França usa força militar e diplomática para atacar EI em todas as frentes

Em Paris (França)

Em uma batalha em todas as frentes, militar e diplomática, o presidente da França, François Hollande, recebeu nesta terça-feira (17) o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, e viajará na próxima semana a Washington e Moscou para debater com os presidentes Barack Obama e Vladimir Putin a formação de uma coalizão contra o Estado Islâmico na Síria.

Nesta terça-feira, a França realizou 128 operações de busca e apreensão em todo o país e bombardeou novamente um reduto do EI em território sírio, na região de Raqqa. Caças franceses atacaram a cidade pela segunda noite consecutiva, onde, segundo autoridades, destruíram um centro de comando e um campo de treinamento.

Na embaixada norte-americana, iluminada com as cores da bandeira francesa, Kerry destacou a "determinação" dos dois países de "combater e derrotar juntos" os "monstros psicopatas" do EI. A França é um dos países que participam da coalizão internacional liderada pelos EUA no Iraque e na Síria contra o Estado Islâmico.

A União Europeia (UE) garantiu apoio unânime ao pedido de ajuda militar da França, que advertiu que "não pode estar sozinha nos cenários de operações" contra jihadistas. 

As ações militares francesas devem ser intensificadas com a chegada à região do porta-aviões francês "Charles de Gaulle", que zarpará na quinta-feira para Síria e Líbano com 26 caças a bordo, o que triplicará a capacidade de ação do país no Oriente Médio.

 

Em território nacional, as forças de segurança francesas dão prosseguimento às operações dentro do estado de emergência decretado na França após os atentados de sexta-feira (13). De acordo com informações do ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, além das 128 operações realizadas de ontem para hoje, outras 168 ações tinham sido feitas na noite anterior.

A investigação sobre os ataques que deixaram 129 mortos e mais de 350 feridos na casa de espetáculos Bataclan, nos arredores do Stade de France e em vários bares e restaurantes em Paris conseguiu identificar, até o momento, cinco dos sete homens-bomba que morreram nos atentados. E continuam as buscas pelo possível oitavo autor dos atentados, Salah Abdeslam.

Nesta terça-feira, o ministério do Interior da Áustria informou que Abdeslam passou por um posto de controle em 9 de setembro no país. A identidade do francês foi verificada em um controle de rotina em Haute-Autriche, pouco depois de ele atravessar a fronteira com a Alemanha de carro, ao lado de outros dois homens, segundo o ministério.

"Ainda não sabemos se há cúmplices do massacre na França ou na Bélgica", afirmou o primeiro-ministro francês Manuel Valls, antes de reconhecer que as autoridades não têm certeza sobre o número de pessoas envolvidas.

Os atentados foram "decididos e planejados na Síria, preparados e organizados na Bélgica e executados na França, com cúmplices franceses", havia afirmou Hollande na véspera, perante o Parlamento francês.

Os homens-bomba identificados até o momento são franceses, mas um deles tinha um passaporte sírio, que ainda precisa ter a autenticidade comprovada. O documento, em nome de Ahmad al-Mohammad, foi registrado na Grécia, na ilha de Leros, em posse de um migrante, em 3 de outubro, cujas impressões digitais seriam compatíveis com as do terrorista, segundo algumas fontes da promotoria de Paris.

Uma fonte próxima à investigação disse que o nome no passaporte sírio, encontrado ao lado do corpo do homem-bomba, também pode ser de um soldado sírio morto há vários meses. Em nome de um homem nascido em 10 de setembro de 1990 em Idleb (noroeste da Síria), o documento corresponderia ao de um soldado das tropas leais ao presidente sírio Bashar al-Assad, segundo a fonte, que cita duas hipóteses: o passaporte foi recuperado ou trata-se de um documento fabricado a partir de uma identidade verdadeira.

A polícia também investiga um jihadista belga que viveria na Síria, Abdelhamid Abaaoud, e não descarta que ele tenha sido o "inspirador" dos atentados. Abaaoud, 28, apareceu em vários vídeos de propaganda do EI.

Na segunda-feira, a Bélgica elevou a 3 o nível de alerta terrorista no país, o que implica uma ameaça possível e provável de atentados. Em consequência, o amistoso que seria disputado nesta terça-feira em Bruxelas entre Espanha e Bélgica foi cancelado.

O ministro francês dos Esportes, Patrick Kanner, descartou nesta terça-feira a possibilidade de o país abrir mão de organizar a Eurocopa-2016 após os ataques, durante uma visita ao Stade de France.

A ameaça à segurança levou Hollande a solicitar ao Parlamento a prorrogação do estado de emergência por três meses e a anunciar a criação de 5.000 postos adicionais na polícia e nas forças de segurança, 2.500 na Justiça e 1.000 na Alfândega.

Também prometeu uma reforma constitucional para "poder atuar contra o terrorismo de guerra" e administrar a crise.

Entre os projetos estão a retirada da nacionalidade de pessoas nascidas na França em caso de terrorismo e a imposição de um "visto de retorno" aos cidadãos "potencialmente envolvidos" com redes jihadistas que voltam da Síria e do Iraque.

Entre outras propostas o governo francês sugere instalar detectores de metais em todas as estações ferroviárias do país, do mesmo tipo que existem nos aeroportos.

As medidas impedirão que a França, advertiu Valls, cumpra os critérios fiscais exigidos pela UE, que limitam o déficit ao máximo de 3% do PIB.

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