Não tem viagem e aglomerações com risco zero, diz presidente da OPAS/OMS
O surgimento da variante ômicron do coronavírus fez com que estados e municípios brasileiros cancelassem festas de Réveillon e Carnaval, atitude considerada sensata pelo diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), Jarbas Barbosa.
Segundo ele, viagens e aglomerações sempre colocam países em risco para o aumento de transmissão e casos da covid-19. "Não tem viagem com risco zero. As pessoas têm que fazer bem essa avaliação. Viajar para um local onde tem uma transmissão forte é absolutamente não recomendado, a não ser que seja viagem essencial", disse.
O diretor da entidade ligada à OMS (Organização Mundial da Saúde) participou do UOL Entrevista, nesta segunda-feira (6), com a jornalista Fabíola Cidral e os colunistas Leonardo Sakamoto, do UOL, e Lúcia Helena, do VivaBem.
De acordo com Barbosa, festas de fim de ano e quaisquer outros tipos de aglomerações são arriscadas, mesmo com o alto índice de vacinação contra covid-19 no Brasil.
"A transmissão vem se reduzindo muito depois de vários meses. A vacinação está aumentando, mas é preciso não ter a sensação de que a pandemia acabou — não acabou", alertou.
Não é seguro aglomerações. Toda aglomeração pode ter um risco. Tem que ter avaliação de qual a realidade do local levando em conta vários indicadores [sanitários]
Jarbas Barbosa, diretor da OPAS/OMS
Ele também explicou que apesar da imunização avançada no Brasil e a teoria de cientistas de que a variante delta teve impacto menor na América Latina em comparação com a Europa, todo cuidado ainda é necessário para se evitarem novas ondas da pandemia na região.
"É uma hipótese que não deve ser testada com vidas humanas. Se a gente achar que está completamente protegido, não vai ter mais nenhuma onda no Brasil e faz um processo de abertura sem planejamento, creio que inevitavelmente podemos ter uma onda de transmissão", afirmou o presidente da OPAS.
"Autoridades que estão avaliando e cancelando aglomerações agem com bom senso e senso de precaução. É melhor não deixar ocorrer uma aglomeração, que pode ter papel importante na transmissão, num momento em que se tem uma nova variante que ainda não está completamente esclarecido quais são os impactos que ela pode ter no comportamento do vírus", acrescentou.
Distribuição igualitária de vacinas
A OPAS defende uma distribuição igualitária de vacinas contra a covid-19, com atenção especial para os países mais pobres que ainda enfrentam dificuldades em imunizar sua população.
É o caso, por exemplo, do Haiti. De acordo com Jarbas Barbosa, a instabilidade política política e social do país caribenho atrapalhou o acesso às vacinas e, por isso, deixa em alerta para o agravamento da pandemia no país
"Hoje já temos 20 países [das Américas] que ultrapassaram 40% de população vacinada. Temos apenas dois países com menos de 20%: a Jamaica e o Haiti", disse.
"O Haiti é uma situação muito complexa porque tivemos crise política, assassinato do presidente, terremoto, ou seja, um conjunto de eventos que causaram muita instabilidade política e social, que tem a vacinação muito lenta."
Na avaliação do diretor da OPAS, a ausência de uma estratégia global para contemplar com imunizantes nações com cenários semelhantes ao do Haiti é o que dificulta a contenção da pandemia de coronavírus no mundo.
"Falta uma regra global. O mecanismo que foi criado para garantir o acesso equitativo [a vacinas], o Covax, já distribuiu até agora perto de 450 milhões de doses. Já temos mais de 7,8 bilhões de doses de vacinas aplicadas", disse.
"O Covax tinha como objetivo primeiro alcançar 20% de cobertura vacinal em todos os países. Mas 20% só não é o suficiente para controlar a transmissão. É importante porque protege os mais vulneráveis, evita mortes, mas temos que ir mais adiante."
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