Alex Salmond renuncia, mas assegura um lugar na história da Escócia
LONDRES, 19 Set 2014 (AFP) - O primeiro-ministro escocês, o separatista Alex Salmond, viu seu sonho de independência evaporar e decidiu deixar para outros a missão de negociar uma maior autonomia, que lhe garantirá um lugar na história épica da Escócia.
O líder do Scottish National Party (SNP) surpreendeu mais uma vez, incluindo seus amigos, ao anunciar nesta sexta-feira que deixará a liderança do partido bem como do governo, apesar do avanço inédito do SNP no referendo de independência que acabou perdendo.
Neste contexto, a promessa de novos poderes pelo governo central de Londres é vista como prêmio de consolação.
"Acho que o partido, o parlamento e o país ficará melhor com uma nova liderança", afirmou em coletiva de imprensa, acrescentando que foi "o privilégio de minha vida" desempenhar o papel de chefe de Governo regional escocês.
"Meu tempo de dirigente quase terminou", ressaltou Salmond, visivelmente emocionado. "Mas para a Ecócia, a campanha (de independência) continua e o sonho não morrerá jamais".
Em 2000, Salmond já havia anunciado sua partida "para sempre", antes de retornar quatro anos depois.
A Escócia rejeitou a independência no referendo de quinta-feira e optou por permanecer no Reino Unido após a promessa de concessão de mais poderes ao governo regional, um desfecho recebido com alívio por Londres e pela União Europeia.
No total, 55,3% dos escoceses votaram contra a independência do Reino Unido e 44,70% a favor, segundo a apuração final.
Escocês legítimo
Salmond tem razões para estar satisfeito com o seu referendo separatista. Mesmo derrotado, conseguiu grandes concessões por parte de Londres para garantir uma maior autonomia à Escócia.
O ex-funcionário e ex-economista do Royal Bank of Scotland que abalou Londres e que fez os nacionalistas sonharem defendia um projeto para uma nação de 5,3 milhões de pessoas, um futuro distante da Inglaterra, do País de Gales e da Irlanda do Norte, fora do Reino Unido.
Ele pretendia "libertar os escoceses" de três séculos de União; romper "as algemas" que unem Edimburgo a Westminster, o Parlamento britânico em que beneficiou de um assento entre 1987 e 2010; e presidir "um dos mais menores países mais ricos do mundo".
Planejava um país que seguiria o modelo social-democrata escandinavo, membro da UE e da Otan, mas sem armas nucleares. Rico como a Noruega e a Suíça, graças ao ouro negro do petróleo do Mar do Norte e o âmbar dourado, o uísque.
Seus partidários elogiam sua determinação e habilidade política. Seus opositores o veem como arrogante, misógino e com uma propensão ao populismo.
No entanto, a imprensa britânica concorda em ver nele um dos políticos mais talentosos de sua geração.
Nascido no último dia de 1954 em um bairro de classe operária de Linlithgow, perto de Edimburgo, Alexander Elliot Anderson Salmond é um produto local puro como evidenciado por seu sotaque e bacharelado, em economia e história medieval pela prestigiosa Universidade de St. Andrews.
Sua sorte mudou em 1990, quando então deputado pelo Banff y Buchan assumiu as rédeas do marginal Partido Nacional Escocês (SNP). O converteu em centrista, quatro anos antes de Tony Blair fazer da "máquina trabalistas de perder" o glamouroso "New Labour".
David Torrance, autor de "Salmond: Against the Odds" (Salmond, contra todas as probabilidades), traça um paralelo entre os dois escoceses, dois homens mais pragmáticos do que dogmáticos. Para eles, "o que importa é o que funciona".
Em 2000, o SNP registrou um revés nas eleições para o Parlamento regional em Holyrood, recuperado pelo governo Blair, em nome da descentralização.
Alex Salmond deixou a liderança do seu partido "para sempre". "Eu mudei de ideia", disse ele com calma quatro anos depois.
Eleito primeiro-ministro regional em 2007, dominou o heterogêneo SNP com um punho de ferro. Deliberadamente provocador, lembrou que seu pai era um admirador do ditador soviético Joseph Stalin.
Em 2011, o SNP finalmente ganhou a maioria absoluta no Parlamento escocês.
Salmond, que recrutou para sua causa o ator Sean Connery e que cultiva amizade com magnatas como Rupert Murdoch e Donald Trump, exigiu um referendo. E ele conseguiu.
Anti-Westminster
De acordo com seus colegas, ele tem "um temperamento explosivo" e um senso inato de proferir as palavras mais ofensivas e contundentes. Sua piada política favorita? "Há mais pandas gigantes (dois) no Zoo de Edimburgo que deputados conservadores para a Escócia". Na verdade, apenas um sobreviveu ao tsunami SNP.
Salmond carrega contra ele o "establishment" de Westminster, como é conhecido no Parlamento britânico e no mundo político de Londres, mas nega qualquer sentimento anti-britânico. Apesar de supostamente ser republicano, prometeu manter a rainha Elizabeth como soberana.
Comunicativo, não diz nada sobre sua vida privada. Sua esposa Moira, 17 anos mais velha que ele, raramente aparece ao seu lado. O casal não tem filhos.
Suas paixões? Ama corrida de cavalos e por um tempo fez previsões para um jornal de Glasgow. Desfruta com um bom vinho Bordeaux, o curry, e é fã de futebol, torcendo para o Hearts.
Também gosta de cantar. Com uma predileção por "Scots Wha Hae", que narra a vitória escocesa sobre os ingleses na Batalha de Bannockburn, há 700 anos.
O líder do Scottish National Party (SNP) surpreendeu mais uma vez, incluindo seus amigos, ao anunciar nesta sexta-feira que deixará a liderança do partido bem como do governo, apesar do avanço inédito do SNP no referendo de independência que acabou perdendo.
Neste contexto, a promessa de novos poderes pelo governo central de Londres é vista como prêmio de consolação.
"Acho que o partido, o parlamento e o país ficará melhor com uma nova liderança", afirmou em coletiva de imprensa, acrescentando que foi "o privilégio de minha vida" desempenhar o papel de chefe de Governo regional escocês.
"Meu tempo de dirigente quase terminou", ressaltou Salmond, visivelmente emocionado. "Mas para a Ecócia, a campanha (de independência) continua e o sonho não morrerá jamais".
Em 2000, Salmond já havia anunciado sua partida "para sempre", antes de retornar quatro anos depois.
A Escócia rejeitou a independência no referendo de quinta-feira e optou por permanecer no Reino Unido após a promessa de concessão de mais poderes ao governo regional, um desfecho recebido com alívio por Londres e pela União Europeia.
No total, 55,3% dos escoceses votaram contra a independência do Reino Unido e 44,70% a favor, segundo a apuração final.
Escocês legítimo
Salmond tem razões para estar satisfeito com o seu referendo separatista. Mesmo derrotado, conseguiu grandes concessões por parte de Londres para garantir uma maior autonomia à Escócia.
O ex-funcionário e ex-economista do Royal Bank of Scotland que abalou Londres e que fez os nacionalistas sonharem defendia um projeto para uma nação de 5,3 milhões de pessoas, um futuro distante da Inglaterra, do País de Gales e da Irlanda do Norte, fora do Reino Unido.
Ele pretendia "libertar os escoceses" de três séculos de União; romper "as algemas" que unem Edimburgo a Westminster, o Parlamento britânico em que beneficiou de um assento entre 1987 e 2010; e presidir "um dos mais menores países mais ricos do mundo".
Planejava um país que seguiria o modelo social-democrata escandinavo, membro da UE e da Otan, mas sem armas nucleares. Rico como a Noruega e a Suíça, graças ao ouro negro do petróleo do Mar do Norte e o âmbar dourado, o uísque.
Seus partidários elogiam sua determinação e habilidade política. Seus opositores o veem como arrogante, misógino e com uma propensão ao populismo.
No entanto, a imprensa britânica concorda em ver nele um dos políticos mais talentosos de sua geração.
Nascido no último dia de 1954 em um bairro de classe operária de Linlithgow, perto de Edimburgo, Alexander Elliot Anderson Salmond é um produto local puro como evidenciado por seu sotaque e bacharelado, em economia e história medieval pela prestigiosa Universidade de St. Andrews.
Sua sorte mudou em 1990, quando então deputado pelo Banff y Buchan assumiu as rédeas do marginal Partido Nacional Escocês (SNP). O converteu em centrista, quatro anos antes de Tony Blair fazer da "máquina trabalistas de perder" o glamouroso "New Labour".
David Torrance, autor de "Salmond: Against the Odds" (Salmond, contra todas as probabilidades), traça um paralelo entre os dois escoceses, dois homens mais pragmáticos do que dogmáticos. Para eles, "o que importa é o que funciona".
Em 2000, o SNP registrou um revés nas eleições para o Parlamento regional em Holyrood, recuperado pelo governo Blair, em nome da descentralização.
Alex Salmond deixou a liderança do seu partido "para sempre". "Eu mudei de ideia", disse ele com calma quatro anos depois.
Eleito primeiro-ministro regional em 2007, dominou o heterogêneo SNP com um punho de ferro. Deliberadamente provocador, lembrou que seu pai era um admirador do ditador soviético Joseph Stalin.
Em 2011, o SNP finalmente ganhou a maioria absoluta no Parlamento escocês.
Salmond, que recrutou para sua causa o ator Sean Connery e que cultiva amizade com magnatas como Rupert Murdoch e Donald Trump, exigiu um referendo. E ele conseguiu.
Anti-Westminster
De acordo com seus colegas, ele tem "um temperamento explosivo" e um senso inato de proferir as palavras mais ofensivas e contundentes. Sua piada política favorita? "Há mais pandas gigantes (dois) no Zoo de Edimburgo que deputados conservadores para a Escócia". Na verdade, apenas um sobreviveu ao tsunami SNP.
Salmond carrega contra ele o "establishment" de Westminster, como é conhecido no Parlamento britânico e no mundo político de Londres, mas nega qualquer sentimento anti-britânico. Apesar de supostamente ser republicano, prometeu manter a rainha Elizabeth como soberana.
Comunicativo, não diz nada sobre sua vida privada. Sua esposa Moira, 17 anos mais velha que ele, raramente aparece ao seu lado. O casal não tem filhos.
Suas paixões? Ama corrida de cavalos e por um tempo fez previsões para um jornal de Glasgow. Desfruta com um bom vinho Bordeaux, o curry, e é fã de futebol, torcendo para o Hearts.
Também gosta de cantar. Com uma predileção por "Scots Wha Hae", que narra a vitória escocesa sobre os ingleses na Batalha de Bannockburn, há 700 anos.
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