Doria fala em melhora da pandemia, mas sofre há 1 mês com registro de casos
Enquanto o governo de São Paulo comemora o arrefecimento da pandemia no estado, os dados de novos casos de covid-19 do próprio governo paulista, usados para balizar as ações da pandemia, estão instáveis e, provavelmente, incorretos há um mês.
Levantamento do Info Tracker, plataforma de dados da Unesp e da USP, feito a pedido do UOL, aponta que o número de casos está irregular desde 5 de setembro.
Até então, o estado mantinha uma média estável de cerca de 6 mil casos diários de covid-19. Depois do dia 5, o número caiu para 2 mil casos, e voltou a subir para 3 mil. Até que, em 9 de setembro, desceu à casa do milhar, e registrou 951 casos.
Na última semana, entre os dias 26 de setembro e 2 de outubro, os dados do governo Doria indicam que o estado registrou 8.513 novos casos diários.
Enquanto isso, números contabilizados e retirados dos boletins epidemiológicos dos municípios paulistas pelo Info Tracker apontam para um cenário diferente na mesma semana: o estado teria, na verdade, mais de 66 mil novos diagnósticos diários - um número quase oito vezes maior.
Procurado, o governo paulista afirmou que analisa "diversos indicadores" da pandemia e que a queda de casos, internações e óbitos da covid-19 é "um fato concreto e sustentado no tempo" pelo avanço da vacinação.
Diferencial dos dados municipais
O matemático da USP, Wallace Casaca, responsável pelo levantamento, explica o que torna as informações das prefeituras mais confiáveis.
"Os dados coletados em nível municipal são fonte primária de divulgação dos casos e óbitos de covid. Eles também servem como um parâmetro para acompanhar a pandemia no estado, principalmente sob circunstâncias onde há represamento de dados nas bases estadual e federal, tal como foi observado no mês de setembro", afirma Casaca.
"Apagão nos dados, tal como este de setembro, não é algo novo. Isso também já ocorreu na iminência de nossa segunda onda, em novembro de 2020, em que foi possível observar, a partir dos dados municipais, uma crescente nos casos, enquanto os sistemas em níveis estadual e federal pararam de reportar os casos de covid-19 por semanas", diz o docente.
Os dados de óbitos, que possivelmente não sofrem com represamento, segundo o Info Tracker, apontam para uma piora no cenário pandêmico. Há um mês, a média diária de mortes tem aumentado. Foram 672 mortes na semana de 5 a 11 de setembro, contra 972 na semana de 26 de setembro a 2 de outubro.
No Twitter, o governador João Doria, no entanto, comemorou o fato de que a maioria das cidades paulistas não registraram mortes por covid-19 na última semana.
O governo de São Paulo, por meio da secretaria de Saúde, ressaltou que a defasagem nos dados se dá apenas para os casos leves. "É importante esclarecer que os balanços foram impactados pela mudança do e-SUS realizada no dia 8 de setembro e dizem respeito especificamente a casos leves. Estes, por óbvio, não refletem, sozinhos, o contexto da pandemia - até porque casos de Síndrome Gripal são passíveis de ocorrer porque a vacinação reduz principalmente o agravamento e a mortalidade pela COVID-19", afirma o governo.
O estado também informou que aguarda providências do ministério da Saúde. "O CVE [Centro de Vigilância Epidemiológica] comunicou e oficiou a equipe do DataSUS para que providencie os devidos ajustes técnicos e aguarda as providências do órgão".
Ao menos 15 estados alertaram o ministério da Saúde sobre instabilidades no número de casos diários de covid-19 na pandemia. Como resposta, o Ministério da Saúde informou que o sistema e-SUS está estável e não há relatos de novas ocorrências.
Tendência de alta
No Brasil, há alta subnotificação dos diagnósticos, principalmente os leves, conforme antecipou o UOL.
Os especialistas do governo paulista acreditam que o número de casos também esteja crescendo no estado, seguindo tendência de países da Europa onde, com a vacinação e flexibilização, houve salto no total de novos testes positivos, mas internações e óbitos não alcançaram níveis alarmantes.
Segundo apuração do UOL, a instabilidade dos dados do governo de São Paulo preocupa técnicos da Saúde e atrapalha a tomada de decisões no combate à covid-19 no estado em meio ao avanço da variante Delta, mais transmissível das mutações do Sars-CoV-2.
O caminho seguido pelos técnicos para traçar novas rotas de ação contra a pandemia está sendo monitorar os índices de internação nos hospitais do estado e levantar o número de testes antígenos feitos em farmácias com resultado positivo.
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