Governo trava dura batalha para salvar Dilma do impeachment

Em Oswiecim (Polônia)

  • Janek Skarzynski/AFP

    Jovens judeus participam da Marcha dos Vivos no campo de Auschwitz-Birkenau

    Jovens judeus participam da Marcha dos Vivos no campo de Auschwitz-Birkenau

Brasília, 17 Abr 2016 (AFP) - O governo e a oposição brasileira se enfrentaram neste sábado em uma dura batalha para garantir apoios de deputados que podem ajudar no domingo a presidente Dilma Rousseff a salvar seu mandato ou dar um golpe fatal votando pelo impeachment.

A tensão também se espalhou pelas ruas de Brasília e das principais cidades do país, onde manifestantes pró e contra impeachment preparam grandes atos, em muitos casos com telões para assistir ao vivo o desenrolar da trama vivida no Brasil e acompanhada com preocupação pelo resto do mundo.

Esse poderá ser o último capítulo de uma série dramática de episódios políticos se o pedido de impeachment não conseguir os 342 votos necessários para a abertura do processo. Caso contrário, o Senado protagonizará o grande final, decidindo definitivamente sobre o futuro da presidente.

O início da votação no plenário da Câmara está previsto para as 14H00. Cada deputado será chamado para manifestar seu voto no microfone e terá dez segundos para explicar sua posição.

Dilma é acusada de ter manipulado contas públicas para esconder a profundidade dos déficits em 2014 e no início de 2015. O governo atribui as acusações a uma conspiração liderada pelo vice-presidente Michel Temer e pelo presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha.

O jornal Folha de São Paulo aponta neste sábado a vitória do impeachment, com 347 votos. O governo contaria com 130 votos contra a abertura do processo. Dezessete deputados ainda estariam indecisos, 13 se negaram a responder e dois não foram encontrados. A última atualização da contagem do jornal Estado de São Paulo indica uma votação com 350 votos a favor e 132 contra.

Os dois veículos dizem que no Senado, que se pronunciaria nas primeiras semanas de maio, a oposição conseguiria com folga o voto da maioria dos 81 parlamentares para declarar aberto o julgamento.

Nesse caso, Dilma seria afastada do poder e substituída por Temer por até 180 dias, aguardando a decisão final do processo, obtida pela aprovação, em plenário, por dois terços (54 votos favoráveis) do Senado.

Uma cidade e um país rachadosAs forças de segurança mobilizaram milhares de efetivos para o que se anuncia um dos dias mais dramáticos da democracia brasileira.

Em Brasília, onde são esperados 300 mil manifestantes, as autoridades ergueram uma grade de metal de quase um quilômetro, dividindo em dois lados a explanada dos ministérios.

No fim da tarde, centenas de manifestantes de oposição vestindo verde amarelo cantavam e gritavam contra o governo e contra o PT no lado direito da grade.

"Fora Dilma, fora PT!", "A roubalheira do PT está acabando", cantavam.

"Os primeiros a cair serão Dilma e o PT, por toda a corrupção que montaram dentro do Estado", afirmou Carlos Arouck, funcionário público de 55 anos.

"Quando me perguntam por Cunha, sempre digo que será o segundo a cair. Michel Temer dará estabilidade ao país, porque ninnguém acredita em Dilma", acrescentou.

Em outra avenida, centenas de manifestantes do PT marcharam erguendo bandeiras vermelhas e gritando "Não vai golpe, vai ter luta!".

"Estamos aqui para defender a democracia", disse Lucy Lopes, 43 anos, professora de História de Santa Catarina.

Cálculos e adivinhaçõesCom popularidade baixa (em torno dos 10%), Dilma Rousseff contou mais uma vez com a capacidade de articulação de Lula, que alternou sua presença em manifestações contra o impeachment e reuniões.

"A palavra golpe estará sempre gravada na testa dos traidores da democracia", disse a presidente em um vídeo divulgado nas redes sociais e no qual afirma que Temer acabará com os projetos sociais, como o Bolsa Família.

Neste sábado, Dilma lembrou que Cunha e outros deputados são acusados e suspeitos de cometer crimes de corrupção. "Querem condenar uma inocente e salvam corruptos", denunciou ao jornal Folha de São Paulo.

Lula, contudo, não parece surpreso com as pesquisas de intenção de voto. "Conquistar votos é uma guerra, parece a Bolsa de Valores, sobe e desce toda hora, então temos que ficar negociando o tempo todo", explicou em um encontro com cerca de mil pessoas em um acampamento ao lado do estádio Mané Garrincha, em Brasília.

No entanto, o talento político de Lula e as possíveis promessas feitas nas negociações com deputados são enfraquecidos pela impossibilidade do ex-presidente de assumir o cargo de ministro-chefe da Casa Civil após ter tido sua posse contestada na justiça.

No plano internacional, Dilma recebeu apoio na sexta-feira do secretário da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, e neste sábado do presidente do Parlamento do Mercosul, Jorge Taiana, que denunciou as tentativas de "desestabilização" no Brasil.

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