Milhares de imigrantes chegam a Áustria e Alemanha, enquanto caos persiste na Hungria

Nickelsdorf, Áustria, 5 Set 2015 (AFP) - Milhares de imigrantes chegavam neste sábado à Áustria e à Alemanha vindos da Hungria, em meio a cenas caóticas que não eram vistas na Europa há setenta anos.

"Estamos diante de uma situação dramática. Não é uma emergência, é algo que vai durar", avaliou a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, após uma reunião de ministros das Relações Exteriores da União Europeia em Luxemburgo.

"Quanto antes aceitarmos, mais rápido poderemos responder de maneira efetiva", acrescentou.

A Áustria prevê a chegada de 10.000 imigrantes só neste sábado, dos quais muitos seguirão sua rota para a Alemanha, que espera a chegada de cerca de 7.000. Os dois países deram sinal verde para recebê-los.

"Meus dedos dos pés doem, estão sangrando. Caminhamos demais. Quero ir até a Alemanha, mas vou parar lá", contou à AFP em Viena um sírio de 26 anos, originário de Homs, no centro do país.

Centenas de imigrantes procedentes da Hungria chegaram já neste sábado à estação de Munique, no sul da Alemanha, onde são esperados mais doze outros trens pela tarde.

"Estou na fronteira com a Hungria e olho o que está acontecendo. O fluxo de pessoas continua", contou Hans Peter Doskozil, chefe da polícia do Estado de Burgenland (leste da Áustria), descrevendo um êxodo que não se via na Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial.

De Budapeste, pelo menos 500 pessoas bloqueadas há vários dias iniciaram uma caminhada até a fronteira austríaca, a 175 km, segundo constatou a AFP.

Na sexta-feira o mesmo caminho foi feito por outros 1.200 imigrantes, o que obrigou as autoridades húngaras a conduzir outros milhares de ônibus até a fronteira. Mas este sábado a polícia da Hungria já anunciou que não fretará mais ônibus para os imigrantes.

- "Gratidão aos austríacos" -Na estação de Viena, os recém-chegados, embrulhados em cobertores, e alguns com crianças adormecidas nos braços, foram recebidos por muitos voluntários com comida, bebidas, sabonetes e bilhetes de trem.

Um dos refugiados mostrava um cartaz onde era possível ler "gratidão aos austríacos".

"Depois de inúmeros exemplos de tratamento vergonhoso aos refugiados e aos imigrantes por parte de alguns governos da Europa, é um alívio ver enfim um pouco de humanidade. Mas isso está longe de ter acabado, na Hungria e na Europa", alertou um funcionário da Anistia Internacional.

O ministro húngaro das Relações Exteriores, cujo país foi porta de entrada de mais de 50.000 imigrantes em agosto, rebateu as críticas neste sábado.

"O que ocorreu na Hungria desde a noite passada é para começar a consequência do fracasso da política migratória da União Europeia", afirmou Peter Szijjarto.

Segundo ele, as "declarações irresponsáveis" da Alemanha também são culpadas - o país anunciou que não expulsará os refugiados sírios que entrarem na União Europeia.

- "Desordem" na Europa -Enquanto isso, centenas de imigrantes continuam chegando às ilhas gregas do mar Egeu oriental vindos da costa turca, de acordo com o ministério da Marinha

Na ilha de Lesbos, que recebe metade desse fluxo, houve neste sábado breves incidentes entre a polícia e os refugiados que protestavam contra a lentidão do registo, antes de partirem para Atenas, segundo imagens da TV grega.

No campo diplomático, o ministro dos Negócios Estrangeiros austríaco, Sebastian Kurz, pediu à União Europeia para "abrir os olhos" para a crise de imigração, que criou uma "desordem" no continente.

Os países da UE estão sob pressão para mostrar solidariedade depois que mais de 366.000 pessoas atravessam o Mediterrâneo até agora este ano, e mais de 2.800 morreram na tentativa, segundo a ONU.

O alto Comissario da ONU para Refugiados, Antonio Guterres, pediu na sexta-feira a repartição de pelo menos 200.000 solicitantes de asilo na União Europeia. A Comissão Europeia havia falado em 120.000 na quinta-feira.

A título pessoal, o primeiro-ministro finlandês Juha Sipilä propôs neste sábado alojar refugiados em sua casa de campo, situada a 500 quilômetros de Helsinki.

Sipilä disse esperar que seu gesto "se torne uma espécie de movimento popular" que leve outras pessoas a fazer o mesmo.

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