas na sequência. Otto Alencar disse que respondeu com um tom mais alto porque o ministro teria alterado a voz antes.

*Com a colaboração de Ana Carla Bermúdez

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.