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Chefe da Anvisa critica 'violência antivacina' e diz que análise é técnica

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

16/12/2021 13h56Atualizada em 16/12/2021 15h56

Em cerimônia virtual que hoje anunciou a aprovação da vacina contra a covid-19 para crianças de 5 a 11 anos, o diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, criticou o "viés crescente" do que chamou de "violência antivacina".

Barra Tores fazia referência aos emails com ameaças de morte recebidas pela diretoria da agência no final de outubro.

"O acirramento dessa violência antivacina vai num viés crescente, e é importante que falemos enquanto há tempo, antes que eventuais ameaças como essas e outras se concretizem", afirmou Torres pelo canal da Anvisa no YouTube. "Em sede dessas mesmas ameaças, nosso trabalho continuou."

Lamentavelmente num dia que deveria ser um dia de leveza e alegria para todos nós, ainda que fosse uma alegria efêmera, diante de mais de 610 [mil], 615 mil -- eu já perdi a conta -- túmulos de brasileiros, é até uma heresia falar em alegria. Mas enfim, era para ser isso. Infelizmente não é possível"
Antonio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa

Barra Torres justifica aprovação

Ainda em seu discurso, Barra Torres explicou, em fala que direcionou a grupos antivacina, que o papel da agência é técnico.

"Se um laboratório protocola um dossiê para análise nesta agência nacional (...), não resta outra alternativa a esta agência a não ser proceder a análise e emitir uma conclusão", que, afirmou, "será sempre embasada em argumentos técnicos, dossiês e análise por brasileiros que já fazem isso há mais de 20 anos".

Torres disse que "não houve votação" dos diretores para a aprovação do imunizante infantil. Eles apenas referendaram "decisão iminentemente técnica" das divisões da Anvisa responsáveis pelo trabalho.

"Esse produto já possui registro no Brasil. Essa decisão não perpassa pela diretoria colegiada, mas todos os diretores que me antecederam manifestaram acordo", disse ele, que enfim emitiu sua opinião: "Meu posicionamento é de apoio".

Decisão é do governo, diz Torres

O presidente da Anvisa também lembrou que cabe ao Ministério da Saúde, e não à Anvisa, aplicar a vacina aprovada hoje.

"Esse resultado por si só só se efetiva se o Ministério da Saúde efetuar a incorporação ao Sistema Único de Saúde [SUS]", disse. "O governo federal é soberano, decide se vai incorporar ou não incorporar."

Não é a autorização da Anvisa que coloca a vacina no braço em ninguém. Não diga que a Anvisa está fugindo de suas responsabilidades. Jamais"
Antonio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa

Antes de concluir seu discurso, Torres invocou Deus ao pedir "força e serenidade contra essa guerra que ainda será longa".

"Que os corações de quem nos ataca enxerguem a verdadeira mensagem de compreensão quando o inimigo é um só. Isso se exalta no mês de Natal, onde até países que não professam a cristandade silencia seus canhões na noite de Natal", afirmou.

Bolsonaro se enfurece com Anvisa

O presidente Jair Bolsonaro (PL), que indicou Torres para o cargo, ficou transtornado ao receber a confirmação de que a Anvisa anunciaria a aprovação do uso da vacina para crianças, conforme apurou o colunista do UOL Josias de Souza. O presidente já estava aborrecido com o diretor-presidente da Anvisa, mas o aborrecimento evoluiu para a fúria.

Entre quatro paredes, o presidente declarou que, se pudesse atrasar o relógio, não teria indicado Barra Torres para comandar a Anvisa.

Ainda hoje, Bolsonaro compartilhou imagens de um homem chamando a vacina de "porcaria".