Síria acusa Israel de disparar mísseis perto de Damasco
A Síria acusou seu vizinho, Israel, de ter atacado nesta quinta-feira (27) uma posição militar perto do aeroporto internacional de Damasco, um bombardeio que provocou uma enorme explosão.
Israel, que raras vezes confirma seus numerosos ataques lançados em território sírio desde o início da guerra, em 2011, deu a entender que pode ser o autor do bombardeio.
Caso o envolvimento de Israel seja confirmado, este seria o segundo ataque do país em quatro dias contra alvos na Síria, onde o Hezbollah - um de seus grandes inimigos - luta ao lado do regime de Bashar al-Assad contra rebeldes e jihadistas.
"Uma posição militar a sudoeste do aeroporto internacional de Damasco foi alvo ao amanhecer de uma agressão israelense com vários mísseis disparados a partir dos territórios ocupados (Israel, no jargão do regime sírio), provocando explosões", afirmou a agência Sana citando uma fonte militar.
Os disparos provocaram "danos materiais", acrescentou, sem informar se era uma posição do exército sírio.
O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) informou, por sua vez, que um depósito de munições, muito provavelmente pertencente ao Hezbollah libanês, explodiu perto do aeroporto internacional, situado a 25 km de Damasco.
Segundo Al Manar, a televisão do Hezbollah, a explosão ocorreu de madrugada "em vários depósitos de combustível e um armazém do aeroporto internacional de Damasco e provavelmente foi provocada por um ataque aéreo israelense".
Em Israel, o ministro da Inteligência, Israel Katz, declarou que o suposto ataque era coerente com a política israelense, sem confirmar a responsabilidade de seu país.
À tarde, o exército israelense anunciou ter derrubado um "objetivo" acima das colinas do Golã ocupado, sem dar maiores detalhes, como a origem da aeronave.
Bola de fogo
O aeroporto internacional de Damasco fica 25 km a sudeste de Damasco, reduto do regime de Assad.
Uma testemunha que vive em um bairro do sudeste da capital, Dawwar al Baytara, contou à AFP ter ouvido uma grande explosão.
"Às 04h00 da manhã, ouvi uma enorme explosão, corri para a varanda e, ao olhar para o aeroporto, vi uma enorme bola de fogo", relatou Maytham, de 47 anos. "A eletricidade foi cortada. A bola de fogo era bem visível", acrescentou.
A Rússia, principal aliada de Damasco, pediu em um comunicado moderação a todos os países, e advertiu sobre um "aumento da tensão" na Síria, segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Israel está preocupado com a presença na Síria do Hezbollah, um de seus principais adversários, que tem o apoio do Irã, que apoia militarmente o regime de Bashar al-Assad.
Em 17 de março, Israel e Síria tiveram o incidente mais grave em muitos anos. Um ataque israelense perto de Palmira (centro) contra alvos que o governo de Israel afirma que estavam relacionados com o Hezbollah provocou uma resposta antiaérea das forças sírias e um disparo de míssil, interceptado quando se dirigia ao território israelense.
"Linhas vermelhas"Israel Katz recordou, então, o que Israel considera como "linhas vermelhas": impedir a transferência de armamentos sofisticados ao Hezbollah e a abertura de uma frente perto do território israelense.
O último bombardeio israelense na Síria remonta a domingo. Três milicianos leais ao regime morreram em um bombardeio israelense contra seu acampamento na localidade de Quneitra, nas colinas de Golã. O exército israelense também se negou, então, a fazer qualquer comentário.
Em 13 de janeiro, Damasco acusou Israel de ter bombardeado o aeroporto militar de Mazze, a oeste da capital, o que provocou incêndios. Neste aeroporto fica o serviço de inteligência da Aeronáutica.
Em 2016, vários mísseis israelenses atingiram os arredores desta base militar, segundo a imprensa estatal síria.
Também no ano passado, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu admitiu que Israel atacou dezenas de comboios de armas destinadas ao Hezbollah na Síria.
Os dois países estão oficialmente em guerra há décadas. Israel e Líbano, vizinho da Síria, tecnicamente também estão em guerra.
Segundo uma entrevista concedida na quarta-feira à emissora de TV venezuelana, Telesur, e publicada nesta quinta-feira pela agência oficial síria Sana, o presidente Assad afirmou estar em negociações com Moscou para adquirir a última geração de um sistema antimísseis com o objetivo de fazer frente aos ataques, principalmente os de Israel.
Iniciada em março de 2011, a guerra na Síria deixou 320.000 mortos. Tornou-se cada vez mais complexa, já que envolve o regime, rebeldes, extremistas e diferentes forças regionais, assim como potências internacionais.
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