Secretários de Saúde cobram Anvisa após suspensão de vacinas a adolescentes
As principais entidades representativas dos secretários de saúde cobraram da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) uma posição oficial sobre a decisão do Ministério da Saúde de suspender a vacinação de adolescentes sem comorbidade.
Ontem à noite, a pasta orientou a vacinação contra o vírus apenas para pessoas entre 12 e 17 anos que tenham "deficiência permanente, comorbidades ou que estejam privados de liberdade".
A decisão estaria embasada nas orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde) de não recomendar a imunização de adolescentes, por essa faixa etária ter poucos casos graves e faltar estudos sobre a vacinação nesse grupo.
Em resposta, o Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e o Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde) encaminharam um ofício na manhã de hoje ao diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres.
"Diante da nota [do Ministério da Saúde], que sugere postergar o início da vacinação de adolescentes sem comorbidades", diz o ofício, o Conass e o Conasems "solicitam o imediato posicionamento da Anvisa sobre a autorização para uso de vacina em adolescentes de 12 a 17 anos".
As entidades argumentam que "a vacinação dos adolescentes cumpre importante papel na estratégia de controle da pandemia no Brasil".
O texto —assinado pelo presidente das entidades, Carlos Lula (Conass) e Wilames Freire Bezerra (Conasems)— lembra que a vacinação de adolescentes considerou "cenário anunciado pelo Ministério da Saúde de ampla disponibilidade de doses".
O Brasil deve, conforme autorização da Anvisa, avançar na antecipação da D2 [dose dois] para 8 semanas, concluir a vacinação da população adulta e avançar na vacinação de adolescentes com e sem comorbidades
Conass e Conassens, em ofício à Anvisa
Procurados, a Anvisa e o Ministério da Saúde não responderam até esta publicação.
Decisão prolongará pandemia
Médica infectologista, Joana D'arc Gonçalves da Silva se surpreendeu com a decisão federal, uma vez que os adolescentes brasileiros têm "atividade econômica e circulam muito por diversos ambientes".
"Essa circulação do vírus é o que mais nos preocupa", diz. "Para o coletivo, a decisão é ruim."
Ela diz que a mudança "vai retardar ainda mais o fim da pandemia", permitindo "o ambiente para o aparecimento de novas variantes". Para ela, a única justificativa para suspender a vacinação é a falta de doses.
"Se o critério for diminuir custos por falta de insumo, aí sim é preciso priorizar quem tem mais risco de adoecer", defende.
O que diz o governo?
Além de citar a OMS, a nota divulgada ontem pelo Ministério da Saúde menciona a redução na média móvel de casos e mortes por covid, o que tornaria o cenário epidemiológico menos perigoso aos adolescentes sem comorbidades.
O anúncio da suspensão ocorre em meio a falta de estoque de certas vacinas em alguns pontos do Brasil, como São Paulo, Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro.
Em agosto, a diretora-geral assistente para Medicamentos e Vacinação da OMS, Mariângela Simão, disse que "a relação de benefício em aplicar a vacina nas crianças ainda não está comprovada" e que é preciso "mais dados, mais estudos sobre a segurança dessas vacinas na faixa etária menor".
Apesar dos poucos estudos com adolescentes, a OMS recomenda que, caso haja vacinação, ela seja feita com a Pfizer, como ocorria até então no Brasil. O imunizante se mostrou seguro para os menores de 16 anos, mas o órgão reforçou que os adolescentes sem comorbidades não fazem parte de grupos de risco.
"A vacina é segura e eficaz nesta população, embora aqueles que mais sofrem com a doença ainda sejam os adultos e certos grupos médicos em risco", disse na ocasião a chefe da Unidade de Imunizações da OMS, Anne Lindstrom.
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