Em Mossul, as vidas destroçadas das mulheres da Cidade Antiga
Mossul, Iraque, 9 Jul 2017 (AFP) - Em Mossul, cidade que acaba de ser libertada pelo Exército iraquiano, os mais fracos pagam a sua sobrevivência a preços elevados. Como as centenas de mulheres e crianças libertadas do jugo do grupo Estado Islâmico (EI), inconsoláveis.
Nos arredores da Cidade Antiga, onde o ressoar dos tiros das armas automáticas e explosões de morteiros continua, quinze mulheres e cerca de cinquenta crianças esperam em fila em uma calçada na sombra para se proteger de um sol escaldante.
Os militares acabam de trazê-las de Maidan, último bairro onde os extremistas do EI resistiam às forças iraquianas, que acabam de anunciar sua vitória após oito meses de combates.
Fátima explode em lágrimas ao contar sobre os quatro meses passados com sua família sem "quase nenhuma comida ou água" em um porão, monitorado pelo EI, rezando para não ser bombardeado.
Naquela mesma manhã, quando a rua parecia ter sido libertada pelo Exército, voltaram a ver o céu e caminharam para a liberdade. Uma bala atingiu Ahmad, o irmão de Fátima. Ele foi levado em uma ambulância.
Outra mulher soluçava, prostrada, olhando para o céu. Ao deixar a Cidade Antiga de Mossul, Liqaa deixou para trás o corpo de seu irmão Ibrahim, também atingido por um franco-atirador jihadista.
Ela começa a cantar o nome de Ibrahim e procura consolo em sua vizinha, que não pode lhe dar: Fátima, já cheia de lágrimas.
Algumas mulheres esperam o retorno de seus maridos, alguns dos quais são controlados pelos militares encarregados de rastrear os jihadistas que tentam fugir. As outras, já viúvas, não esperam por mais ninguém.
Compassivos, os soldados e trabalhadores humanitários distribuem bolos, água, suco de laranja e frutas para as crianças, que muitas vezes chegam desidratadas.
"Duzentas e cinquenta pessoas deslocadas chegaram aqui hoje", explica sob condição de anonimato um funcionário de uma ONG local, que lhes dá comida. Segundo ele, "um quarto está ferido, a maioria por tiros de franco-atiradores ou morteiros jihadistas".
Os deslocados internos que não têm parentes na região serão enviados para campos fora da cidade. A ONU afirma que cerca de 915.000 pessoas fugiram da cidade desde o início da batalha de Mossul em outubro, dos quais 700.000 continuam deslocadas.
- 'Não chore, mamãe' -Na calçada, uma menina de cerca de 3 anos vagueia perdida. Cabelo castanho desgrenhado, túnica azul-turquesa e atadura branca no pescoço, ela aperta contra o seu coração uma pequena garrafa de água meio vazia.
"Quem é essa criança?", grita um soldado. Ao redor, as mulheres choram demais para responder.
Um pouco mais adiante, uma jovem mãe, túnica preta e um véu azul, agacha-se contra uma parede. Primeiro prostrada e silenciosa, depois seu corpo se contorce pela dor na calçada. Ela implora o soldado mais próximo para ouvir sua angústia.
Uma hora antes, ela perdeu seu filho de 7 anos de idade em um bombardeio quando a família, escondida há vários meses, preparava-se para fugir. "Eu não pude fazer nada", ela grita, desfigurada pela dor.
Para apoiá-la, sua filha mais velha de 10 anos, de pé ao seu lado, enxuga suas lágrimas. "Não chore, mamãe", diz ela. Sua túnica bordeaux com pequenos padrões multicoloridos está manchada com o sangue de seu irmão.
Seu rosto bonito, congelado, parece ter perdido toda a inocência. A batalha de Mossul acaba de roubar sua infância.
Na calçada oposta, Samira, de cerca de vinte anos, abraça em seu colo suas duas filhas, com medo e cobertas de fuligem. Ela tenta acalentar seu bebê de poucas semanas, que tem a tez acinzentada e não se move.
"O EI atirava contra nós sempre que tentávamos sair. E lá fora, eram os bombardeios. Foi terrível", afirma, tremendo.
O bebê começa a chorar, como retornando à vida, sob o olhar aliviado dos socorristas. Ele teve muita sorte: não terá lembranças da terrível batalha de Mossul.
Nos arredores da Cidade Antiga, onde o ressoar dos tiros das armas automáticas e explosões de morteiros continua, quinze mulheres e cerca de cinquenta crianças esperam em fila em uma calçada na sombra para se proteger de um sol escaldante.
Os militares acabam de trazê-las de Maidan, último bairro onde os extremistas do EI resistiam às forças iraquianas, que acabam de anunciar sua vitória após oito meses de combates.
Fátima explode em lágrimas ao contar sobre os quatro meses passados com sua família sem "quase nenhuma comida ou água" em um porão, monitorado pelo EI, rezando para não ser bombardeado.
Naquela mesma manhã, quando a rua parecia ter sido libertada pelo Exército, voltaram a ver o céu e caminharam para a liberdade. Uma bala atingiu Ahmad, o irmão de Fátima. Ele foi levado em uma ambulância.
Outra mulher soluçava, prostrada, olhando para o céu. Ao deixar a Cidade Antiga de Mossul, Liqaa deixou para trás o corpo de seu irmão Ibrahim, também atingido por um franco-atirador jihadista.
Ela começa a cantar o nome de Ibrahim e procura consolo em sua vizinha, que não pode lhe dar: Fátima, já cheia de lágrimas.
Algumas mulheres esperam o retorno de seus maridos, alguns dos quais são controlados pelos militares encarregados de rastrear os jihadistas que tentam fugir. As outras, já viúvas, não esperam por mais ninguém.
Compassivos, os soldados e trabalhadores humanitários distribuem bolos, água, suco de laranja e frutas para as crianças, que muitas vezes chegam desidratadas.
"Duzentas e cinquenta pessoas deslocadas chegaram aqui hoje", explica sob condição de anonimato um funcionário de uma ONG local, que lhes dá comida. Segundo ele, "um quarto está ferido, a maioria por tiros de franco-atiradores ou morteiros jihadistas".
Os deslocados internos que não têm parentes na região serão enviados para campos fora da cidade. A ONU afirma que cerca de 915.000 pessoas fugiram da cidade desde o início da batalha de Mossul em outubro, dos quais 700.000 continuam deslocadas.
- 'Não chore, mamãe' -Na calçada, uma menina de cerca de 3 anos vagueia perdida. Cabelo castanho desgrenhado, túnica azul-turquesa e atadura branca no pescoço, ela aperta contra o seu coração uma pequena garrafa de água meio vazia.
"Quem é essa criança?", grita um soldado. Ao redor, as mulheres choram demais para responder.
Um pouco mais adiante, uma jovem mãe, túnica preta e um véu azul, agacha-se contra uma parede. Primeiro prostrada e silenciosa, depois seu corpo se contorce pela dor na calçada. Ela implora o soldado mais próximo para ouvir sua angústia.
Uma hora antes, ela perdeu seu filho de 7 anos de idade em um bombardeio quando a família, escondida há vários meses, preparava-se para fugir. "Eu não pude fazer nada", ela grita, desfigurada pela dor.
Para apoiá-la, sua filha mais velha de 10 anos, de pé ao seu lado, enxuga suas lágrimas. "Não chore, mamãe", diz ela. Sua túnica bordeaux com pequenos padrões multicoloridos está manchada com o sangue de seu irmão.
Seu rosto bonito, congelado, parece ter perdido toda a inocência. A batalha de Mossul acaba de roubar sua infância.
Na calçada oposta, Samira, de cerca de vinte anos, abraça em seu colo suas duas filhas, com medo e cobertas de fuligem. Ela tenta acalentar seu bebê de poucas semanas, que tem a tez acinzentada e não se move.
"O EI atirava contra nós sempre que tentávamos sair. E lá fora, eram os bombardeios. Foi terrível", afirma, tremendo.
O bebê começa a chorar, como retornando à vida, sob o olhar aliviado dos socorristas. Ele teve muita sorte: não terá lembranças da terrível batalha de Mossul.
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