Crise da UE põe em xeque modelos de integração do Mercosul, dizem especilistas
Paris, 29 Fev 2016 (AFP) - As muitas crises enfrentadas pela União Europeia (UE) questionam seu valor como modelo do Mercosul para a integração regional e poderá afetar as negociações de livre comércio entre os dois blocos, apontam analistas.
A UE enfrenta os efeitos combinados de três crises: econômica, migratória e de segurança, sintetiza Nicolás Albertoni, especialista da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos.
"A solução para estes três problemas requer receitas completamente diferentes entre si, e os europeus estão tentando unificar essas opções em uma fórmula (...) que permita resolver todos esses problemas", disse Albertoni à AFP de Washington.
O Mercosul, integrado por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela, pode aprender com esse processo, reduzindo as expectativas em torno da integração para "quem sabe construir algo mais relativizado".
"É provável que essa crise conduza a um Mercosul de baixa intensidade, um Mercosul mais flexível, um Mercosul com outras regras", disse à AFP Mauricio Claveri, da consultoria Abeceb, con sede em Buenos Aires.
Aliança do Pacífico, outro modeloDepois do risco de "Grexit" (saída da Grécia) por causa da crise da dívida, a UE enfrenta agora a ameaça de uma "Brexit", se os eleitores britânicos se pronunciarem no referendo do dia 23 de junho pela saída do Reino Unido do bloco.
"Nós não coligamos Estados, nós unimos pessoas", afirmou Jean Monnet, um dos fundadores da UE.
Esses ideais, entretanto, parecem em vias de extinção pelos desacordos em temas estratégicos, como a repartição da onda de refugiados que chegam à Europa fugindo da guerra na Síria ou pela negativa do primeiro-ministro David Cameron em conceder a trabalhadores de outros países europeus as mesmas benefícios sociais dados aos britânicos.
Outros analistas lembram que o Mercosul e outros processos de integração regional já estavam estagnados, com ou sem modelo europeu.
"Com independência da evolução da UE, os processos de integração regional na América Latina estão em crise e evocar o modelo da UE é mera retórica", afirma Carlos Malamud, catedrático de História da América e analista do Real Instituto Elcano, de Madri.
"Desde o começo do século XXI, a integração latino-americana apostou mais na concertação política do que no comércio e na economia, e isso já pressupunha que a UE deixava de ser um modelo de integração", expôs Malamud em declaração à AFP.
A Aliança do Pacífico (Chile, México, Colômbia e Peru) preferiu apostar nos intercâmbios comerciais, renunciando outras ambições.
"Se a Aliança do Pacífico recuperar a centralidade do comércio e da economia para a integração, esse projeto afeta um número limitado de países e não pretende ser mais do que é", declarou Malamud.
Para Claveri, a situação atual da UE terá "uma incidência no processo de negociação" entre o Mercosul e o bloco europeu, que começou em 2000, foi suspenso durante seis anos e retomado em 2010.
"Em uma situação de crise é muito difícil que países como França e Polônia façam concessões no tema agrícola", afirmou.
Para Albertoni, enquanto a América Latina está voltada para a UE, os europeus estão concentrados em seus próprios problemas.
A UE enfrenta os efeitos combinados de três crises: econômica, migratória e de segurança, sintetiza Nicolás Albertoni, especialista da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos.
"A solução para estes três problemas requer receitas completamente diferentes entre si, e os europeus estão tentando unificar essas opções em uma fórmula (...) que permita resolver todos esses problemas", disse Albertoni à AFP de Washington.
O Mercosul, integrado por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela, pode aprender com esse processo, reduzindo as expectativas em torno da integração para "quem sabe construir algo mais relativizado".
"É provável que essa crise conduza a um Mercosul de baixa intensidade, um Mercosul mais flexível, um Mercosul com outras regras", disse à AFP Mauricio Claveri, da consultoria Abeceb, con sede em Buenos Aires.
Aliança do Pacífico, outro modeloDepois do risco de "Grexit" (saída da Grécia) por causa da crise da dívida, a UE enfrenta agora a ameaça de uma "Brexit", se os eleitores britânicos se pronunciarem no referendo do dia 23 de junho pela saída do Reino Unido do bloco.
"Nós não coligamos Estados, nós unimos pessoas", afirmou Jean Monnet, um dos fundadores da UE.
Esses ideais, entretanto, parecem em vias de extinção pelos desacordos em temas estratégicos, como a repartição da onda de refugiados que chegam à Europa fugindo da guerra na Síria ou pela negativa do primeiro-ministro David Cameron em conceder a trabalhadores de outros países europeus as mesmas benefícios sociais dados aos britânicos.
Outros analistas lembram que o Mercosul e outros processos de integração regional já estavam estagnados, com ou sem modelo europeu.
"Com independência da evolução da UE, os processos de integração regional na América Latina estão em crise e evocar o modelo da UE é mera retórica", afirma Carlos Malamud, catedrático de História da América e analista do Real Instituto Elcano, de Madri.
"Desde o começo do século XXI, a integração latino-americana apostou mais na concertação política do que no comércio e na economia, e isso já pressupunha que a UE deixava de ser um modelo de integração", expôs Malamud em declaração à AFP.
A Aliança do Pacífico (Chile, México, Colômbia e Peru) preferiu apostar nos intercâmbios comerciais, renunciando outras ambições.
"Se a Aliança do Pacífico recuperar a centralidade do comércio e da economia para a integração, esse projeto afeta um número limitado de países e não pretende ser mais do que é", declarou Malamud.
Para Claveri, a situação atual da UE terá "uma incidência no processo de negociação" entre o Mercosul e o bloco europeu, que começou em 2000, foi suspenso durante seis anos e retomado em 2010.
"Em uma situação de crise é muito difícil que países como França e Polônia façam concessões no tema agrícola", afirmou.
Para Albertoni, enquanto a América Latina está voltada para a UE, os europeus estão concentrados em seus próprios problemas.