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Vacinas para crianças só devem chegar em fevereiro, avalia sociedade médica

Aloísio Maurício/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Imagem: Aloísio Maurício/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

17/12/2021 04h00

O presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Juarez Cunha, defendeu hoje que o Ministério da Saúde inicie rapidamente as tratativas com a Pfizer para aquisição da vacina contra a covid-19 para crianças de 5 a 11 anos. Já que se trata de um imunizante com composição diferente do indicado para adultos e como o país ainda não recebeu nenhuma dose, ele diz não acreditar que a vacinação comece nas próximas semanas.

"Temos que lembrar que é uma vacina diferente e, se essa decisão do ministério [de comprar] for tomada, essas vacinas só deverão estar disponíveis entre fevereiro ou março. Antes disso, não acho que tenha aqui no Brasil", diz.

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou ontem o uso emergencial da vacina da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos no Brasil, mas a decisão de comprar ou não as doses é do Ministério da Saúde. A pasta foi questionada pelo UOL na manhã de ontem, mas até o momento não respondeu nem fez qualquer manifestação em redes sociais sobre a inclusão ou não da nova faixa etária no PNI (Programa Nacional de Imunização).

A aprovação foi muito comemorada por especialistas, que veem necessidade de correr contra o tempo para iniciar a vacinação devido à chegada da variante ômicron e à volta às aulas, em fevereiro.

Juarez Cunha afirma que, diante da falta do imunizante em solo nacional, o tema será debatido na câmara técnica --órgão que aconselha o ministério nas decisões sobre imunização. "O importante é que comece logo esse debate para que, quando pudermos ter a vacina, o ministério já tenha uma definição e possa distribuir de imediato", diz.

A pasta já tem um contrato assinado com o laboratório para compra de 100 milhões de doses da Pfizer em 2022, em que prevê a possibilidade de algumas dessas vacinas serem do composto para crianças.

Mas, em meio o silêncio do ministério, Cunha se coloca com o pé atrás.

A gente gostaria que o ministério se posicionasse da mesma forma que a gente e dizer que foi uma ótima notícia. Mas nós tivemos a mesma situação com a vacinação dos adolescentes. Quando a gente começou a defender, teve uma dificuldade de isso ser assimilado pelo ministério --inclusive com posições contrárias do presidente. Não é uma novidade que esteja acontecendo agora."
Juarez Cunha, presidente da SBIm

São Luís foi a primeira capital a vacinar adolescentes no país, ainda em julho - Prefeitura de São Luís/Divulgação - Prefeitura de São Luís/Divulgação
São Luís foi a primeira capital a vacinar adolescentes no país, ainda em julho
Imagem: Prefeitura de São Luís/Divulgação

Sem interferência política

O presidente da SBIm também comentou a informação de que o presidente Jair Bolsonaro (PL) teria ficado furioso com a aprovação da Anvisa. Cunha se mostrou temeroso de que a posição pessoal do chefe do Executivo atrapalhe o processo de imunização.

"A gente sabe que a desinformação e as fake news atrapalham nosso processo vacinal. Se realmente a postura do presidente for essa [de se enfurecer com a aprovação da Anvisa], pode atrapalhar. Vamos ver os próximos capítulos e saber se essa vai ser a posição dele, se vai interferir na decisão científica --tanto da Anvisa, como das sociedades médicas. Esperamos que a política não interfira", diz.

A decisão da Anvisa foi tomada em comum acordo com todas as sociedades científicas brasileiras, entre elas a SBIm.

Segundo Cunha, a aprovação, porém, é apenas um "primeiro passo" para que a vacina da Pfizer seja incluída no PNI. Como ocorre com todos os assuntos da imunização, o tema será debatido na reunião na Câmara Temática de Imunizações do Ministério da Saúde, que é composta por especialistas, representantes dos governos estaduais e municipais e representantes de entidades científicas.

"Essas reuniões ocorrem às sextas-feiras, mas a pauta de amanhã não incluiu o tema porque foi fechada antes. Mas, em geral, o que é discutido nessa câmara é levado em consideração pelo PNI. Algumas situações acabam tendo mais dificuldade na decisão, como foi o caso do intervalo da dose de reforço", pontua.

Mas a posição da Anvisa e das sociedades científicas já é bem clara e conhecida: vacinas licenciadas são seguras e, sem nenhuma dúvida, beneficiam a coletividade. A eficácia e segurança dessa da Pfizer já estão provadas não só pelos dados apresentados hoje, mas pela experiência mundial."
Juarez Cunha, presidente da SBIm

Vacina da Pfizer para crianças tem tampa laranja para diferencia doses de adultos  - Divulgação/Pfizer - Divulgação/Pfizer
Vacina da Pfizer para crianças tem tampa laranja para diferenciar doses de adultos
Imagem: Divulgação/Pfizer

Ceará abre cadastro infantil

Hoje, autoridades municipais e estaduais usaram suas redes sociais para comemorar a decisão da Anvisa e avisar que já estão com redes de saúde prontas para iniciar o processo, aguardando apenas a chegada do imunizante. O governo do Ceará, inclusive, abriu o cadastro para que os pais possam dar os nomes dos filhos para a lista de futura vacinação.

O Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) comemorou, em nota, a decisão da Anvisa e disse que "aguarda posicionamento do Ministério da Saúde quanto à sua aquisição, o que é de sua competência".

É importante destacar o alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS) que aponta que o público entre 5 e 14 anos é o mais afetado pela nova onda de covid-19 na Europa e, apesar do menor risco em relação a outras faixas etárias, nenhuma outra doença imunoprevenível causou tantos óbitos em crianças e adolescentes no Brasil em 2021 como a covid-19."
Conass, em nota

Ainda afirma que aguarda "também com expectativa" a avaliação pela Anvisa da vacina CoronaVac, que teve pedido similar de uso emergencial pelo Instituto Butantan para a vacinação de crianças e adolescentes de 3 a 17 anos.

"Ela já amplamente utilizada em outros países, com disponibilidade imediata no Brasil e desenvolvida em plataforma conhecida, segura, eficaz e que permite a execução ordinária das demais vacinas do PNI", explica.