SP: Com confusão de sintomas, casos de influenza e covid sobem em dezembro
Quem procura um horário para fazer teste rápido de antígeno para covid-19 em uma farmácia na rua Teodoro Sampaio, em São Paulo, pode chegar a esperar dois dias. A transmissão comunitária da variante ômicron e o surto de gripe têm enchido farmácias e hospitais na região metropolitana em meio às festas de final de ano e estão preocupando médicos e autoridades.
Segundo a Prefeitura de São Paulo, o atendimento de pessoas na rede pública com algum quadro respiratório mais do que dobrou neste mês de dezembro em relação a novembro —embora tenha reduzido no fim de semana, na comparação com os dias anteriores. De acordo com o governo estadual, a taxa de internação por covid voltou a subir depois de meses consecutivos de queda progressiva.
Para médicos, as semelhanças entre a gripe influenza e a nova variante do coronavírus têm criado confusão nos pacientes e dificultado ainda mais o diagnóstico e a contenção dos dois vírus.
Surto de influenza em meio à pandemia em São Paulo
O infectologista Evaldo Stanislau, do Hospital das Clínicas de São Paulo, diz enfrentar uma demanda enorme de pacientes com sintomas respiratórios, que se assemelham à covid ou à gripe, com acentuação nas últimas duas semanas.
"Voltei do recesso de Natal e já perdi as contas de quantas teleconsultas fiz por [conta de casos de] covid", conta o infectologista, que também trabalha em uma rede particular no litoral paulista.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, até a última segunda (27), foram registrados 238.081 atendimentos a pessoas com quadro respiratório, um aumento de 112% em relação ao último mês.
A prefeitura não informa a quantidade exata de casos confirmados da gripe influenza H3N2, que tem causado o novo surto, mas "outros vírus respiratórios" representam 54% dos atendimentos —em novembro, eram 49%.
Para combater o aumento, a prefeitura criou um gripário no Hospital Municipal da Brasilândia apenas para casos de SRAGS (Síndromes Respiratórias Agudas Graves). Na segunda (27), havia 118 pacientes internados em UTIs (unidades de terapia intensiva) e 210 em leitos de enfermaria.
"A estratégia é concentrar os pacientes em uma unidade para o devido acompanhamento e realizar o painel viral das pessoas internadas, contribuindo para a identificação da cepa viral de influenza, entre outros vírus, que circulam na capital", declarou a SMS ao UOL.
Internações por covid voltam a subir
A máxima "a pandemia ainda não acabou" se mostrou verdadeira mais uma vez neste final de 2021. Com a confirmação da transmissão comunitária da ômicron, variante que tem registrado recorde de novos casos na Europa, o percentual de internados por covid na Grande São Paulo voltou a crescer depois de meses consecutivos de queda diária.
Nesta segunda, a Grande São Paulo registrava ocupação de 29,99% nas UTIs de covid-19 e 32% nos leitos de enfermaria, segundo o Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), com números da Secretaria Estadual de Saúde.
A porcentagem segue muito inferior ao pico, quando chegou a ultrapassar 91% de ocupação (no final de março). Com o avanço da vacinação no país, o índice caiu diariamente e atingiu 25,08% em 13 de dezembro.
O estado, que chegou ao índice mais baixo, desde o pico no início do ano, em 16 de dezembro (com 20,02% de ocupação de UTI), também tem experimentado alta, mas de forma mais sutil. Ontem, estava em 22,36%.
Só na capital, segundo o boletim da secretaria municipal no último domingo (26), a ocupação de UTIs está em 20% e de enfermaria, em 45%.
"Achei que era gripe"
Ter um surto de influenza em meio a uma pandemia de covid-19 faz com que a confusão dificulte o combate a ambos os vírus. Com sintomas parecidos, como coriza, febre e tosse, muitas pessoas foram infectadas com coronavírus achando que estavam com gripe.
É o caso da auxiliar administrativa Patrícia Moraes, 49, que só descobriu estar com covid após fazer um teste RT-PCR para viajar aos Estados Unidos, onde iria passar o Natal com a mãe. Com o resultado positivo, teve de adiar os planos para janeiro.
"Eu comecei só a ter uma coriza, mas nada mais forte. Fiquei de repouso, mas não achava que estava com covid, achei que era essa gripe que todo mundo está tendo, mas positivei", conta Moraes.
É a segunda vez que ela pega o vírus. Dessa vez, diz estar bem "com mal-estar, mas melhorando". Isolada desde a semana passada, deverá ficar em casa também para o Réveillon.
É preciso testar
Se antes os testes já eram vitais para a condução da pandemia, agora, com a ômicron e a Influenza, se mostram ainda mais imprescindíveis, afirma Stanislau.
"A influenza chegou pouco antes e mascarou o covid. Mas, agora, está escancarando ambas. Sem teste, é impossível [diferenciá-las precisamente]", afirma o infectologista.
Considerando crianças não vacinadas, os sintomas serão mais exuberantes e semelhantes entre gripe e covid. Nos adultos vacinados [contra covid], os sintomas mais leves ainda podem sugerir covid --de forma mais branda nos vacinados-- porque a gripe é mais sintomática, sobretudo a H3N2. Agora, em ambos, adultos ou crianças, somente o teste revela precisamente.
Evaldo Stanislau, infectologista do HC-SP
Ao UOL, a Prefeitura de São Paulo afirmou que tem tentado rastrear a ômicron por meio do aumento de testes.
"A vigilância genômica é feita em parceria entre prefeitura e o Instituto Butantan. São cerca de 300 amostras de RT-PCR positivas para covid-19 semanalmente. A capital soma 17 casos da variante ômicron. Neste momento, é possível afirmar que se tratam de casos de transmissão comunitária", informou a secretaria municipal. O monitoramento é feito por meio de testes rápidos em unidades de saúde e prontos-socorros.
A secretaria estadual não informou o número de testes realizados, mas disse monitorar todos os vírus em circulação, incluindo influenza, e afirmou que, diferentemente da situação na capital, ainda não há transmissão comunitário pelo estado.
"Importante deixar claro que qualquer doença é tratada do ponto de vista clínico e conforme indicação médica, não sendo prerrogativa o resultado prévio de exame para definição de uma conduta terapêutica", diz a pasta.
"As recomendações de prevenção da covid-19 seguem as mesmas —uso de máscara, que segue obrigatório em SP, higienização das mãos (com água e sabão ou álcool em gel), distanciamento social e a vacinação", conclui a SES.
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