Morre o oficial que anunciou sem querer a queda do Muro de Berlim
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José Giribás/EFE
Günter Schabowski era jornalista e ex-porta-voz do comitê central do Partido Socialista Unificado da Alemanha
Algumas palavras improvisadas fizeram com que entrasse para a história: Günter Schabowski, o oficial da Alemanha Oriental que, sem querer, anunciou a queda do Muro de Berlim em 1989, morreu neste domingo, aos 86 anos.
O jornalista e ex-porta-voz do comitê central do Partido Socialista Unificado da Alemanha, que dirigia então a RDA, morreu dias antes do aniversário de 26 anos da abertura da fronteira entre as duas partes de Berlim.
"Não diria que eu fui o herói que abriu a fronteira: na verdade, tentei agir para tentar salvar o sistema da RDA", confidenciou Schabowski em 2009, recordando os minutos que mudaram a Alemanha.
Em 9 de novembro de 1989, o secretário-geral do Partido, Egon Krenz, informou aos dirigentes do regime que havia sido adotada uma nova legislação sobre as viagens dos alemães do Leste, depois de meses de protestos em massa e um êxodo crescente para o Oeste, via a Hungria.
Às 18H00 local, Schabowski apresentava ante a imprensa internacional as últimas decisões do regime, mas sem mencionar a abertura das fronteiras, e esperando "evitar questões".
Em resposta a uma pergunta, o porta-voz lê um documento que anuncia que os vistos para viajar ou imigrar para o exterior seriam entregues "sem condições prévias ou razões familiares".
"A partir de quando?", perguntou um jornalista.
Schabowski hesita e depois improvisa: "Pelo que sei... em seguida, imediatamente". Os jornalistas saem correndo da sala para divulgar a informação: "Os alemãs orientais podem viajar para o exterior a partir de agora".
Uma multidão começa a se reunir ante o posto de fronteira de Bornholmer Strasse, que conectava Berlim Oriental com Berlim Ocidental. Mas os guardas, confusos, não sabem se devem deixá-los passar ou não.
Às 22h42, a televisão pública do ocidente anuncia: "Este 9 de novembro é um dia histórico. As portas do Muro estão abertas de par em par".
Às 22h30, no Bornholmer Strasse, um oficial acaba por dar a ordem: "Abram a fronteira!"
A multidão se lança para Berlim Ocidental. Alemães dos dois lados, eufóricos, comemoraram com abraços.
O muro cai em poucos dias, precipitando a queda do regime do leste-alemão.
Günter Schabowski não poderia ter previsto nada igual. "Em 9 de novembro eu ainda era um comunista", confiou vinte anos mais tarde a jornalistas estrangeiros.
Decisão 'tática'"Abrir o Muro não foi uma decisão humanista, mas tática, tomada sob a pressão da população. A existência da RDA estava em perigo. Entre 300 e 500 pessoas estavam fugindo a cada dia, era uma hemorragia. Tínhamos que fazer alguma coisa para nos tornar popular", explicou.
Schabowski, considerado um "traidor" pelo mais fervorosos de seus ex-colegas e chamado de "arrependido tardio" pelo Frankfurter Allgemeine Zeitung, é um dos poucos líderes da Alemanha Oriental que se afastou do regime.
Nascido em 4 janeiro de 1929 em Anklam (norte) de um pai encanador e uma mãe empregada doméstica, escreveu por quase 20 anos em um jornal sindical antes de subir todos os níveis do SED e integrar em 1984 o seu bureau político.
No outono de 1989, foi o único membro do Politburo a ir ao encontro dos manifestantes que, depois de marcharem pelas ruas de Leipzig cantando "Nós somos o povo!", eram mais de meio milhão na Alexanderplatz, em Berlim Oriental, em 4 de novembro.
Julgado em 1997 por seu papel no tiroteio contra os fugitivos que tentavam atravessar a cortina de ferro, no último grande julgamento de ex-dirigentes da RDA, reconheceu sua "responsabilidade moral" e pediu desculpas às vítimas.
Preso no final de 1999, ele foi perdoado menos de um ano mais tarde.