Washington afirma que interceptação de telefones de jornalistas pretendia salvar vidas

Em Nova York

  • Reuters/TF1

    Strauss-Kahn, ex-diretor do FMI, durante entrevista ao canal de televisão francês TF1, em 2011

    Strauss-Kahn, ex-diretor do FMI, durante entrevista ao canal de televisão francês TF1, em 2011

WASHINGTON, 15 Mai 2013 (AFP) - O governo dos Estados Unidos afirma que sua intenção era proteger a vida de seus cidadãos quando tomou a drástica decisão de monitorar os registros telefônicos de jornalistas em uma investigação por um grave vazamento de informação.

O governo de Barack Obama, pressionado em várias frentes, enfrenta agora uma enxurrada de críticas pelo que se considera uma violação da liberdade de imprensa.

O procurador-geral Eric Holder defendeu na terça-feira a ação do Departamento de Justiça, que monitorou secretamente durante dois meses os registros telefônicos de jornalistas da agência Associated Press (AP).

Holder disse que a decisão havia sido parte de uma investigação sobre um vazamento de segurança que havia colocado em perigo a população americana.

"Sou procurador desde 1976. E tenho que dizer que este (...) é um dos mais graves (vazamentos) que já vi", afirmou.

"Isto não é um exagero. Coloca o povo americano em perigo. E tentar determinar quem é responsável por isso, creio, requer uma ação muito agressiva", acrescentou.

Acredita-se que a ação dos investigadores esteja vinculada a uma pesquisa sobre um artigo publicado sobre uma conspiração terrorista frustrada.

A história da AP revelava detalhes de uma operação da CIA no Iêmen que conseguiu deter um complô da rede Al-Qaeda na primavera de 2012 para detonar uma bomba em um avião com destino aos Estados Unidos.

Holder disse que se recusou a participar da investigação porque havia sido interrogado pelo Escritório Federal de Investigações (FBI) por revelações não autorizadas sobre o tema.

Um comunicado do Departamento de Justiça indica que desde a recusa de Holder, em junho de 2012, a investigação "foi conduzida pelo FBI com a direção do Procurador e a supervisão do procurador-geral adjunto".

A Casa Branca tentou desviar as críticas de que havia colocado os meios de comunicação como alvo em sua guerra contra os vazamentos.

O porta-voz do presidente Barack Obama, Jay Carney, disse que a Casa Branca não estava envolvida na decisão de quebrar o sigilo telefônico da AP e que o Departamento de Justiça operou com independência.

"Seria totalmente inapropriado para o presidente se envolver em uma investigação penal que, (...) ao menos no que foi informado, envolve vazamentos de informação do governo", disse Carney.

A agência AP protestou na segunda-feira em uma carta dirigida a Holder, afirmando que "não pode haver justificativa possível" para um registro tão amplo de suas comunicações telefônicas.

Em uma resposta à AP, o procurador-geral adjunto, James Cole, disse que a investigação sobre o vazamento de "informação classificada" começou no ano passado e advertiu que "tais revelações colocam vidas em risco e causam graves danos à segurança de todos os americanos".

Cole disse que as regras obrigam a tomar outros passos antes de monitorar os registros telefônicos, e que a decisão só foi tomada após a "realização de mais de 550 entrevistas e a revisão de dezenas de milhares de documentos".

Indicou ainda que as ordens judiciais estavam "limitadas a um período razoável de tempo".

Em uma nova resposta à carta de Cole, o diretor-executivo da AP, Garry Pruitt, colocou em xeque estas afirmações e insistiu que a análise não havia sido limitada, já que havia envolvido mais de 100 jornalistas que trabalham nos locais alvo da investigação.

"A Casa Branca havia dito que não havia uma ameaça crível ao povo americano em maio de 2012. A história da AP sugeriu o contrário, e sentimos que era uma informação importante e que o público deveria saber", disse Pruitt.

A revelação do monitoramento dos registros telefônicos da AP provocou uma onda de críticas, razão pela qual foi classificada como um ataque sem precedentes à liberdade de imprensa.

O líder democrata do Senado, Harry Reid, disse aos jornalistas que "tem dificuldades para defender o que o Departamento de Justiça fez, (...) é injustificável".

Mais de 50 organizações de meios de comunicação dos Estados Unidos se uniram ao protesto pela quebra de sigilo, algo que classificaram de "operação desmedida".

A ação do governo "coloca em xeque a integridade das políticas do Departamento de Justiça em relação à imprensa e sua capacidade para equilibrar, por si mesmo, seus poderes policiais diante dos direitos concedidos pela Primeira Emenda aos meios e com o interesse público", afirma uma carta divulgada na terça-feira pela coalizão.

A carta, enviada pelo Reporters Committee for Freedom of the Press, afirma que nos 30 anos desde que o Departamento de Justiça emitiu as orientações para as ordens judiciais contra os registros telefônicos dos jornalistas, "nenhum de nós se lembra de uma situação na qual foi lançada uma operação tão desmedida".

A carta de protesto foi assinada por diversas organizações de notícias, incluindo Dow Jones, EW Scripps, Gannett, The New York Times, The Newspaper Guild, Time Inc. e The Washington Post.

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