Fim de sequestros pode gerar confiança para diálogo com Farc


BOGOTÁ, 27 Fev 2012 (AFP) -A decisão das Farc de desistir do sequestro extorsivo, apesar de recebida com cautela, pode gerar confiança para um eventual diálogo de paz, após 47 anos de conflito na Colômbia, afirmaram analistas.

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) declararam publicamente no domingo sua renúncia ao sequestro como método de financiamento, enquanto anunciaram para breve a libertação de 10 policiais e militares reféns, que seriam os últimos mantidos em seu poder.

"Valorizamos o anúncio das Farc de renunciar ao sequestro como um passo importante e necessário, mas não é suficiente", disse o presidente Juan Manuel Santos, para quem a guerrilha pediu um diálogo de paz desde que assumiu o governo, em agosto de 2010.

O líder liberal Horacio Serpa, que participou de um diálogo de paz com as Farc no início dos anos 1990, disse nesta segunda-feira que recebia "a notícia com prudente otimismo".

"Se é certo que vão deixar de sequestrar, é uma notícia muito importante e constitui uma mudança radical" para esta guerrilha que usou a extorsão desde seu início nos anos 1960, disse Serpa.

Com isso, as Farc "seguramente querem olhar a possibilidade de chegar a um diálogo político com o governo", completou.

O fim do sequestro é um dos pedidos que a sociedade colombiana fez com mais ênfase nos últimos anos, com manifestações em massa iniciadas em 2008. O presidente Santos também exigiu essa medida como requisito antes de pensar em um eventual diálogo de paz.

Fernando Giraldo, professor de Ciências Políticas na Universidade Javeriana, considerou que com o anúncio "a bola fica no campo do governo, que deve facilitar as condições para as libertações e poderá enviar mensageiros, já que isso (o fim dos sequestros) era um requisito para negociar".

No entanto, não haverá "nada público até que o governo tenha algo concreto nas mãos. Santos tem muitos inimigos em seu próprio campo, deve ter muito cuidado e não pode cometer erros por ingenuidade", disse Giraldo à AFP.

O ex-presidente Álvaro Uribe, que desenvolveu uma política de combate frontal com as Farc durante seu governo de 2002 a 2010 no qual Santos foi ministro da Defesa, reagiu à declaração da guerrilha qualificando-a de "enganosa" e escreveu em sua conta do Twitter: "tomara que exijam libertações no lugar de festejar anúncios".

Para o cientista político Álvaro Villarraga, diretor da Fundação Cultura Democrática, o anúncio ocorre em meio a "desconfianças muito marcadas entre as partes e de um grande ceticismo dos cidadãos".

No entanto, o qualificou como um passo de "aproximação da paz", em declarações à AFP.

"São necessários mais passos por parte da guerrilha, que deve se comprometer com outras condições humanitárias", disse. E ressaltou que de seu lado "o governo deve fazer uma política de paz com uma agenda e condições claras".

"É necessário receber o gesto das Farc com muita cautela", comentou o analista Alfredo Rangel, diretor da Fundação Seguridade e Democracia.

Rangel considerou que se trata de "um sucesso relativo para o governo de Santos, porque se ao mesmo tempo a guerrilha continua com os atentados e não deixa as extorsões, o fim dos sequestros não vai compensar".

Mas a deputada Consuelo González, ex-refém das Farc e atualmente integrante da comissão de paz do Congresso, mostrou-se mais otimista.

"É uma boa mensagem. Na medida em que os sequestrados chegarem se começa a gerar confiança. Tomara que as Farc desistam também de outras práticas cruéis, como a colocação de minas e os ataques à população civil", disse González à AFP.

As Farc, fundadas em 1964 e com cerca de 9.000 guerrilheiros atualmente, sequestram entre 80 e 100 pessoas a cada ano para solicitar resgate, segundo a Corporação Novo Arco-Íris, especializada no conflito armado.

Além disso, durante anos planejaram trocar policiais e militares por centenas de seus guerrilheiros presos. Também mantiveram sequestrados durante longo períodos ao menos 20 políticos.

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