Governo de SP critica decisão da Saúde: 'causa apreensão em adolescentes'
O governo de São Paulo criticou a decisão do Ministério da Saúde que suspende a aplicação de vacinas contra covid-19 para adolescentes sem comorbidades no Brasil. Em nota, o estado afirmou que continuará a vacinação, embora necessite do repasse do PNI (Programa Nacional de Imunizações) para receber as doses.
A orientação foi feita por meio de uma nota informativa da Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, sendo que diversos estados já haviam começado a vacinação da faixa etária de 12 a 17 anos. Segundo o texto, São Paulo não seguirá a recomendação e manterá o cronograma estadual, embora cada cidade possa tomar sua decisão.
De acordo com o governo paulista, a orientação do ministério "vai na contramão de autoridades sanitárias de outros países, cria insegurança e causa apreensão em milhões de adolescentes".
Coibir a vacinação integral dos jovens de 12 a 17 anos é menosprezar o impacto da pandemia na vida deste público. Três a cada dez adolescentes que morreram com covid-19 não tinham comorbidades em São Paulo. Este grupo responde ainda por 6,5% dos casos e, assim como os adultos, está em fase de retomada do cotidiano, com retorno às aulas e atividades socioculturais.
Nota do governo estadual de São Paulo
A decisão, no entanto, cria um problema logístico para o estado. Embora possam comprar vacinas separadamente, o único imunizante autorizado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a ser aplicado em adolescentes é o da Pfizer, que, até então, negocia exclusivamente com o governo federal.
Isso significa que São Paulo e qualquer outro estado depende do repasse de doses do PNI para seguir na vacinação dos adolescentes.
Além das faixas etárias abaixo dos 18 anos, há ainda as segundas doses de quem já foi vacinado com Pfizer e a terceira dose para os estados, que o ministério também prioriza o imunizante da fabricante norte-americana.
2,4 milhões de adolescentes com ao menos uma dose
De acordo com o Governo de São Paulo, já foram vacinados com ao menos uma dose 2,4 milhões de adolescentes desde o dia 18 de agosto, o que corresponde a 72% do público-alvo, Atualmente, o estado vacina todos os adolescentes acima de 12 anos.
"Infelizmente, e mais uma vez, as diretrizes do Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde chegaram com atraso e descompassadas com a realidade dos estados, que em sua maioria já estão com a vacinação em curso", diz ainda a nota.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou hoje à tarde, em entrevista coletiva, que a aplicação da vacina contra covid-19 em adolescentes foi feita de maneira "intempestiva" e criticou estados por não seguirem as orientações federais.
Ele afirmou ainda que a vacinação foi interrompida para investigação de eventos adversos, e que não será retomada até que haja evidências científicas "sólidas".
Estados e municípios iniciaram essa vacina antes, até no mês de agosto, vacina que era para começar ontem (...) Como conseguimos coordenar a campanha dessa forma?"
Marcelo Queiroga, ministro da Saúde
Cidade de São Paulo mantém vacinação
Seguindo o governo estadual, a Prefeitura de São Paulo informou que manterá a vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos na capital paulista.
O Rio de Janeiro também avisou que manterá a vacinação de adolescentes de acima de 14 anos, mas vai avaliar a situação de jovens de 12 e 13 anos. Natal e Salvador suspenderam a aplicação em adolescentes sem comorbidades.
Nota informativa
Na nota informativa em que não recomenda a vacinação dos adolescentes sem comorbidades, o ministério elenca seis pontos para justificar a decisão.
O primeiro item diz que a OMS (Organização Mundial da Saúde) não indica a imunização de crianças e adolescentes com ou sem comorbidades.
Na verdade, não há orientação contrária da entidade internacional para a vacinação dessa faixa etária. A recomendação da OMS é para que os menores de idade só sejam imunizados depois que todas as pessoas dos grupos de maior risco estejam vacinadas. No Brasil, a vacina já foi ofertada a pessoas mais vulneráveis à covid, como idosos, profissionais de saúde e pessoas com doenças crônicas, como transplantados, pacientes de câncer, diabéticos, entre outros.
O documento do ministério, assinado por Rosana Leite de Melo, secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, afirma que a maioria dos adolescentes sem comorbidades é assintomática ou apresenta poucos sintomas. No entanto, especialistas dizem que vacinar os mais jovens é uma estratégia importante para frear a transmissão do vírus.
Outro trecho da nota do ministério diz que "os benefícios da vacinação em adolescentes sem comorbidades ainda não estão claramente definidos". A vacina da Pfizer, único imunizante autorizado no Brasil para uso em adolescentes, já foi amplamente testada nessa faixa etária. Outros países como Estados Unidos, Chile, Canadá, França e Israel também usam a Pfizer em adolescentes.
*Com informações da Estadão Conteúdo.
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