Espírito de Eva Perón revive em campanha eleitoral na Argentina

Em Buenos Aires

  • AP

    Imagem de outubro de 1950 mostra o então presidente argentino, Juan Perón, com sua mulher, Evita, em Buenos Aires

    Imagem de outubro de 1950 mostra o então presidente argentino, Juan Perón, com sua mulher, Evita, em Buenos Aires

Ela morreu há mais de 60 anos, mas a memória de Eva Perón segue viva na Argentina e, semanas antes das eleições presidenciais, ganhou destaque com uma sobrinha-neta que poderá integrar o próximo governo e uma das candidatas à primeira-dama que desperta comparações.

Cristina Álvarez Rodríguez se engulha de ter o sangue "da mulher que marcou este país para sempre", segundo declarou à AFP cercada pela memorabilia exposta no Museu Eva Perón, que faleceu em 1952.

Já a ex-modelo e companheira do candidato governista Danie Scioli, Karina Rabolini, inevitavelmente sofre comparações não apenas com Evita, como com a própria presidente Cristina Kirchner.

"É muito importante não tentar fazer comparações com personagens históricas. Cada uma, Cristina, Evita, ocupou em seu momento um lugar muito particular", afirmou Rodríguez.

Rabolini também é muito admirada por sua beleza, inteligência e carisma, exibidos principalmente em comícios eleitorais. "Mas cada uma tem seu selo próprio", enfatiza.

No entanto, Eva Perón, o mito, pode acabar virando peça-chave de um futuro governo de Scioli.

Rodríguez assegura que, se não vencer, retomará seu cargo de deputada nacional para acompanhar o projeto kirchnerista de Scioli, governador da província de Buenos Aires, favorito nas pesquisas para as eleições de 25 de outubro.

Foi Rodríguez que montou o museu para preservar o fenômeno Evita, em um prédio que era destinado a mães solteiras em Buenos Aires na época em que a esposa de Juan Domingo Perón era a primeira-dama da Argentina.

A história de Eva Péron se mistura com a do movimento peronista que no sábado (17) completa 70 anos.

Honra de sangue

Conhecida como defensora dos humildes, Evita dedicou-se aos direitos dos mais pobres, um elemento que continua sendo a pedra fundamental do movimento peronista.

"Sinto que é uma honra enorme ter seu sangue, tê-la em minha família, mas é uma personagem que excede; excede a todos", afirmou.

"O sangue de Eva está em todos os milhões de pessoas que a amam com loucura na Argentina e a recordam como se ainda estivesse viva", disse ainda.

Aos 47 anos, Rodríguez guarda com zelo uma pulseira que pertenceu à sua parente mais famosa, mas não lembra com exatidão como foi a primeira vez em que ouviu falar da "iluminada", como a descrevia sua bisavó, a mãe de Eva.

Sempre soube que a morte de Evita por um câncer de útero com apenas 33 anos --e apenas sete na vida pública-- foi um trauma em sua família, assim como na militância peronista, movimento que não deixa nenhum argentino indiferente.

Desde 2011 é ministra de governo da província, e defende ferrenhamente o governo Kirchner.

"O kirchnerismo parece ser um processo que honra o peronismo e é chave para o século 21", afirmou, comentando os 12 anos de projeto de centro-esquerda iniciado por Néstor Kirchner e herdado em 2007 por sua esposa, depois viúva, Cristina Kirchner.

Ecos de Evita

Carlos Fara, analista da consultora de mesmo nome, explicou que a oposição ao peronismo rejeita o mito de Evita e a critica por "ter atraído todos os males do populismo; que deu coisas sem pedir o esforço das pessoas, ideias que ainda estão arraigadas em setores da classe média".

Na Argentina, Evita é alvo de rancores e simpatias. No exterior, virou personagem pop no musical que nasceu em Londres, em 1978.

"Acho que, além do partido político, Eva Perón foi um grande exemplo para todos", afirma Rabolini, evitando mencionar as semelhanças de atitude que muitos veem entre as duas.

Segundo Kirchner, Evita continua exercendo um profundo fascínio. "Suas ideias, seus gestos, suas ações, suas convicções, os direitos que deu ao povo continua sendo hoje mais fortes do que nunca", declarou, ao inaugurar, em abril, uma mostra dedicada a Eva Perón no Museu Histórico de Moscou.

"Nunca compreenderam e, o que é muito pior, há alguns que ainda continuam sem compreender", conclui Kirchner.

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