Prosseguem as difíceis negociações sobre o futuro da Síria em Genebra
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Peter Morrison/AP
17.mar.2015 - Menina participa dos festejos do Dia de São Patrício, em Dublin, na Irlanda do Norte
Vladimir Putin, após sua inesperada decisão na segunda-feira de retirar grande parte de seu contingente militar da Síria, afirmou nesta quinta-feira que, se for necessário, pode "em poucas horas" reenviar seus aviões de combate ao céu sírio ou "voltar a aumentar sua presença na região".
Estas declarações refletem a fragilidade do "contexto favorável" elogiado pela ONU e que cerca no momento as negociações de Genebra.
Além disso, os curdos da Síria - atores importantes no conflito, mas descartados nestas negociações - anunciaram nesta quinta-feira o estabelecimento de uma região federal nas zonas sob seu controle no norte do país.
"O sistema federal foi aprovado para a região Rojava (Curdistão sírio)- Norte da Síria", afirmou Sihanouk Dibo, um dirigente do PYD, o principal partido curdo na Síria, após uma reunião em Rmeilan, no nordeste do país.
A unificação de três "cantões" curdos (Afrin, Kobane e Yazira), além das regiões conquistadas recentemente pelas forças curdas no norte sírio, representaria mais um passo em direção à autodeterminação.
Trata-se de algo inaceitável tanto para o regime quanto para a oposição, ambos contrários ao federalismo na Síria. Além disso, pode ter repercussões importantes na Turquia, outro ator chave do conflito sírio, que também considera o PYD terrorista.
Os curdos sírios, que controlam mais de 10% do território e três quartos da fronteira sírio-turca, não foram até o momento convidados a Genebra. Por sua vez, o governo turco, que enfrenta militarmente em seu território os rebeldes curdos, teme a ascensão de um Curdistão sírio às portas de suas fronteiras.
Os Estados Unidos, apesar de serem aliados dos curdos, advertiram na quarta-feira que não reconhecerão a criação de uma região curda autônoma nas zonas sírias que controlam.
- Legitimidade da oposição - As negociações de Genebra, retomadas na segunda-feira, se concentram nas modalidades da transição política na Síria, para sair de um conflito que em cinco anos provocou a morte de mais de 270.000 pessoas.
Mas quem está habilitado para negociar? O Alto Comitê de Negociações (ACN), que reúne vários grupos chave da oposição e que quer ser o único interlocutor da ONU, se reúne nesta quinta-feira com o emissário das Nações Unidas, Staffan de Mistura, pela segunda vez desde o início da semana.
Uma segunda delegação opositora, chamada "Grupo de Moscou e do Cairo", próxima à Rússia, foi recebida na quarta-feira por De Mistura. Diferentemente do ACN, esta delegação é tolerada pelo regime de Damasco porque não exige a saída do presidente Bashar al-Assad.
Mas o "Grupo de Moscou" é muito questionado pela oposição oficial reunida no ACN, embora espere ser tratado no mesmo nível. "Estamos aqui como negociadores", afirmou Randa Kasis, opositora laica e co-presidente do "Grupo de Moscou", após seu encontro com De Mistura.
"Queremos um processo de transição, uma solução política. Não rivalizamos com ninguém", disse Qadri Jamil, co-presidente da delegação e ex-primeiro-ministro sírio.
Por sua vez, o negociador chefe do regime sírio, o embaixador da Síria na ONU Bashar al-Jaafari, declarou na quarta-feira que "ninguém pode monopolizar o direito de representar a oposição", em alusão ao ACN.
A ONU, patrocinadora das negociações, fixou como objetivo implementar na Síria em seis meses um órgão de transição dotado de todos os poderes e organizar eleições legislativas e presidenciais nos 12 meses seguintes.
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