Muito cortejado, Monti pode entrar na corrida pelo poder
Empurrado pelos centristas, pelo meio empresarial e pelo Vaticano, o chefe do governo italiano Mario Monti poderá abrir mão da sua famosa cautela se lançando na batalha legislativa contra Silvio Berlusconi ao fim de seu mandato, que termina em maio do ano que vem.
Por enquanto, o ex-comissário europeu e economista de 69 anos, novato na política, que entregará o cargo até o Natal, não se pronuncia sobre o futuro, mas algumas pessoas próximas a ele dizem que está tentado em se candidatar.
Em entrevista ao jornal La Reppubblica, ele se declara "muito preocupado, não com o próprio destino, mas com o que ele está vendo": o risco de deriva populista e de tempestade financeira e que a Itália perca sua credibilidade reencontrada após a saída de Berlusconi há 13 meses.
Na espera, os centristas aceleram a formação de uma frente favorável à candidatura de Monti, que não tem mais a "estranha maioria" que o apoiava, integrada pelo centro, pela direita de Berlusconi e pela esquerda moderada.
Frente à direita populista mais uma vez guiada por Berlusconi, "o trabalho de nosso grupo (Movimento para a Terceira República) que tenta se unir em torno da figura de Monti é ainda mais importante", explicou ao jornal Corriere della Sera, Lorenzo Dellai, presidente do Departamento de Trente (norte). Este tem a ambição, ao lado do presidente da Ferrari Luca di Montezemolo, de federar os laicos moderados e os centristas católicos oriundos do partido UDC de Pierferdinando Casini.
De acordo com Fabio Martini, do La Stampa, um grupo de trabalho formado por especialistas em comunicação e sondagens já está sendo montado de forma discreta "para medir o impacto eleitoral de uma eventual campanha -Monti pela Itália-".
Mesmo com o mal-estar social alimentado pela recessão, o desemprego e os impostos em alta, uma pesquisa Ispo no final de novembro creditava a um eventual partido dirigido por Monti 35% das intenções de votos o que o empataria com o Partido democrata (PD, de esquerda) de Pier Luigi Bersani.
Se ele tiver que concorrer, Monti o fará "para não delapidar o conjunto de iniciativas" tomado pelo governo a um ano, em pró de uma maior cultura política e a favor dos cidadãos que já se sacrificaram tanto", cita o Corriere della Sera.
Graças à reputação internacional de "salvador da Itália", Monti poderia beneficiar de deserções no campo Berlusconi. O antigo chefe da diplomacia Franco Frattini e o prefeito de Roma Gianni Alemanno são citados como possíveis desertores.
Monti também tem o forte apoio do Vaticano e da Igreja italiana cujo chefe, o cardeal Angelo Bagnasco, elogiou nesta segunda-feira a obra do "governo técnico que abrigou a Itália contra capitulações humilhantes e altamente ariscadas".
Berlusconi parece não se importar com seu possível rival. "que ele se apresente às eleições, não tenho medo dele", disse. Mas como velho cacique político, Berlusconi sabe dos riscos de se lançar numa sexta campanha eleitoral quando as pesquisas mostram que ele não tem mais de 15% das intenções dos votos.
O chefe do PD aconselhou Monti a "ficar de fora da batalha", considerando que ele "ainda pode ser útil ao país". Da mesma maneira, Bersani, que de acordo com pesquisas seria o favorito caso Monti não entre na disputa, também falou da necessidade da esquerda "de se relacionar com Monti para o bem da Itália", o que pode significar um apoio ao posto de presidente ou de ministro da Economia.
Bruno Tabacci, deputado cristão-democrata ligado à esquerda, prevê um futuro político para Monti, mas no posto de sucessor de Giorgio Napolitano à presidência da República. "Ele poderia ser um excelente presidente já que o fato dele ser muito bem visto na Europa poderia ser uma garantia que a Itália não estaria pulando no vazio", declarou à emissora Rai News.