Associação faz ato em homenagem aos 600 mil mortos por covid-19 no Brasil
A Avico (Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19) está realizando hoje um ato de homenagem aos mais de 602 mil mortos pela covid-19 no Brasil. O ato acontece na Praça das Bandeiras, em frente ao Congresso Nacional, em Brasília, e os manifestantes colocarão 3 mil bandeiras brancas simbolizando as mortes pelo vírus.
Em mensagem divulgada nas redes sociais, a associação convocou pessoas que perderam familiares e entes queridos para a covid-19 a enviarem os nomes das vítimas para serem escritos nas bandeiras que estão sendo cravadas em Brasília.
"Após atingirmos a marca trágica de 600 mil mortos pela covid-19, e como não temos recursos pra mobilizar atos em todos os estados que atuamos, e com a finalização dos trabalhos da CPI para os próximos dias, entendemos que seria muito simbólico e potente centralizar nossas forças em homenagem aos nossos familiares na cidade de Brasília agora no próximo dia 15/10 na frente do Congresso Nacional", escreveu a associação.
A presidente da Avico, Paola Falceta Silva, destaca a importância do ato como forma de homenagear todas as vítimas da covid-19 no Brasil e "a visibilidade de quem somos". Paola perdeu a mãe, Italira Suzana Falceta, 81, no 2 de março deste ano, após a idosa ter sido infectada pelo novo coronavírus durante internamento em um hospital em Porto Alegre, quando se recuperava de uma cirurgia circulatória.
"Esse ato é uma homenagem aos 600 mil mortos já que na CPI não teve espaço para uma grande maioria pudesse participar, que vai ser menor. Então, a gente entendeu que era importante finalizar esse processo da CPI homenageando nossos familiares vítimas", afirma Paola.
A professora universitária Fernanda Natasha Bravo Cruz, 34, foi uma das organizadoras do ato que fixou 3.000 bandeiras na manhã de hoje no gramado em frente ao Congresso Nacional, em Brasília. Ela perdeu o pai, Juraci Cruz Junior, 55, vítima de covid-19, em 18 de novembro de 2020. O nome dele está em uma das flâmulas fixadas no gramado.
"Engravidei na pandemia e meu pai não conheceu a minha filha. Foi uma perda abrupta. Foi por conta desse homem maravilhoso, amoroso e solidário que foi meu pai que fiquei mobilizada no ato em Brasília. A Avico busca por Justiça para que não normalize essa situação dessas mortes de centenas de pessoas vítimas de covid-19, que é uma tragédia gigantesca. As bandeiras representam todas as vítimas e famílias enlutadas que perderam as pessoas que amavam", afirma Fernanda.
A professora destaca que, além das bandeiras homenagearem "a vida dos nossos amados que perdemos", é necessário que a população atente para a tragédia que o Brasil vive com a pandemia do novo coronavírus e que "haja a prevenção correta para não haver mais vítimas da doença." Fernanda critica que o governo federal "escolheu" não orientar os processos de gestão para enfrentar o novo coronavírus da maneira adequada e todas as dimensões sociais da pandemia.
O empresário Acir José Pereira de Bastos, 50, também homenageou o companheiro Larry Carlos Marchioro, 59, vítima da covid-19, colocando o nome dele em uma das flâmulas fixadas em Brasília. Marchioro faleceu em Curitiba, no dia 05 de junho deste ano, depois de 14 dias de intubação. O casal estava junto havia 17 anos, e desde que Bastos ficou viúvo ele vem prestando homenagens a Marchioro, além participar de atos cobrando ações do governo sobre a pandemia do novo coronavírus.
"Ele era um ser de luz, uma pessoa iluminada, um presente de Deus na minha vida. Esse ato e todos os atos que já fiz para ele é uma forma de homenageá-lo. Homenagear é uma forma de afirmação de amar, de agradecer e de manter viva a sua memória. Acredito que ela faria por mim o que estou fazendo por ele", ressalta Bastos.
A professora aposentada Joseneide Barbosa, 64, perdeu a filha Caroliny Barbosa Shimose Cavalcanti, 42, após 45 dias de intubação acometida pela covid-19, em Caruaru (PE). Apesar de morar em Pernambuco, Joseneide participou do ato enviando o nome da filha para ser colocado em uma das bandeiras fixadas no gramado do Congresso Nacional em Brasília. Caroliny Cavalcanti faleceu no dia 4 de julho passado, e a vacina só chegou para a idade dela, onde morava, quando ela já estava com 15 dias de intubação.
"O nome da minha filha em uma das bandeiras é uma homenagem valiosa e importante para nós, pois a covid-19 nos impediu de nos despedirmos dela, que foi de uma forma atípica, diferente como acontece quando se perde um familiar de outra doença. É também uma forma de protesto da falta de oportunidade que ela não teve de receber a vacina, antes de ser infectada pelo novo coronavírus", destacou a professora.
A iniciativa da associação conta com o apoio da ADUnB (Associação de Docentes da Universidade de Brasília), SINTFUB (Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília), Comitê UnB Pela Vacinação e Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos).
A confecção das 3 mil bandeiras aconteceu entre anteontem e ontem com o apoio de familiares e amigos enlutados, em conjunto com a associação. No vídeo de divulgação, a Avico declarou que "muitos desses óbitos seriam evitáveis se fossem cumpridas [as] normas recomendadas pela ciência".
Apesar das perdas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) segue adotando um discurso contrário ao uso de vacinas contra a covid-19 e medidas — além da imunização — tidas como essenciais por especialistas para evitar a disseminação da doença, como o distanciamento social e o uso de máscaras de proteção. O chefe do Executivo chegou a declarar ontem que ainda não havia sido vacinado contra o vírus.
O discurso usado pelo presidente é contrário aos dados e estudos do próprio governo e de instituições de pesquisa governamentais, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que comprovam que a redução do número de infectados e óbitos por covid-19 se deu principalmente com a ampliação da vacinação no Brasil.
O Brasil já superou as 150 milhões de pessoas vacinadas contra a covid-19 com a primeira dose. Com as 708.252 aplicações realizadas entre anteontem e ontem, no total, 150.659.242 brasileiros tomaram a dose inicial, o que representa 70,63% da população nacional. O levantamento é do consórcio de veículos de imprensa do qual o UOL faz parte, com base nas informações fornecidas pelas secretarias estaduais de saúde.
Ao todo, 101.836.974 brasileiros tomaram a segunda dose ou a dose única de imunizante contra a doença, o correspondente a 47,74% da população nacional.
*Com informações da Reuters
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