Vázquez e Mujica, duas personalidades opostas no novo governo uruguaio
Montevidéu, 27 Fev 2015 (AFP) - Um é ex-guerrilheiro, pragmático e negociador e leva uma vida simples. O outro, médico de formação e com grande poder de domando.
José Mujica, o atual presidente uruguaio, e Tabaré Vázquez, ex-presidente reeleito para o período 2015-2020, serão duas figuras antagônicas no próximo governo.
Passados quatro anos e meio na presidência, Mujica, de 79 anos, tem aprovação de 65% e ganhou fama internacional sem precedentes para um presidente uruguaio. 'Pepe' Mujica, como é conhecido popularmente, destacou-se pela simplicidade e discursos contra o consumismo, mas sobretudo por ter promovido a regulação da maconha, além do aborto e do casamento civil entre homossexuais.
"O fenômeno Mujica em nível internacional é algo que nem o próprio Mujica esperava", disse à AFP Gerardo Caetano, doutor em História e professor no Instituto de Ciência Política da Universidade da República.
Caetano lembrou que, ao assumir a presidência, Mujica anunciou que limitaria aos "países vizinhos" as viagens ao exterior, por questões de saúde. "Mas, por diversos fatores, ele se tornou um fenômeno viral", indicou. "Ele não utiliza as redes, mas talvez seja um dos dirigentes políticos que tem maior presença no mundo virtual, a nível internacional".
De todas as formas, a sucessão de Mujica não será difícil para Vázquez, referência na esquerda local. Depois de alçar a Frente Ampla (FA, esquerda) à presidência pela primeira vez, em 2005, ele saiu do governo com uma aprovação superior a 70%.
"Faz 15 anos que Tabaré Vázquez, com altos e baixos em 2014, é de longe o político mais popular no Uruguai", enfatizou Caetano. "A popularidade de Mujica cresceu no ano passado e se estendeu internacionalmente. Mas são duas figuras cujo carisma é muito diferente, e Vázquez não vai concorrer com Mujica".
Executivo x negociador
Tabaré Vázquez é oncologista e empresário. Protagonista no crescimento da FA, foi eleito o primeiro prefeito de esquerda em Montevidéu, além de primeiro presidente uruguaio de esquerda e terceiro chefe-de-Estado no país a ser reeleito.
Mujica, no entanto, rompe com todos os fundamentos associados a um chefe-de-Estado. Isto vale desde a informalidade nas roupas que usa até a franqueza em seus discursos, o que acarretou em crises diplomáticas durante o mandato.
"Mujica é pragmático, negociador, gosta de se envolver em todos os temas. É incansável, dorme pouco, não vê qualquer problema em dizer uma coisa hoje e se desmentir amanhã. E a população o perdoa por isso", assinalou o especialista.
Por outro lado, Vázquez "é a antítese de tudo isso".
"É um homem que gosta muito de dar ordens, bastante capacitado para governar, com uma grande capacidade de decisão, diferente de Mujica, que não gosta de ser 'mandão'. O futuro presidente é um ótimo gestor, do tipo que delega tarefas, mas é ele quem dá a palavra final", acrescentou.
Enquanto isso, antes de decidir, 'Pepe' "conversa com 30 pessoas e muitas vezes toma uma decisão que muda em seguida".
Maçom e conservador, ao longo do primeiro mandato, Tabaré Vázquez vetou a legalização do aborto. O projeto foi elaborado por parlamentares filiados ao mesmo partido que ele, mas o texto só recebeu aprovação quando Mujica se elegeu.
Além disso, Vázquez manifestou divergências públicas com a lei que regulou a produção e venda de cannabis nas farmácias. Sancionada por Mujica, ainda está para ser implementada e será posta a prova durante o próximo mandato.
Parlamentar forte
Apesar das declarações de querer voltar para casa quando encerrar o mandato, Mujica foi eleito senador, em outubro, e a ala a que pertence na Frente Ampla foi a mais votada, o que reforça a força que terá durante o governo de Vázquez.
O presidente ainda em exercício admitiu que será "um parlamentar forte" no próximos cinco anos. "YE tenho absoluta consciência do peso político que tenho neste país", disse ao canal local 12.
Mas, esclareceu, pretende dar a Vázquez "o máximo de liberdade e garantias para que possa fazer uma transição sem maiores dificuldades".
Para Rafael Piñeiro, doutor en Ciência Política, a forte votação da corrente à qual Mujica é ligado na FA transforma-o em uma figura chave no próximo mandato.
Mujica, com seu perfil negociador, "vai facilitar a vida de Tabaré Vázquez, porque é um interlocutor com capacidade de articulação".
"Ainda que já tenham exposto suas divergências, os dois políticos conseguiram se entender muito bem nos últimos dez anos", destacou o pesquisador.
Gerardo Caetano acredita que o pragmatismo do atual chefe de Estado faz com que mesmo tendo o desejo de se envolver no governo de Vázquez, "não vai criar dificuldades para o sucessor".
Ele avalia que Mujica "será um facilitador de consensos".
De todas as formas, apesar da fama, a projeção internacional de Mujica estagnou, já que ele governa um país com 3,3 milhões de habitantes. "Ele não joga na 'Premier League' e sabe disso melhor do que ninguém", alertou Caetano.
José Mujica, o atual presidente uruguaio, e Tabaré Vázquez, ex-presidente reeleito para o período 2015-2020, serão duas figuras antagônicas no próximo governo.
Passados quatro anos e meio na presidência, Mujica, de 79 anos, tem aprovação de 65% e ganhou fama internacional sem precedentes para um presidente uruguaio. 'Pepe' Mujica, como é conhecido popularmente, destacou-se pela simplicidade e discursos contra o consumismo, mas sobretudo por ter promovido a regulação da maconha, além do aborto e do casamento civil entre homossexuais.
"O fenômeno Mujica em nível internacional é algo que nem o próprio Mujica esperava", disse à AFP Gerardo Caetano, doutor em História e professor no Instituto de Ciência Política da Universidade da República.
Caetano lembrou que, ao assumir a presidência, Mujica anunciou que limitaria aos "países vizinhos" as viagens ao exterior, por questões de saúde. "Mas, por diversos fatores, ele se tornou um fenômeno viral", indicou. "Ele não utiliza as redes, mas talvez seja um dos dirigentes políticos que tem maior presença no mundo virtual, a nível internacional".
De todas as formas, a sucessão de Mujica não será difícil para Vázquez, referência na esquerda local. Depois de alçar a Frente Ampla (FA, esquerda) à presidência pela primeira vez, em 2005, ele saiu do governo com uma aprovação superior a 70%.
"Faz 15 anos que Tabaré Vázquez, com altos e baixos em 2014, é de longe o político mais popular no Uruguai", enfatizou Caetano. "A popularidade de Mujica cresceu no ano passado e se estendeu internacionalmente. Mas são duas figuras cujo carisma é muito diferente, e Vázquez não vai concorrer com Mujica".
Executivo x negociador
Tabaré Vázquez é oncologista e empresário. Protagonista no crescimento da FA, foi eleito o primeiro prefeito de esquerda em Montevidéu, além de primeiro presidente uruguaio de esquerda e terceiro chefe-de-Estado no país a ser reeleito.
Mujica, no entanto, rompe com todos os fundamentos associados a um chefe-de-Estado. Isto vale desde a informalidade nas roupas que usa até a franqueza em seus discursos, o que acarretou em crises diplomáticas durante o mandato.
"Mujica é pragmático, negociador, gosta de se envolver em todos os temas. É incansável, dorme pouco, não vê qualquer problema em dizer uma coisa hoje e se desmentir amanhã. E a população o perdoa por isso", assinalou o especialista.
Por outro lado, Vázquez "é a antítese de tudo isso".
"É um homem que gosta muito de dar ordens, bastante capacitado para governar, com uma grande capacidade de decisão, diferente de Mujica, que não gosta de ser 'mandão'. O futuro presidente é um ótimo gestor, do tipo que delega tarefas, mas é ele quem dá a palavra final", acrescentou.
Enquanto isso, antes de decidir, 'Pepe' "conversa com 30 pessoas e muitas vezes toma uma decisão que muda em seguida".
Maçom e conservador, ao longo do primeiro mandato, Tabaré Vázquez vetou a legalização do aborto. O projeto foi elaborado por parlamentares filiados ao mesmo partido que ele, mas o texto só recebeu aprovação quando Mujica se elegeu.
Além disso, Vázquez manifestou divergências públicas com a lei que regulou a produção e venda de cannabis nas farmácias. Sancionada por Mujica, ainda está para ser implementada e será posta a prova durante o próximo mandato.
Parlamentar forte
Apesar das declarações de querer voltar para casa quando encerrar o mandato, Mujica foi eleito senador, em outubro, e a ala a que pertence na Frente Ampla foi a mais votada, o que reforça a força que terá durante o governo de Vázquez.
O presidente ainda em exercício admitiu que será "um parlamentar forte" no próximos cinco anos. "YE tenho absoluta consciência do peso político que tenho neste país", disse ao canal local 12.
Mas, esclareceu, pretende dar a Vázquez "o máximo de liberdade e garantias para que possa fazer uma transição sem maiores dificuldades".
Para Rafael Piñeiro, doutor en Ciência Política, a forte votação da corrente à qual Mujica é ligado na FA transforma-o em uma figura chave no próximo mandato.
Mujica, com seu perfil negociador, "vai facilitar a vida de Tabaré Vázquez, porque é um interlocutor com capacidade de articulação".
"Ainda que já tenham exposto suas divergências, os dois políticos conseguiram se entender muito bem nos últimos dez anos", destacou o pesquisador.
Gerardo Caetano acredita que o pragmatismo do atual chefe de Estado faz com que mesmo tendo o desejo de se envolver no governo de Vázquez, "não vai criar dificuldades para o sucessor".
Ele avalia que Mujica "será um facilitador de consensos".
De todas as formas, apesar da fama, a projeção internacional de Mujica estagnou, já que ele governa um país com 3,3 milhões de habitantes. "Ele não joga na 'Premier League' e sabe disso melhor do que ninguém", alertou Caetano.