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Um dia no Aquarius, navio fretado para resgatar migrantes no Mediterrâneo

25/05/2016 14h52

A bordo do Aquarius, 25 Mai 2016 (AFP) - Brilha o sol, o mar está tranquilo e uma leve brisa chega da costa líbia, visível à distância, quando a tripulação do "Aquarius" recebe o primeiro alerta: um barco com migrantes está passando por dificuldades. Começa outro dia de resgates.

"Hoje vamos ficar sobrecarregados", assegura Alexander Moroz, capitão bielorrusso do barco fretado pelas ONGs SOS Mediterrâneo e Médicos sem Fronteiras (MSF) para ajudar as precárias embarcações.

Mais de 3.000 migrantes foram socorridos na terça-feira (24) na costa da Líbia, elevando o número total para 5.600 socorridos nas últimas 48 horas.

Na manhã de terça-feira, menos de dois dias depois de sua partida da Sicília, o "Aquarius" é enviado para cuidar dos passageiros de uma lancha avistada a uma hora e meia de navegação.

No passadiço, a equipe de resgate do SOS Mediterrâneo se prepara. O "Aquarius, que faz patrulhas desde o fim de fevereiro, já socorreu mais de um milhão de migrantes. Seu pessoal faz rotações de três a seis semanas, e muitos acabaram de chegar.

"Nunca chegamos a ter experiência suficiente para estar pronto diante de qualquer eventualidade", murmura Christian Bahlke, o chefe da missão. Com 59 anos, já trabalha no mar há muito tempo e encontra aqui a forma de combinar esta experiência com o desejo de fazer algo diante dos diversos dramas dos migrantes.

Se passaram poucos minutos das 10H00. A embarcação está à vista. Apenas uma fina linha branca na enorme extensão azul...

"Aqui, no fim a vida"Outro barco já havia distribuído coletes salva-vidas aos seus ocupantes e avisa que tem uma criança doente, um pequeno camaronês de dois anos, faminto, desidratado e que sofre de uma pneumonia que preocupa a equipe médica do MSF.

Rapidamente, o Aquarius retorna com outras 15 crianças, algumas muito pequenas, que serão colocadas em uma parte do barco e tentarão tranquilizá-las à espera de suas mães, que irão chegar na próxima rotação.

No fim chegam estas mulheres, descalças, exaustas, e são levadas ao interior. Rapidamente os barcos trazem os homens, alguns muito debilitados. Eles devem se instalar na ponte. Franck Kameni, camaronês de 29 anos, acaricia Josué, seu filho de 11 meses. Fala sobre os sequestros que ocorreram durante os meses que esteve na Líbia. "Aqui, no fim a vida, no fim, somos homens outra vez", sussurra.

Ele é interrompido pelo som de um helicóptero da marinha italiana que vem buscar a criança doente, agora em estado crítico.

Angelina Perri, uma parteira italiana, se agita em meio às crianças. Mary Jo Frawley, enfermeira californiana, distribui remédios para enjoo. Ambas são veteranas e já viveram diversas crises, do Sudão ao Nepal, passando pela ilha de Lampedusa, entre a Líbia e a Sicília, ou pelos centros de cuidado com os doentes do Ebola.

No passadiço, o capitão se prepara para ligar os motores: a guarda costeira italiana - que coordena todos os resgates - pediram ao Aquarius que recolha os migrantes resgatados horas antes por um rebocador de uma plataforma vizinha no mar.

Ali também há muitas mulheres e crianças. Todos são originários do oeste da África ou do Chifre da África, e estão esgotados. Jamais o Aquarius recebeu tanta gente ao mesmo tempo a bordo.

Às 19H30, quando todos estão no barco, o capitão explica aos guarda-costas que com um total de 385 passageiros, o Aquarius já está completo.

Em uma das telas do posto de comando aparece um novo mapa: o porto de Cagliari, que acabar de designar ao Aquarius que desembarque todos os homens, mulheres e crianças que buscam uma nova vida. Serão mais dois dias de navegação.